Day 08/07/2021Minha TravessiaLevei 13 anos para ler esse livro. Ele me trouxe até aqui aonde estou hoje. Então não tem como falar dele, sem falar de mim.
Uma vez eu li uma resenha bem leve sobre o que seria esse livro, e o personagem Diadorim me ganhou. Puxa era um personagem tão corajoso, ele transbordava coragem, e naquele momento era tudo o que eu precisava pra superar algo que eu não lembro agora. Adotei esse nome como um codinome, nas redes sociais, e em tudo que pudesse, sem nem ter lido o livro. Tudo o que eu queria era incorporar toda a coragem daquele personagem em mim. Eu ganhei o livro de presente dos meus colegas, no meu aniversário de 2008, fazia 22 anos. Era um sonho ter o livro e poder ler ele. Comecei a ler, e foi um balde de agua fria. Eu não entendia muita coisa que estava escrita, o livro não tem capítulos, são 608 páginas de um personagem contando uma história, com um linguajar que tem muitas palavras que eu não conheço. Eu sempre tive a mania de sinalizar e procurar no dicionário cada palavra desconhecida. Mas aquelas palavras não existiam em lugar algum. Um tempo depois, pesquisando na internet descobri todo o Neologismo em cima do livro, palavras que foram criadas, um idioma próprio. Fora o regionalismo totalmente longe do meu, sou do Sul, então muitas expressões locais (Minas Gerais, Bahia, Goiás) são desconhecidas. Enfim, isso minou minha leitura, e o livro pairou esquecido, salvo algumas lembranças ocasionais e rompantes de término, que acabavam fracassando.
Esse ano, eu tive crises de ansiedade, crises de pânico, parei de trabalhar e tive (ainda tenho as vezes) medo de sair de casa. Uma fobia limitante causada pela Pandemia e seus desdobramentos. Em casa, coloquei na cabeça que iria terminar o livro, lendo 10 páginas por noite. Segui firme e terminei. Não liguei para as palavras que não conhecia, apenas segui entendendo o contexto.
Terminei.
Senti um misto de coisas que não conseguia expressar. Parecia que algo faltava, que eu não tinha compreendido tudo o que Guimarães Rosa queria dizer. Li trechos para meu marido, em voz alta. Ao ler em voz alta compreendi palavras que eu não tinha compreendido antes --> palavras que foram escritas para serem ouvidas, e não lidas.
Isso me deixou em choque. Pesquisei no Youtube trechos lidos, queria uma voz para dar vida a uma nova interpretação, achei trechos lidos por Maria Bethania. Chorei. Pela primeira vez o livro tinha me tocado, tinha chacoalhado meu ser. Então comecei a pesquisar videos falando sobre o livro, talvez alguém me ajudasse a enxergar o que eu não via. Achei um video de um canal chamado Canal Bitinices que vale super a pena ver, quem está lendo ou vai ler. E a explicação de apenas uma das muitas visões sobre muitos assuntos que o livro traz, me fez amar ainda mais o personagem que escolhi pra mim. Grande Sertão: Veredas exige uma maturidade pessoal, para entendê-lo. Uma maturidade contextual, histórica, regional, política, social e de muitas formas, que aos 22 eu não tinha, e que ainda hoje aos 35 estou construindo, mas consigo absorver mais coisas a ponto de perceber a grandiosidade dessa obra.
E num processo de Catarse, eu lembrei de quem eu era antes de iniciar o livro, e o porque de ter escolhido Diadorim pra mim! Isso me libertou e me ajudou muito a enfrentar meus medos e minhas fobias. Fiz avanços que nem imaginava conseguir, pq lembrei que, nas palavras de Diadorim: "É PRECISO TER CORAGEM".
E Diadorim me mostrou toda a coragem que existe em mim, e me lembrou de quem eu era e de quem eu quero ser.
Obrigada por isso, Diadorim.
Leiam.
Mesmo quando seu cérebro quiser explodir. Leia em voz alta, coloque trechos para ouvir.
Leia guiado por alguem que vai te mostrar tudo o que essa obra quer dizer, leia com um intérprete. E não deixe que a sua imaturidade te permita DESISTIR.
Vou deixar o link do video se alguem quiser se inspirar.
https://www.youtube.com/watch?v=i5Q6DilECJ0
https://www.youtube.com/watch?v=oOdGvuzQjbA