Os antiquários

Os antiquários Pablo De Santis




Resenhas - Os Antiquários


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carol 03/08/2012

Um passeio ao passado que se mistura ao presente

Em Buenos Aires dos anos de 1950, o jovem Santiago Lebrón se vê envolto em mistérios e tramas das quais nunca teria suspeitado.
O livro de Pablo de Santis traz uma narrativa incomum, que desenrola a história de maneira calma e lenta sem tornar-se cansativa.

Santiago é um jovem que vai para a cidade de Buenos Aires sem experiência em área alguma, a não ser a leitura. Empregado por seu tio no ofício de consertar máquinas de escrever, Lebrón acaba por ser convidado a trabalhar em um jornal e depois da morte de um colega, é designado a fazer parte de um setor de assuntos míticos.

A partir daí, o rapaz se vê rodeado por um mundo de farsas e não espera encontrar nada mais do que ilusionistas e farsantes até se envolver com um tema do qual nunca tinha ouvido falar antes. Os antiquari, ou antiquários, são seres presos em uma melancolia eterna e amargurados pela passado. Vivem entre livros, entre antiguidades, entre a história que já se foi. São criaturas de essência profunda e hábitos incomuns, curiosos e ocultos.

As reviravoltas e acontecimentos inesperados acabam levando Santiago a um caminho ao qual ele nunca imaginara chegar e apesar do ceticismo pelo qual antes era de certa forma dominado, se vê preso ao mundo oculto dos Antiquários e também ao amor pela jovem Luisa.

Pablo de Santis reescreve o mito dos vampiros sem deixar de lado a melancolia e a sede de sangue desses seres que despertam tanta curiosidade. Em sua narrativa, mostra também grande apreço pelos livros (como o espanhol Carlos Ruiz Zafón em seus livros) e transforma um tema que hoje em dia tem caído nas graças dos mais diversos escritores e das mais diversas maneiras e que poderia ser considerado algo clichê, em uma narrativa fantástica que prende e encanta o leitor até a última página.

Não podemos esquecer da arte da capa, que de início pode parecer pouco sugestiva a não ser pelas pequenas gotas de sangue, mas que, conforme vamos descobrindo os mistérios dos Antiquários, da dita sede primordial e do amor e fixação de Santiago por Luisa, acaba se mostrando na realidade uma grande revelação.

O personagem principal tem os traços característicos dos jovens, como as atitudes impulsivas, mas também mostra-se confiável e digno de fazer parte de algo maior do que ele podia imaginar antes de se tornar informante de O Ministério do Oculto.

Inebriante, até apaixonante, Os Antiquários se mostra uma grande obra da atualidade que encanta e seduz o leitor, que fica ávido por uma continuação que não existe e passa a refletir sobre que rumo tomou Santiago Lebrón
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Alessandro232 18/01/2014

Reiventando um antigo mito
"Os Antiquários", romance do escrito argentino Pablo De Santis guarda alguma semelhança com "A Sombra do Vento" de Carlos Ruiz Záfon. Ambos os livros fazem referências a outros livros, alguns deles clássicos da literatura e outros de diferentes gêneros. Assim como Záfon, o autor argentino, por meio de uma escrita fácil, que em alguns momentos é irônica, de modo a produzir um humor sutil, procura criar um seu romance uma atmosfera de suspense/terror a partir de estranhos eventos envolvendo o jovem Santiago Lébron e uma misteriosa sociedade secreta conhecida como "os antiquários'. Além de criar cenas que remetem ao policial noir, De Santis faz uma interessante releitura de um mito que ao mesmo tempo que é capaz de assustar, também exerce um certo fascínio sobre o leitor: o vampiro. No entanto, é importante dizer que as criaturas da noite retratadas em "Os Antiquários" diferem muito dos sugares anêmicos ou amantes lascivos que aparecem em massa em livros de qualidade duvidosa. Assim, De Santis retoma o mito do vampiro sem desmitificá-lo, mantendo uma aura mistério sobre eles, além de reforçar a associação entre o vampirismo e o ato sexual. Uma leitura indicada, principalmente para aqueles se interessam por literatura fantástica e procuram novas abordagens do universo gótico que conforme demonstra De Santis se revela às vezes surpreendente, inusitado e até mesmo surreal em "Os Antiquários".
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@fabio_entre.livros 04/09/2018

Publicado originalmente no Blog "Sangue Antigo"

Vampiros são, certamente, os seres sobrenaturais mais populares da literatura fantástica; entretanto, na maioria dos livros protagonizados por eles, as histórias se passam na Europa ou na América do Norte que geralmente são as terras natais dos próprios autores. “Os antiquários”, de Pablo De Santis também segue essa ideia de ser ambientado na mesma terra de seu autor, mas é inovador pela peculiaridade de se passar na América Latina, mais especificamente na Argentina.
Na história, o jovem Santiago Lebrón começa a trabalhar na seção de esoterismo de um jornal em Buenos Aires, na década de 1950. A princípio ele se mostra inseguro, pois é cético em relação ao sobrenatural e está naquele trabalho apenas porque o redator anterior morreu recentemente. Pouco tempo depois, Santiago toma conhecimento do Ministério do Oculto, órgão secreto responsável justamente por investigar e apurar a veracidade de fatos e relatos envolvendo o sobrenatural. Recrutado pelo Ministério do Oculto, Santiago acompanha algumas reuniões e descobre o interesse de seus membros – em geral, acadêmicos – pelos antiquários, pessoas aparentemente comuns, mas que são imunes à passagem do tempo e padecem de uma constante ânsia por sangue, a qual chamam de sede primordial.
A leitura de "Os antiquários" faz lembrar em muitos aspectos "A Sombra do Vento", de Carlos Ruiz Zafón, pois também é uma obra metalinguística que homenageia o universo da literatura e o amor aos livros. Os antiquários também é narrado em 1ª pessoa por Lebrón, o qual lembra muito o protagonista de Zafón, Daniel Sempere. Como Sempere, Santiago passa a trabalhar numa livraria, depois de se unir aos antiquários. Ainda assim, dou predileção a este livro, porque, mesmo lidando com o sobrenatural, considero-o mais “pé no chão” e menos mirabolante do que o de Zafón, além de, evidentemente, muito mais breve e completo, sem a necessidade de sequências.
Os antiquários têm esse nome porque são seres melancólicos que pertencem ao passado, gostam de colecionar e trabalhar com objetos antigos e detestam mudanças e tecnologia, preferindo ficar escondidos, ignorados na sua quietude.
De Santis despojou os vampiros de todo glamour e de quase todas as características clássicas associadas a essas criaturas: os antiquários não têm caninos longos, não voam, não se transformam em morcegos ou névoa, não dormem em caixões, não têm velocidade ou força sobre-humana e não sabem hipnotizar. Quanto à luz solar, não causa neles o efeito fatal de “tocha humana”, mas provoca um grande mal-estar quando expostos diretamente, mistura de dor e náusea; a despeito disso, podem levar uma vida diurna relativamente normal. O único “superpoder” dos antiquários é o carmen, um truque mental no qual eles induzem as pessoas a vê-los transfigurados como pessoas já falecidas. Com uma abordagem similar à adotada em "Fome de viver", de Whitley Strieber, o autor reduziu o vampirismo aos seus dois aspectos fundamentais: a imortalidade e a sede de sangue. Ainda assim, esses fatores são “contornáveis” e parciais: os antiquários são imortais apenas no sentido de que não envelhecem e não adoecem, mas são suscetíveis à morte, quando provocada através de violência; quanto à necessidade de sangue, ela pode ser controlada com o elixir, substância consumida por eles, e que tem a propriedade de suprimir temporariamente seus impulsos assassinos. Contudo, nem sempre o elixir é suficiente ou está disponível, o que faz com que os antiquários sucumbam à sede primordial. Aliás, em outros dois pontos "Os antiquários" lembra "Fome de viver": em ambos os livros a palavra “vampiro” não é empregada em nenhum momento; além disso, como não possuem presas, eles extraem o sangue de forma “artificial” (a imagem da capa é autoexplicativa).
O livro guarda ainda certa semelhança com "O código Da Vinci": na trama, há rumores sobre a existência de um livro que guarda um conhecimento muito cobiçado pelos antiquários – sobretudo por Santiago, que desenvolve uma obsessão por ele: o Ars Amandi. Entretanto, como o críptex do best-seller de Dan Brown, esse livro só pode ser acessado pelas pessoas “certas”, que consigam driblar seu intrincado mecanismo de segurança sem destruí-lo.
De modo geral, a leitura de "Os antiquários" é fascinante: com uma atmosfera noir onde se unem drama e aventura, Pablo De Santis apresenta vampiros extremamente humanizados, sem o pedestal de monstros que pertenceu a eles durante séculos de literatura e folclore.


site: https://vampirosnastelasenasletras.blogspot.com/2018/09/livro-os-antiquarios-los-anticuarios.html
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