Flavio Assunção 25/06/2012Quase 20 pessoas presas em um Retiro para Escritores, durante três meses, sem contato com mundo exterior e com intuito de criar a obra que os tornará celebridades. Essa é a premissa de "Assombro", livro de Chuck Palhaniuk, que além dessa trama principal conta com uma coletânea de poemas e contos sobre a história de cada um dos personagens.
De fato, o conceito utilizado pelo autor é bastante original, ao conseguir juntar três estilos em um livro só. Sua criativade também deve ser exaltada, já que os temas dos contos são dos mais variados possíveis, embora todos possuam o mesmo caráter trágico/cômico.
Talvez o maior problema de "Assombro" seja a quantidade de personagens - o que não possibilita um aprofundamento - e consequentemente a quantidade enorme de poemas/contos. Esse modelo, embora original, é extremamente cansativo. Na metade do livro, a exaustão pega de jeito e você é obrigado a diminuir o ritmo. Foi muito difícil, ao menos pra mim, conseguir emplacar na leitura de uma forma contante. Talvez se o número de personagens fosse mais enxuto teríamos uma leitura mais agradável e coesa como um todo.
Sobre os contos, muitos são bem interessantes, outros bastante ruins. Na verdade, não vi nenhum que fosse mediano. Minha impressão era que ou era 8 ou 80. Ou muito bom ou muito ruim. Dentre os melhores, destaco: "Tripas" (esse muito superior aos demais), "Desabrigados", "Anos de Cão", "Colocação de Produtos", "Canto do Cisne" e "Pós-Produção".
A partir disso posso destacar que "Assombro" é altamente injusto com o leitor, quando apresenta "Tripas" como o primeiro conto da obra. Esse conto em si é altamente asqueroso, repugnante e de longe a melhor coisa que acontece em 387 páginas. Só esse conto em si vale o preço de todo o livro. Falo que é injusto porque como primeiro conto ele acaba sabotando os restantes e nos faz passar a leitura buscando momentos tão bons. Seria mais justo que "Tripas" fechasse o livro.
Quanto aos poemas, não tenho muito o que falar, já que os achei desacartáveis. São basicamente uma prévia dos contos e que não acrescentam muito.
De um modo geral, "Assombro" é bom, principalmente por seu teor cômico em meio a tragédia e por possibilitar grandes reflexões sobre a natureza humana. Mas lembro mais uma vez: é difícil engrenar e os mais impacientes podem ter problemas com isso. No mais, vale a leitura.