Sâmella Raissa 05/12/2015Resenha exclusiva para o blog SammySacional
Em tempos até então denominados como Era das Trevas, o reino de Rúbia permanecia como sendo o único dos reinos a perpetuar o paganismo, em meio ao controle da Igreja sobre os demais. Também, pudera, além de ter um feiticeiro como conselheiro real, mais do que isso, temia-se pela vida da princesa, então amaldiçoada com olhos de gato que a todos afugentava e assustava. O rei, no entanto, com a idade avançada, teme pelos próximos capítulos de seu reinado, uma vez que não há sucessores após a morte de seu filho mais velho e às recusas iminentes de casamento com Loiane, sua filha. Resta-lhe, então, optar por um plano pouco agradável, que, no entanto, poderá ser burlado por Loiane com a ajuda do neto do feiticeiro, Abner, recém-chegado à Rúbia para ser aprendiz de seu avô.
A jornada conjunta de ambos, no entanto, se desenrolará das mais diversas formas e com as surpresas mais inconvenientes possíveis, em meio a segredos do passado e muita magia antiga perdida no tempo, enquanto seguem viagem rumo a uma Torre esquecida por todos. Ao mesmo tempo, alternamos a narrativa por entre conflitos religiosos e políticos no castelo, em meio a intrigas e planos ocultos diversos que podem atrapalhar as intenções da princesa.
“— Sempre me pareceu, Abner, que não seria uma boa ideia trazer de volta uma coisa que, imagino, faria um mal maior do que um bem.
— Por que diz isso?
— Dizem que conhecimento é poder. Mas a busca por novas formas de sabedoria faz com que os homens amadureçam e aprendam com a experiência. É essa busca que nos torna melhores. Sem esta trajetória não passamos de crianças tentando realizar nossos caprichos. O homem não está preparado para ser mais do que isso: um ser com defeitos e virtudes em busca de seu próprio caminho.”
- Página 72 -
A fantasia da história é o ponto de maior destaque, alternando entre o feiticeiro Aluanã, no castelo, e Abner, seu neto, então em jornada para tornar-se seu aprendiz. Quando Loiane e seus planos cruzam-se com os do rapaz, porém, eles se veem ajudando um ao outro na intensa viagem rumo à torre que resguarda as possíveis respostas para seus questionamentos, e é quando a fantasia se faz presente de verdade em meio à fugas inesperadas e baques violentos. Em momentos alternados, assim, a narrativa oscila entre momentos de extrema fluidez, e outros de certa lentidão, à medida que termos e explicações mais aprofundadas sobre magia, política e religião inerentes à época são dadas. Com um pouco de persistência, no entanto, é possível seguir a leitura sem maiores percalços, ainda que a narrativa em vocabulário mais formal, decorrente do período central da trama, medieval, em que ela se passa, possa causar certo estranhamento em alguns momentos, mas, da mesma forma, não há maiores problemas, principalmente para aqueles que já estão acostumados com este tipo de leitura.
“— Como espera que eu desista da minha única esperança de felicidade?
— Vocês, jovens, falam de felicidade muito levianamente.”
- Página 97 -
É visível, no geral, o bom desenvolvimento da história, desde o seu início até o seu desfecho. Sem 'pulos de cena' muito abruptos, a minha principal, e talvez única real ressalva quanto ao livro, seja por conta do desenvolvimento emocional dos personagens, com os quais, mesmo no fim da leitura, não me vi envolvida de verdade com eles ou sequer senti-me simpatizar com quaisquer deles. Por melhores que eles fossem desenvolvidos no contexto fantástico da trama, dentre os quais Abner e Loiane se destacam de forma realmente positiva, no contexto real, humano, emocional de serem, ainda senti-os um pouco vagos e não consegui me envolver de verdade com a leitura. Apesar disso, ela não foi comprometida de todo, uma vez que o desfecho realmente surpreendeu.
No fim das contas, comecei a leitura esperando uma coisa, e, apesar de não encontrá-la, acabei me deparando uma história simplesmente bem construída e desenvolvida, apesar de suas leves ressalvas, e seu desfecho, depois de tudo, intrigou-me e me surpreendeu pela genialidade da autora em apresentar uma visão tão diferente da situação e fazer-se entender que nem tudo é o que parece ser, afinal. A Princesa com Olhos de Gato é, por fim, um enredo de mão cheia para os fãs de uma boa fantasia, tensa e intensa ao mesmo tempo, com personagens fortes e determinados a alcançar seus objetivos, mesmo em meio aos mais diversos obstáculos.
site:
http://sammysacional.blogspot.com.br/2015/12/Resenha-APrincesaComOlhosDeGato.html