Procyon 01/10/2023
Rei Lear ? comentário
?Eis a sublime estupidez do mundo, quando nossa fortuna está abalada - muitas vezes pelos excessos de nossos próprios atos - culpamos o sol, a lua e as estrelas pelos nossos desastres; como se fossemos canalhas por necessidade, idiotas por influência celeste, escroques, ladrões e traidores por comando do zodiaco, bêbados, mentirosos e adúlteros por forçada obediência a determinações dos planetas; como se toda a perversidade que há em nós fosse pura instigação divina.?
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?Se concedermos à natureza humana apenas o que lhe é essencial, a vida do homem vale tão pouco quanto a do animal.?
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?Desgraçado do tempo em que os loucos guiam os cegos.?
Rei Lear foi minha primeira experiência com William Shakespeare. A tragédia mostra a decadência de um rei ancião que é traído pela sua prole. A peça de tom sombrio demonstra bem as relações de poder e a soberba do rei da Bretanha, demonstrando questões como a adulação, a confiança, os conflitos com o amor, a morte e a loucura; além de ensinamentos a respeito de maturidade e sabedoria, na medida em que expõe a inversão de posições num espaço violento e adoecido (isto é, de país que enterram filhas, ou de ?loucos que guiam cegos?).
Inicialmente, eu planejava iniciar com Romeu e Julieta, mas, na época em que li o livro, assisti ao monumental Ran (1985), obra-prima de Akira Kurosawa, e que se baseia abundantemente nesta peça. A tradução de Millôr Fernandes é, por si, uma obra bastante singular.