Rafael 14/10/2022
Talvez herético, provavelmente subversivo, certamente grandioso.
Esse é a quarta obra do escritor José Saramago que leio. O que me marcou nessas experiências prévias foi a originalidade dos textos e a facilidade do autor em buscar temas inusitados e desenvolvê-los com bastante criatividade. Apesar das dificuldades no fluxo de leitura, que o estilo de pontuação caraterístico de suas obras impõe, é indiscutível que essas histórias tenham o poder de prender a atenção do leitor, que constantemente fica na expectativa do que se sucederá nas próximas páginas.
O livro em questão, em especial, é marcado para além das circunstâncias do roteiro, ou do acontecimento de algo inusitado, como uma cegueira branca que se alastra rapidamente ou as férias que a morte decide tirar em um país desconhecido. Parece ter como objetivo levar o leitor a pensar sobre as contradições e ciladas da religiosidade e, dessa forma, reconstrói a história da vida de Jesus, desde o seu nascimento até sua morte, sob uma perspectiva mais próxima da realidade que conhecemos (e mais humana). Essa humanidade atribuída a Jesus, faz com que o mesmo sofra com as dúvidas, angústias, inseguranças, fraquezas e vulnerabilidades carnais características do ser humano. Considera-se ainda que toda a história foi escrita por um ateu, que imagino eu, tenha se dedicado intensamente a leitura e interpretação do texto sagrado, visto a facilidade com que constrói os personagens, o conhecimento dos evangelhos e os detalhes dos locais por onde J. C. passou.
Sem dúvidas é uma obra polêmica, mas que consegue prender a atenção do leitor e o conduz a repensar alguns conceitos filosóficos da fé. Pode ser incomodo para pessoas cristãs (senti) e acredito que esse tenha sido o objetivo de Saramago, explorar as contradições, as controvérsias e enfrentar as questões não respondidas no texto bíblico, além trazer à tona todas os conflitos religiosos que culminaram em tortura, perseguições e morte. Enfim, o livro busca completar as lacunas deixadas pela tão conhecida história de J. C. e com a originalidade do escritor português aprofundar-se nos detalhes dessa história. Continuo afirmando que ler José Saramago sempre é uma ótima experiência.