patyalgayer 07/07/2012Leia no blog: http://www.magicaliteraria.com/resenha-cidade-das-sombras-o-guardiao-de-daniel-polansky/
O Guardião é de um estilo literário que eu nunca tinha lido até então, e que me deixou bem impressionada com seus atrativos: a fantasia noir, que consiste nada mais, nada menos, que fantasia, misturada com thriller, misturada com aquele clima noir típicos dos filmes de suspense. E posso dizer que, embora eu tenha ficado com um pouco de receio deste novo estilo literário antes de começar a leitura, este livro me deu prova suficiente que este será um estilo que eu, definitivamente, voltarei a ler assim que possível!
O Guardião – nosso “mocinho”, que em momento algum cita seu nome verdadeiro – é um sujeito taciturno, que vive em uma pousada humilde na Cidade Baixa, traficando drogas e utilizando-se de sua própria mercadoria para manter a sanidade em um mundo cruel. Depois de encontrar o cadáver de uma garotinha desaparecida, com sinais de estupro e assassinato brutal, o Guardião decide buscar o responsável por tamanha atrocidade, e acaba descobrindo uma trama muito pior do que ele imaginava a princípio, uma trama que parece envolver usuários da “Arte”, magia negra e outros elementos sinistros que podem acabar com a vida de muita gente daquela inóspita região…
Gostei muito da narrativa de Daniel Polansky, que adequa perfeitamente os diálogos, descrições do ambiente e impressões do personagem principal ao clima sombrio predominante na trama. Todo o livro é narrado em primeira pessoa, sob o olhar do Guardião, e mostra bem o temperamento do mesmo, com muito sarcasmo, ironia e um vocabulário bem adequado ao local onde vive. Porém, ao contrário do que eu esperaria de uma narrativa assim (nunca fui fã de palavrões e termos chulos em geral, e nunca achei de bom tom utilizá-los na narrativa de um livro…), o uso desses atributos acabou encaixando muito bem à história, dando mais veracidade à trama e nos situando melhor no ambiente. Claro, o uso desta linguagem, mais as cenas um tanto quanto violentas (e algumas bem perturbadoras, por sinal), transformam esse livro em uma obra pouco indicada para os leitores mais jovens… menores de 18 anos, esse livro não é pra vocês!
Além da narrativa, outro aspecto que me agradou bastante foi a caracterização dos personagens, todos bem marcantes e com personalidades por vezes bastante dúbias. Gostei muito de Adolphus, o dono da pensão cuja aparência não deixa entrever o grande coração que tem, e também de Garrincha, o garoto soturno que acaba se transformando em uma espécie de aprendiz de nosso anti-herói… temos vários outros personagens importantes, como Yancey, Adeline, Crispin, Beaconfield, dente outros; no entanto, estes dois foram os que mais me agradaram, e que tornaram a experiência de ler este livro ainda mais prazerosa!
A Geração Editorial fez um bom trabalho com este livro, com uma capa excelente (e bem condizente com a história), diagramação bem feita e materiais de boa qualidade. A tradução e revisão deixaram um pouco a desejar, sobretudo em confusões com “ele” e “ela”, e alguns errinhos a mais que acabam chamando atenção do leitor (como, por exemplo, o nome de uma droga que aparece na história: no início, chama-se “vinonírica”, depois passa a ser traduzida como “vinonífera” e, posteriormente, “vinorífica”… o.O). No mais, é um livro muito bom, altamente recomendado para os entusiastas de livros mais “darks” e ficção fantástica em geral. Dou nota 9 a O Guardião, com certeza é um livro que merece ser lido! E, o melhor de tudo, é que ele faz parte de uma trilogia – apesar de ter um desfecho bem satisfatório, sem muitas pontas soltas – , então podemos esperar ao menos mais 2 livros neste cenário fantástico que Polansky criou, para saciar nossa sede por fantasias noir!!