gleicepcouto 24/06/2012Um chick-lit divertidamente reflexivowww.murmuriospessoais.com
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Freud, Me Tira dessa! (Novo Século) é o primeiro romance voltado para o público jovem adulto da jornalista e escritora mineira Laura Conrado. Seus primeiros livros são da área infantil.
Nesse chick-lit, Laura nos apresenta Catarina, uma jovem independente, que mora sozinha, mas recém saída da casa dos pais. Apesar de o lado profissional estar relativamente estável, a vida pessoal de Catarina é um completo caos. Tentando equilibrar as coisas, ela procura a ajuda de um terapeuta. Tudo seria mais simples se ela não se apaixonasse pelo próprio. Em meio a confusão de sentimentos, dramas familiares, concorrência no trabalho; Catarina, aos trancos e barrancos e muitas risadas, parte em busca de autoconhecimento e aceitação de si mesma.
Confesso que me interessei pelo livro porque faço terapia há três anos. Mas nunca passei pela situação de me apaixonar por quem escuta minhas confusões, pois sabiamente, escolhi uma terapeuta mulher. Mesmo não tendo passado por isso, podia imaginar o nó na cabeça do cliente ao gostar de seu terapeuta, e por outro lado como essa situação devia ser completamente plausível. Tudo o que nós mulheres queremos é um cara que nos escute, não é mesmo?
Então, comprei o livro com expectativa - o que pode ser perigoso. Mas o bacana foi que a autora superou todas as que eu tinha.
Freud, Me Tira Dessa é um dos melhores chick-lits que já li - se não for o melhor. E por um simples motivo: é real. Tem algo mais nas entrelinhas. Não é só um romance engraçadinho, com situações engraçadinhas e dramas familiares meia boca. Nas entrelinhas, há reflexão, há identificação com a personagem principal. Rimos com Catarina, sentimos raiva com ela, mas também sofremos com ela. Percebemos que é uma pessoa tentando acertar, crente que se conhece o suficiente, mas no fundo é apenas uma garota batendo cabeça na vida.
Acredito que quem faça terapia (ou seja uma pessoa atenta aos seus sentimentos) se emocione mais com a história, pois já enfrentou os questionamentos de Catarina e sabe que, por mais que estejam camuflados por algumas piadas, sabem o quanto dói. O caminho do autoconhecimento é por vezes solitário e muito dolorido. Enfrentamos fantasmas que não queremos ver, e alguns até mesmo não sabemos da existência.
Conrado mostra essa dificuldade muito bem; mas de um jeito que não faz com que o livro fique pesado. As reflexões são na medida certa: nem muito profundas, para que fiquemos presas no drama, mas tampouco rasas fazendo pouco caso dos sentimentos.
A narrativa é uma delícia. A autora passa muito bem pelo humor, pelo romance, pelo drama, pelo esdrúxulo: ingredientes indispensáveis a um bom chick-lit.
Os personagens também são ótimos. Você vê a sua família na família de Cat. Vê o seu namorado nos ex-dela, vê as suas amigas nas amigas dela. Identificação acima da média é resultado de um trabalho elaborado e, principalmente, de conhecimento, por parte da autora do assunto que está tratando. Nada soa forçado.
O final que Laura deu para a história foi o ponto alto. Catarina passou sim por uma transformação, mas nada revolucionário, que fizesse com que a essência da personagem ficasse perdida. Ainda vemos uma Cat em evolução, mas não 100%. Isso faz toda a diferença. Não existe 100% em terapia. É um processo lento, longo e gradual. Adorei essa veracidade.
Com tudo isso, só me falta confirmar, mesmo que caindo na redundância diante do que já expus, que Freud, Me Tira Dessa foi uma bela surpresa. Pode parecer contraditório, mas é um livro sério e divertido. Laura Conrado disfarça bem em meio a piadas e situações engraçadas, mas nas entrelinhas, vemos assuntos que nos fazem pensar; uma raridade nos chick-lits acéfalos da atualidade.
Autora: Laura Conrado
Editora: Novo Século
Ano: 2012
Páginas: 239
Valor: $20 a $3o
Extra: Terapia é pros fortes, rs.