O buda do subúrbio

O buda do subúrbio Hanif Kureishi




Resenhas - O Buda do Subúrbio


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Luiz Pereira Júnior 02/11/2020

De uma forma ou de outra todos somos desiguais
É ótimo descobrir um livro que nos faz afastar da realidade por alguns dias, mas que, ao mesmo tempo, acabe por nos fazer refletir sobre essa mesma realidade a cada página que lemos.
Assim é “O Buda do Subúrbio”, um livro engraçado (mas não hilariante, como querem nos fazer acreditar as resenhas elogiosas a seu respeito), mas sério em seu retrato da decadência urbana e da imensa desigualdade racial em Londres (talvez seja melhor ampliar esse conceito para toda e qualquer cidade em nossos tempos ou, ainda melhor, de qualquer tempo, pois a desigualdade social sempre existiu – e acredito que jamais deixará de existir).
É bom se deparar com um livro que se lê com facilidade, com uma linguagem sem maiores voos de imaginação, com uma narrativa rápida e cheia de reviravoltas, com suas descrições de tipos humanos aparentemente loucos ou simplesmente esdrúxulos, mas, a bem da verdade, apenas humanos em todas as suas idiossincrasias. Mas se fosse apenas isso, tudo bem, temos meramente uma literatura de diversão. Mas eis também um retrato de uma sociedade que busca a fama, o sucesso e que cria seus próprios monstros.
Um jovem cujo pai resolve se tornar uma espécie de guru do subúrbio (interessante como o foco narrativo pula de pai para o filho no decorrer do livro, e o tal Buda do Subúrbio praticamente desaparece da narrativa, quando o filho sai de casa em busca do sucesso e do tão proclamado sentido da vida), a hipocrisia desse mesmo pai que aconselha moral a todos mas que não a pratica, os problemas graves dos personagens vistos em meio a cenas engraçadas e os problemas triviais do cotidiano (os já renomeados “problemas de gente branca”) que parecem ridículos a um olhar mais atento. Tudo isso acaba por se transformar em uma crítica contra os sistemas idealistas que almejam resolver os problemas do mundo mas não conseguem resolver os de sua própria casa (bem dizia Gregório de Matos, séculos atrás: “Não sabem governar sua cozinha / Mas podem governar o mundo inteiro.”).
Posso dizer que mais uma vez encontrei um livro que é a prova de que para escrever literatura de bom nível, e que nos induza a repensar o modo como vivemos, não precisando ser um amontoado de frases herméticas, de linguagem empolada e de filosofismos no pior sentido da palavra.
Afinal, uma boa história pode nos fazer pensar muito mais do que uma pirâmide de frases difíceis de um autor ensimesmado em sua torre, angustiado por viver (oh, vida cruel!) em um mundo que não lhe entende e que não entende a sua genialidade...
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