Gus Von Toteles 25/01/2023
Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém
Talvez o livro mais importante do filósofo Nietzsche seja uma obra mais literária do que filosófica.
No filme As I Was Moving Ahead Occasionally I Saw Brief Glimpses of Beauty, do cineasta Jonas Mekas, onde, em uma das cenas, os amigos do cineasta debatem como analisar a obra de Nietzsche, um deles expõe a ideia de que deve ser lida a partir da percepção literária. Até então, nenhuma das obras de Nietzsche que li correspondia a essa visão, porém, agora vejo que Assim Falou Zaratustra lança luz sobre esse Nietzsche literário, distanciando-se das demais obras do autor e até mesmo de outros livros do mesmo gênero.
O livro conta a jornada de um sábio que, após trinta anos de isolamento em uma montanha, decide voltar a viver entre os homens e a espalhar ensinamentos. Os discursos de Zaratustra apresentam uma crítica à sociedade ocidental, predominantemente cristã, onde Nietzsche apresenta uma resposta à questão filosófica anteriormente colocada por Dostoiévski "Se Deus não existe, tudo é permitido". Adicionalmente, Zaratustra apresenta também uma resposta à morte de Deus, criando o conceito de Übermensch, que seria um homem elevado em sua moral que virá após a queda do cristianismo como antítese do niilismo.
Ao ser analisada de forma literária, esta história que tinha que ser complicada, torna-se mais leve, porque de facto Nietzsche quis passar como se fosse uma canção onde todos podemos aprender a dançar, pois em Ecce homo Nietzsche já dizia "talvez se possa ver o Zaratustra inteiro como música".