spoiler visualizarLarissa.Goya 01/02/2013
À Propósito da Neve Fundida
Já havia lido "Noites Brancas" e "O Eterno Marido", mas essa é a obra-prima de Dostoiévski. É lindo como ele vai nos envolvendo com aquele monólogo escrito por uma alma subterrânea e como tudo aquilo nos faz refletir sobre coisas e sobre nossa própria condição como seres humanos. A construção do personagem e as suas falas são geniais, o que mais chama à atenção é a completa ambiguidade presente no personagem, ilustrada principalmente nos dois episodios que ele conta: ao mesmo tempo em que ele se apresenta como um homem do subsolo, totalmente amargurado, depressivo e sem esperanças, por outro lado ele se arrepende das ações que faz e das palavras que diz.
Aliás, sobre esses episódios, é praticamente impossível não sentir um aperto no peito enquanto ele os narra, como na cena em que ele se submete a toda aquela humilhação perante aqueles homens que não davam a mínima pra sua presença, por mero orgulho e vaidade. Isso remete às passagens em que ele fala na primeira parte do livro, sobre a "volúpia" sentida no sofrimento, só acessível a pessoas com uma consciência mais aguçada, pois espera-se que as pessoas tenham desejos que correspondam com seus interesses, mas nem sempre isso acontece. Ele diz isso pois acredita que os homens não são naturalmente bons, por mais que estejam completamente satisfeitos, vão fazer algo de ruim, nem que seja apenas para provar que não são subjugados pelas leis da natureza, e que sim, possuem livre-arbítrio e são donos de si. Acho muito interessante quando ele menciona que "2+2=4" é o princípio de morte.
Resumindo, é um ótimo livro pra quem gosta de uma boa reflexão existencialista e de analisar personalidades e psiquês de personagens complexos. O melhor do Dostoiévski que li até hoje, ficou um gosto de quero mais!