Lucas1806 09/10/2022
No terceiro volume da série do detetive Kurt Wallander, iniciamos o livro já com um assassinato brutal, de uma mulher de vida aparentemente perfeita, religiosa, esposa e mãe. Na trilha para encontrar o culpado pelo crime chocante, nosso detetive melancólico se depara com mais crimes: a explosão de uma casa nas redondezas e um achado perturbador, um dedo decepado semi-enterrado próximo a uma das casas. Um dedo de um homem negro.
Mais tarde, somos transportados a uma conturbada África do Sul, marcada pela tensão racial do regime do Apartheid, onde pessoas são condenadas a uma condição desumana de vida em seu próprio país pelos invasores de origem holandesa. Um líder de uma organização paramilitar secreta, convicto supremacista branco, contrata por alto valor um mercenário negro para cometer um crime com o objetivo de abalar a estrutura do país, o que acarretaria no fim de qualquer tentativa de combater o racismo, assegurando a permanência do domínio africânder sobre os povos originais da região.
A história do valente zulu Victor Mabasha, guiado por sua espiritualidade e fé em seus Ancestrais, se entrecruza com a de Kurt Wallander na chegada do sul-africano na Suécia, país pacato e liberal perfeito para o treinamento de novos mercenários. Victor desconhece que está sendo treinado justamente para assassinar a própria esperança da libertação de seu povo.
Neste romance policial com forte tempero de ficção histórica, Henning Mankell não nos poupa da brutalidade do regime sul-africano, da hipocrisia, da crueldade sádica e do racismo escancarado. Os antagonistas são absolutamente odiáveis, capazes das piores atrocidades em nome daquilo que acreditam ser o certo. Para evitar a verdadeira ruína de um país inteiro, uma tragédia que poderia mudar o curso da história, Kurt deverá contar com a sorte, a eficiência da polícia sueca e com sua voz interior para o guiar pelo caminho certo.
A leitura absolutamente vale a pena, especialmente quando, no final, descobrimos o significado da simbologia da leoa branca para a trama, da conclusão a que todos os povos sul-africanos deveriam chegar para alcançar a paz e a igualdade no país.