Caroline Gurgel 11/11/2013Um longo e excruciante calvário...Sem dúvida, a emoção mais difícil de pôr em palavras que já senti em uma leitura.
Tatiana and Alexander é um livro forte, de uma dureza tão grande que faz a guerra retratada no primeiro livro parecer apenas um pano de fundo se comparada a esse. Se lá vimos a fome, o frio e os bombardeios matarem aos montes, aqui sentimos a destruição, o desespero e a espera eterna de uma guerra que não acaba.
Não tem spoilers. Mas se você não leu o primeiro livro, O Cavaleiro de Bronze, é preferível que pare por aqui, pois, inevitavelmente, lerá fatos dele nessa resenha.
Terminamos O Cavaleiro de Bronze com uma Tatiana grávida e conseguindo escapar dos horrores da guerra ao aportar em Ellis Island, Nova York, vestida em seu uniforme de enfermeira da Cruz Vermelha. Tatiana, que deu à luz ao desembarcar, recebe o direito de permanecer nos Estados Unidos, já que seu filho nasceu em solo americano. Acreditando estar viúva, Tatiana se vê sem rumo e sem motivação, mas consegue emprego como enfermeira em Ellis Island, onde passa a criar seu filho e faz amizade com Vikki, também enfermeira, e Edward, médico local. Seu filho, esses dois amigos e, um tempo depois, a esperança de que Alexander esteja vivo é o que a mantém viva e firme. Enquanto isso, a guerra continua e nela Alexander vive seus piores pesadelos.
Nossa expectativa é ver o reencontro do casal o mais rápido possível, é ver a guerra acabar logo e tudo voltar ao normal. Mas o que temos aqui é uma espera excruciante e extremamente longa, que vai acabando com o leitor aos poucos, angustiando e afligindo. A autora passa a escrever em capítulos que se alternam entre as lembranças de Tatiana e Alexander e o presente deles.
Os primeiros 40% do livro são formados majoritariamente por memórias que já conhecemos, mas a autora passa a esmiuçá-las e recontá-las detalhadamente. Apesar da narrativa em terceira pessoa, algumas dessas memórias, mesmo que não tenhamos percebido, foram contadas pela perspectiva de Tatiana no primeiro livro, e agora as lemos pelo olhar de Alexander, como o dia em que ele olha para aquela menina despreocupada, tomando um sorvete enquanto o mundo alertava para a guerra. A dinâmica entre passado e presente é boa, os novos fatos são ótimos, mas algumas das lembranças se tornam um pouco repetitivas e prolixas. Não que sejam desinteressantes, mas nos deixam mais ansiosos que empolgados.
Conhecemos um pouco do Alexander adolescente, do quanto ele gostava da América e o quanto se questionou sobre o comunismo. Vemos a decepção do ideal comunista desunir sua família, vemos a desilusão de um sonho de quem via na União Soviética uma utopia destruir suas vidas.
Revivemos muitos fatos pré guerra já conhecidos: o retorno de Alexander e Dimitri à Finlândia em busca do filho de Stepanov; a ajuda de Dimitri para que Alexander visse seu pai antes de ser executado e sua promessa de lealdade; a cena em que pula do trem que o levaria à morte após ser acusado de espionagem; a epidemia da doença que matou quase todo o vilarejo onde ele havia se escondido; seus encontros com Dasha, seus encontros com Tatiana; e revivemos Lazarevo. Ah, e que deleite reviver Lazarevo sob o olhar de Alexander!
Temos o oposto do que seria um conto de fadas, temos a guerra, nua e crua. Por mais ansiosos que sejamos e por mais rápido que queiramos que a narrativa ande, a autora nos faz, através de um ritmo lento, sentir cada dia do calvário dos que esperam incansavelmente as notícias da guerra, dos que sobrevivem dia após dia na incerteza do retorno prometido.
Apesar de O Cavaleiro de Bronze ter nos mostrado a morte da família de Tatiana, a escassez de comida e uma União Soviética devastada e bombardeada, as páginas desse livro, incrivelmente, foram as mais dolorosas. Foram agonizantes.
Se chorei? Sim, quase como uma criança. Dos 70% da leitura em diante meus olhos estiveram marejados a cada página. De tristeza, de medo, de esperança, de pavor, mas principalmente de emoção. A emoção de ver o amor ser o alimento que dá forças para continuar, para sobreviver às piores truculências. A emoção da capacidade do amor puro, que espera, que sente, que transpõe, que fortalece. Um amor lindo, pungente mas apaixonante. São longas páginas que mais parecem infinitas, mas que valem cada segundo da leitura. Esses personagens estão marcados à ferro no meu coração e, certamente, essa é uma das mais genuínas, fortes e belas estórias de amor que já li.