Zelinha.Rossi 12/02/2017
Eu sou suspeita para falar de Rosa Montero: amo todos os livros da autora. E, claro, este foi mais um para aumentar a minha admiração por ela.
Em primeiro lugar, vale muito a pena ler o livro sem saber nada a respeito (do que trata, dos personagens, etc.). Ou seja, nada de ler as orelhas ou a contracapa. Porque isso o deixa ainda mais surpreendente – ainda mais por que pensamos: mas o que será esse livro com esse título tão estranho? A resposta é: será um livro comovente, com lindas histórias de superação e outras para mostrar que a vida não é assim perfeita como naquilo que lemos por aí. Afinal, as tais instruções para salvar o mundo nada mais são do que reflexões que fazemos a partir do enredo e dos pensamentos explícitos da autora ou implícitos através das ações dos personagens. Na obra, percebemos a necessidade de salvar o mundo por dois motivos principais: pelo aquecimento global (tema muitas vezes mencionado ao longo da história) e pela falta de emoção, sensibilidade e amor das pessoas, que estão cada vez mais presas aos seus mundos particulares e às suas solidões. E, neste caso, dois são os solitários principais da história: Matias, um taxista inconsolável pela morte da esposa, que se isola do mundo e parece desistir de viver para evitar a dor constante causada por sua lembrança e Daniel Ortiz, um médico que já não dedica mais qualquer importância à sua profissão e ao seu relacionamento fracassado, passando a se dedicar cada vez mais a viver uma vida virtual através do jogo Second Life. E há também outras personagens interessantíssimas: Cérebro, uma antiga professora universitária que acabou se tornando alcoólatra; o assassino da felicidade, um serial killer que assassinava idosos abandonados injetando-lhes uma dose elevada de insulina após lhes oferecer uma festa particular; Fatma, uma prostituta nascida em Serra Leoa que havia visto e sofrido os horrores da guerrilha em seu país; e Rashid, um muçulmano apavorado com a indiferença dos ocidentais uns com os outros e com o preconceito destes contra si.
Nesta história, alguns personagens, por mais que busquem a redenção e a mudança, acabam levando a mesma vida de sempre, porque “está sempre prestes a entardecer na vida dos seres humanos”. Há também aqueles que não sabemos se, afinal, tiveram ou não um final. E há ainda outros, os que verdadeiramente acreditam na vida e no amor, os quais acabam encontrando seu um final feliz. Afinal, “a humanidade se divide entre os que sabem amar e os que não sabem”.
Quanto à maestria de Rosa Montero, chamo a atenção para dois pontos característicos que muito haviam me agradado em “A louca da casa” (o livro que me abriu as portas da magnífica obra da autora) e que estão novamente aqui: o fato de apresentar o futuro de muitos personagens no estilo mal sabe ele(a) que daqui a 15 anos.... e as brincadeiras com sua condição “onipotente” de narrador-observador, dona do destino de seus personagens segundo seu bel-prazer. O que pode parecer perverso, mas que não deixa de ser hilário.
De forma geral, o livro nos encanta, mas também nos mostra que nem tudo são flores: afinal, é uma história sobre a realidade que se apresenta a nós: nua e crua, disposta a nos esmagar e, no entanto, repleta de possibilidades de salvação e felicidade.