regifreitas 04/08/2022
A CAVERNA (2000), de José Saramago.
José Saramago faz aqui uma crítica à sociedade de consumo atual. O personagem principal é Cipriano Algor. Viúvo, ele vive com a filha, Marta, e com o genro, Marçal Gacho, em uma cidadezinha inominada. Cipriano, assim como seu pai e também seu avô, exerce a profissão de oleiro. Ele ganha a vida confeccionando artesanalmente louças de barro, as quais são revendidas em um grande centro comercial a poucas horas de onde vivem. É nesse Centro que também trabalha Marçal, como guarda.
Depois de muito tempo de parceria, o Centro deixa de fazer as encomendas habituais das louças de Cipriano. A alegação para o rompimento do acordo comercial é a de que não havia mais interesse, por parte dos clientes do Centro, nesse tipo de material, preterido por objetos de plástico. Cipriano, então já passado dos sessenta anos, se vê sem seu ganha pão e sem um objetivo claro de vida.
Novamente Saramago consegue trabalhar temas aparentemente muito simples, mas que apresentam complexidades e questionamentos sobre a realidade que estão abaixo dessa camada inicial. O Centro é retratado como uma grande organização, na qual se trabalha, mas também onde se vive, e onde se usufrui as horas de lazer. Tudo o que parece importar acontece ali, e todos acabam dependentes de alguma forma daquele espaço. Já Cipriano é um corpo estranho a esse ambiente, vindo de outra época e portando valores que parecem ultrapassados.
Ótima leitura! Não se tornou minha obra favorita do autor, mas certamente pode ser situada entre os grandes trabalhos de Saramago. Quanto ao título do romance, ele faz uma clara alusão ao mito de Platão, mas a forma como isso se encaixa na narrativa é algo que deve ser descoberto durante a sua leitura.