juliasstupid 24/04/2024
"Quincas Berro Dágua acabara."
É engraçado como o título pode parecer confuso. O substantivo "morte" se repete duas vezes, de modo a parecer até mesmo um erro de digitação. Não se pode ter certeza do porquê ele se repete, até o final da obra. E que final!
Em minha opinião, o livro deveria chamar-se "A morte, a morte e a morte de Quincas Berro Dágua", porque são três as mortes que acontecem na obra.
A primeira foi a morte social de Quincas, antes Joaquim. O típico bom homem, que trabalha e é um bom pai e marido. Quando ele nega essas coisas, porém, o maior impacto é sobre sua família. Eles pensavam que sua honra e legado haviam sido manchados por Quincas. Mas a sua filha foi a que mais sofreu com isso.
O livro demonstra, de maneira sutil, como filhos lidam com a saída do pai. Sua não-presença, causadora de tanta raiva para Vanda, ainda teve força suficiente para deixá-la magoada, até mesmo depois da morte do homem. Sentia saudades do pai, e começara a cultivar rancor do homem que o substituiu. E esse rancor não cessou nem depois de seu óbito.
Após anos de vagabundagem, acontece a segunda morte de Quincas. Não sei se ele morreu realmente, ou se fora apenas uma de suas brincadeiras. Mas ali foi a morte do corpo do homem. Morreu o Quincas que vivia no corpo de Joaquim. Ele acabara.
Mas somos apresentados a seus amigos íntimos, personagens que me geraram até afeto, e é possível perceber que Quincas não está morto de verdade. Os cinco amigos saem para comemorar sua "volta dos mortos" e há alegria por todos os lugares.
Porém, finalmente, ocorre a terceira e última morte de Quincas. A morte de sua alma. Que ele queria que fosse por conta dele. Não por conta de Joaquim, que seria enterrado pelos familiares rancorosos e não por Quincas, parasita que ainda dividia território com Joaquim. Sua morte deveria ser por conta de Quincas Berro Dágua.