Jeff.Rodrigues 27/11/2018Resenha publicada no Leitor CompulsivoNa segunda obra que leio de sua autoria, o festejado escritor sueco ainda não conseguiu me tirar o fôlego em uma trama que justificasse a fama que conquistou. Mas sigo na saga de desbravar seus livros. Mortos entre Vivos se destaca claramente pela originalíssima forma como encara os mortos que voltam à vida. Esqueça os zumbis popularizados por The Walking Dead e imortalizados por cinema e literatura ao longo dos tempos. Aqui, quem retorna à vida são pessoas mais que normais, um tanto desligadas do mundo, é claro, mas ainda um pouco cientes do que que faziam, onde moravam e com quem viviam. Pense em alguém que perde a memória, mas no fundo ainda tem alguma noção de algo, aquelas pequenas lembranças que são ativadas por cliques no cérebro. Pois bem, esses são os mortos da obra de Lindqvist.
Narrado sob o ponto de vista de diferentes personagens, cada um com dramas e perdas pessoais muito bem definidos, Mortos entre Vivos pode ser classificado mais como um drama do que como terror. Mesmo que possamos considerar que mortos andando pelas ruas sejam algo terrível, a abordagem aqui é muito sentimental, humana e, como não poderia deixar de ser, de investigação de reações pessoais, uma sociologia familiar dos personagens e sua relação com entes queridos. Afinal, cada um reage à dor da perda de uma forma diferente, e talvez, mesmo com a saudade, nem todos estejam preparados para ter a pessoa de volta ao convívio.
Sob essa premissa, Mortos entre Vivos vai alternando capítulos que narram as reações de cada personagem ao fenômeno em si e à volta de um familiar perdido. Temos, então, sequências de cenas curiosas, e talvez para alguns tocantes, da relação de um avô e uma mãe ao garotinho e suas inúmeras tentativas de recriar a infância interrompida. Ou do marido que não sabe bem como reagir e apresentar ao filho sua mãe em sua nova condição. Paralelamente, as autoridades de saúde e do governo buscam saídas e soluções para algo jamais visto e que ninguém sabe muito bem como lidar. Curiosamente, a abordagem em torno de como governo reage a isso, bem como explicações que possam levar a um melhor entendimento do que de fato está ocorrendo, quase inexistem ou são feitas de forma muito superficial. Explicar o fenômeno claramente não foi uma intenção do autor.
Apesar de ter uma ideia central muito original e bem diferente de tudo que estamos acostumados a ler/ver quando se tratam de zumbis, a trama de Lindqvist não empolga e tampouco desperta a curiosidade. É uma leitura pra lá de automática em que vamos passando as páginas e acompanhando os acontecimentos, mas sem nos envolvermos. Pela extensão da obra e pelo potencial da história, achei que tudo foi desenvolvido de forma muito superficial, sem muitas preocupações com detalhamentos ou melhor caracterização da trama. Vale a leitura aos curiosos em desbravar sua obra, como eu, mas é o tipo de livro que passaria longe de uma listinha de indicações.
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