Cynthia 23/04/2012Um amor, um verão e o milagre da vidaMuitas vezes, não percebemos o tamanho do valor que tem a vida e, principalmente, as pessoas que estão ao redor dela até nos depararmos com uma situação delicada. Maria Paula é uma jovem mimada de 17 anos que nunca precisou ter preocupações maiores do que compras e roupas. Até que, durante as férias na casa de seu avô em Ilha Grande, quando não esperava que grandes coisas viessem a acontecer, ela conhece João Carlos (também conhecido como JC), um jovem surfista filho de pescador. Sem perceber, ela se encontra completamente envolvida por ele. JC é energético, cheio de vida e sempre disposto a novas aventuras. Trabalho como guia em Ilha Grande e professor de surf, dividindo o tempo entre suas aventuras e os estudos para o vestibular. Sua juventude e sua disposição, no entanto, se encontram abaladas quando descobre que é portador de câncer no estômago. Com o apoio da família, dos amigos e, principalmente, de Maria Paula, JC encontra forças para lutar contra a doença.
O livro de Isa Colli é muito mais do que apenas a história de um amor de verão entre dois jovens. É uma história de esperança e determinação para a luta contra uma das doenças que mais mata nos dias de hoje: o câncer. Além das histórias da família de Maria Paula e da família de JC, o livro também é recheado de informações sobre o diagnóstico e o tratamento do câncer, além de possuir mensagens motivadoras para quem precisa enfrentar esse passo decisivo na vida. O livro também tenta mostrar um pouco de Ilha Grande, com descrições dos espaços e da natureza da ilha que nos fazem querer conhecer melhor esse lugar com tantas riquezas naturais. O final do livro possui também vários depoimentos de pessoas que também tiveram de lidar, de alguma forma, com a doença através de familiares. São mensagens motivadoras e que mostram a profundidade e realidade que o livro propõe.
"Quando a família se mostra disposta a encarar o problema e se faz presente; quando os amigos cumprem o papel de verdadeiros amigos e o paciente reconhece a doença, decidindo lutar, seguindo todos os conselhos do médico, os primeiros passos são dados em direção à cura.
Confesso que, enquanto literatura, o livro não me impressionou muito. Por mais que cada uma das personagens, os amigos e a família, tenha sua própria personalidade e importância para o desenvolvimento do enredo, a história é bastante simples. Apresenta um pouco da vida de cada um, desde os pais e avô de Maria Paula, que também tiveram muito sofrimento na família em decorrência do câncer que levou sua avó, até os amigos e a família de JC, com sua mãe sempre atenciosa e o pai pescador que, entre uma viagem e outra, sempre procura estar presente em todos os momentos importantes. A narrativa não possui muitas surpresas, apesar de ser bastante envolvente e curiosa. No entanto, o livro possui uma mensagem muito importante de superação. Percebi que, independente de como se passa a história, o mais importante em todo o livro é passar aos leitores e leitoras um pouco sobre o universo da doença e do grande papel dos amigos e da família na vida de um/a paciente com câncer. Mesmo tendo muitas referências a orações e a Deus, este não é o tema principal do livro, de forma que, independente da sua religião, é uma história que vale à pena conferir.
Ainda sim, alguns pontos bem específicos no livro me incomodaram. Não em relação a história ou à narrativa, mas em relação à própria revisão e forma como ele foi escrito. Um exemplo é o uso excessivo e, na minha humilde opinião (como leitora e como professora), completamente desnecessário do pretérito mais-que-perfeito nos primeiros capítulos do livro. Foram capítulos sofridos para ler. Eu sempre procuro essas coisas de cara em um livro, não por arrogância (até porque cometo algumas gafes no blog também), mas por hábito. Já trabalhei com revisão de textos, reviso algumas redações de alunos e, bom, tenho a gramática normativa e a língua como principais instrumentos de trabalho. Na maior parte das vezes, eu noto, mas não me importo, porque é natural. Mas esses capítulos, juro, me contorcia toda vez que lia tantos "-aras" em um mesmo período. Nesse caso, ficou difícil não notar e não me incomodar. Isso tornou a leitura desses capítulos muito arrastada e extremamente irritante. Mas passou rápido (ainda bem, se não confesso que não aguentaria ler o livro inteiro). O mesmo acontece, volta e meia, quando vejo todos (sim, TODOS) os adjuntos adverbiais separados por vírgula - mesmo quando não é necessário, ou seja, no final da oração.
O livro todo está muito bom, afinal, no quesito revisão, fora o uso do pretérito-mais-que-perfeito no início do livro e um "mais" no lugar de "mas" que encontrei bem no finalzinho. No entanto, não sei se foi apenas escolha da autora por manter assim, mas o título "Um amor, um verão, e o milagre da vida" com essa vírgula antes do "e" também não dá, né?
Para falar também de um ponto positivo no livro, a diagramação é simples e benfeita (palavra um pouco estranha e pouco usada no cotidiano, mas correta e, se não me engano, usada em alguma parte do livro). Algumas das novas editoras pecam muito nessa parte. Até a Novo Conceito, que já é bem conhecida, às vezes comete seus deslizes. Beijada por um Anjo 4, por exemplo, o que é todo aquele texto em negrito? Enfim, com exceção de alguns termos estarem em itálico por puro preciosismo (como tô, vô e tá), o formato do livro, desde o seu tamanho até a escolha das fontes serifadas e do espaçamento das margens, para mim está nota 10.
Percebemos, ao fim da leitura do livro (e pesquisando um pouco mais sobre ele), que existe, sim, a proposta de transformá-lo em um filme. Acho a ideia muito boa, e imagino que ele seria muito melhor como filme do que apenas como um romance. Para um livro de estreia da autora e da editora Baldon, acredito que as duas se saíram muito bem. Sempre há algum ponto ou outro a melhorar, é claro, mas pensando de forma geral, estão seguindo o caminho certo.
Veja mais em: http://ninanoespelho.blogspot.com.br/2012/04/um-amor-um-verao-e-o-milagre-da-vida.html