A Condessa Vésper

A Condessa Vésper Aluísio Azevedo




Resenhas - A condessa Vesper


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Fabio Vergara 21/01/2014

Dica de leitura: A Condessa Vésper (Brasil. 1882)
Sinopse: No dia do casamento, Ambrosina é atacada pelo marido enlouquecido, sendo salva pelo "Médico Misterioso" e Gabriel, com quem passa a viver amasiada.

Nota (0-10): 8.

Azevedo era muito a frente do seu tempo. Esta obra traz uma relação "vício/virtude", metaforizada de várias maneiras: ócio/trabalho, prazer/amor, morte/vida. Destaco a personagem Benedita, que embora seja uma coadjuvante menor, figura como contraponto de toda a bagunça que os protagonistas se envolvem. Também é comum nos seus textos cutucar as feridas da sociedade. Aqui, ele fala de doenças mentais e homossexualismo abertamente (lembre-se, o ano é 1882!), assim como critica duramente a alta sociedade. Ótima leitura, de um romance não tão popular quanto outros do mesmo autor (como "O Cortiço" e "O Mulato").
Iva 14/04/2015minha estante
Romance surpreendente pela forma como aborda temas ainda hoje muito atuais, com crueza e sem falsos moralismos, apesar de ter sido escrito no início do séc. XX, por um autor nascido no séc. XIX. Parece ser um livro meio esquecido, mas merece estar entre os cânones da literatura nacional.


Fabio Vergara 21/05/2015minha estante
Exatamente. Todas as obras de Azevedo eram assim, felizmente! É um dos meus autores preferidos!




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BetoOliveira_autor 06/12/2021

Uma obra incrível
Resenha CONDESSA VÉSPER, de Aluísio Azevedo

Super recomendo

Terminei a leitura do romance A CONDESSA VÉSPER hoje. Afirmo tranquilamente que se trata de uma obra prima.

Sim, Aluísio Azevedo era um naturalista, e suas obras são citadas como a precursora dessa escola no Brasil. Entretanto, se Aluísio Azevedo estava atento à Literatura produzida mundo afora, tal qual na França com Emílio Zola, como sempre lembrado por se tratar de uma influência no autor brasileiro, também é verdade que o maranhense lia a Filosofia e a Ciência do seu tempo.

No caso da Filosofia e sua influência em Aluísio Azevedo, para quem conhece o pensamento sofisticado de Schopenhauer, certamente indentificará traços dela no romance A CONDESSA VÉSPER.

Entretanto, o romance transcende o naturalismo nele presente e mesmo a Filosofia produzida no final do século XIX, posto que ao tratar de temas universais Aluísio não abandonou as idiossincrasias da sociedade brasileira.

Há muitos personagens interessantes na obra A CONDESSA VÉSPER. Tenho para mim que se tivermos paciência encontraríamos para cada um deles um personagem de outras obras literárias, nacional ou estrangeira, que lhes seriam uma espécie de duplo, espelho.

? GASPAR, apelidado Médico Misterioso, é aquele tipo de pessoa que sofre todo tipo de golpe e afronta de um semelhante, mas nunca desiste do ser humano.

? AMBROSINA, a Condessa Vésper, uma mulher deslumbrante, sensual e sedutora, faz gato-sapato de todos os homens que caem na sua rede, principalmente os ricos e lascivos. Não consegue amá-los para além do saldo de suas contas correntes. Se nela esses homens buscam a beleza e o prazer, neles ela busca o conforto da riqueza e da ostentação.

Não sei se Aluísio Azevedo leu Dostoiévski (creio que sim, pois o brasileiro viveu fora do Brasil, tendo servido na diplomacia primeiramente em Vigo, na Espanha), mas Ambrosina guarda semelhanças com a NASTÁSSIA FILÍPPOVNA, da obra O Idiota, do russo mencionado. Nastássia é considerada uma das personagens mais fascinantes da literatura.

? GABRIEL, quase um filho para Gaspar, é o playboy que herdou uma grande herança e que, na visão do Gaspar (o leitor acaba aderindo), teve uma vida se nulidades. Foi a vítima mais fácil das artimanhas sedutoras da Ambrosina.

?GUSTAVO, também uma espécie de enteado de Gaspar, o mais novo dentre os personagens, mostra-se inicialmente oposto de Gabriel. Gustavo se nega a viver com o apoio da família e sai enfrentar o mundo. Trabalha e se dedica a uma vida intelectual. Conquista certo espaço e respeito nos jornais etc. Promete um futuro, na medida em que, como diz Gaspar sobre ele, em conversa com Gabriel, rompeu com o "romantismo".

Tudo ia bem com GUSTAVO, mas...

Adivinhem só...

Sim...creio que você imaginou exatamente como se barra no romance.

Por força do destino, na missão de praticar uma ação solidária, acaba se encontrando com Ambrosina. Esta, surpresa com a força de caráter do jovem e seu elevado modo de ser, aos poucos o seduz, mas desta vez não quer tirar dele a riqueza material como fazia com os outros homens. De Gustavo ela suga toda aquela juventude cheia de furturo e esperança, a sua respeitabilidade intelectual e brilhante.

Vale a pena registrar que na última conversa entre Gustavo e Ambrosina, aquele a acusou de NUNCA TER AMADO NINGUÉM. Então Ambrosina revela o seu único amor. Amou uma outra mulher, um amor verdadeiro e lésbico por Laura. Cito parte do mencionado diálogo entre Gustavo e a Condessa Vésper:

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? (...) Ah, não! tu não me amas, desgraçada! tu nunca a ninguém amaste!

? Como te enganas!... murmurou Ambrosina, com um suspiro profundo. Oh, se amei!

? Ah!

? Oh, se amei! Tudo o que agora sintas, e muito mais, tudo isso já passou por esta alma perdida e gasta!... Pede a Deus nunca te faça a ti sofrer o que eu sofri...

? Ah! então tu não me amas, porque já amaste demais? Não me amas porque foste já inteiramente de outro?! Oh! por piedade não me mates deste modo! por piedade não me fales em outro homem!

E Gustavo, arfando, deixou-se cair em uma cadeira, a segurar a cabeça com as duas mãos.

? Não foi um homem... segredou Ambrosina, indo afagar-lhe os cabelos. Põe à larga o coração e reprime os teus zelos... Vou confiar-te um manuscrito, que outros olhos não viram além dos meus... Se o leres, ficarás inteiramente tranquilo... e talvez curado.

? Um manuscrito?

? Sim, querido, uma simples nota de minha pobre vida, mas pela qual poderás penetrar até ao fundo do meu coração, e de lá voltares sarado para sempre da poética ilusão de amor que te inspirei. Espera um instante.

E daí a pouco voltava ela com um pequeno livro de capa negra, que passou a Gustavo. Este abriu o livro, e leu na primeira página:

?LAURA?

? Que significa este nome? exclamou o rapaz.

? Lê! disse Ambrosina. É quase nada... obra de alguns minutos de leitura...

Gustavo afastou o reposteiro da janela e, à luz que vinha de fora coada pelas cortinas, começou a ler o seguinte:

?Era no inverno, um céu de lama enlameava a terra. Eu vagava pelas ruas, sem destino, embriagada e foragida.
?Nesta noite havia rompido com o meu amante, o meu primeiro homem, porque a súbita loucura do outro, que tive por marido, não lhe deu tempo para me fazer mulher.
?Na questão com meu amante era deste a razão e minha toda a culpa: fora eu nessa mesma tarde surpreendida por ele a traí-lo, ao fundo da chácara, sob um caramanchão de jasmins, com um miserável que lhe parasitava a bolsa e lhe corrompia o caráter.
?Fugi de casa com medo que ai me matassem numa crise de ciúmes, e quando me achava lá fora, prestes a sucumbir ao cansaço e ao desamparo, fui socorrida por um pobre homem, generoso e rude, que carregou comigo e me recolheu ao leito virginal de sua idolatrada filha.
?Foi então que conheci Laura.
?Um sonho! Dezesseis anos, olhos negros e ardentes, boca desdenhosa e sensual, dentes irresistíveis e um adorável corpo de donzela.
"Acordei essa noite nos seus braços.
"(...)""
(Fim da citação nossa)

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Em suma, citei apenas as personagens Gaspar, Gabriel, Ambrosina, Gustavo e Laura, entretanto, aviso ao colega leitor que no romance A CONDESSA VÉSPER ele encontrará muitas outras personagens interessantes e importantes para o enredo. Há diversas tramas acontecendo só mesmo tempo, compondo um rico mosaico da sociedade brasileira e também do comportamento humano, em seu aspecto coletivo e também individual.

Acrescento que o texto tem uma leitura fluída, sendo que o suspense e as expectativas criadas não deixam o leitor abandonar a leitura e desacelerar. Há descrições do ambiente, mas são feitas de forma simples, até porque possuem valor alegórico tanto para exaltar o estado de espírito dos personagens como para escancarar a hipocrisia da sociedade.

Em A CONDESSA VÉSPER encontramos amizade, amor, traição, hipocrisia, bondade, honra, desonra, arrependimento, reconciliação, ingenuidade, malícia, sensualidade, erotismo, crimes, assassinato e suicídio.

Encontramos também crítica social e Filosofia. Filosofia do melhor quilate. Há também fotografia. Retratos escritos da sociedade e da alma humana.

Quando você termina de ler uma obra tão deliciosa e trágica, certamente concluirá, mesmo sendo um leigo em ciências das Letras e da Literatura:

"Será que um dia os grandes autores brasileiros terão críticos literários à altura deles? Será que um dia, para o bem da Literatura Mundial e Brasileira, superaremos o viralatismo?"

Da minha parte, modesta parte, fica a dica:

O romance A CONDESSA VÉSPER merece ser lido. Não deixa a desejar para nenhuma obra considerada canônica mundialmente.

Caso a minha empolgação não venha corresponder a sua experiência com a leitura sugerida, peço escusas antecipadas.

Tenho dito!
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Angie 02/04/2020

Como em O Cortiço, esse livro prende o leitor do início ao fim. Com uma riqueza de detalhes e uma narrativa interessante. O autor consegue seguir a história por gerações e nos mostrar uma variedade de personagens muito interessante. E o final é digno e conivente com o que a história propôs. Em resumo, bem elaborado, bem escrito, bem Aluisio.
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Mauro 11/04/2023

Este Livro não é um clássico. Vou tentar explicar o porquê.
Este livro é uma obra desconhecida do autor Aluísio Azevedo. Ele é muito conhecido pelos clássicos naturalistas "O Mulato", " Casa de Pensão" e "O Cortiço", mas o autor escreveu por volta de mais 10 romances nunca mencionados em obras didáticas.
Com a dádiva da internet e do Kindle, fica muito fácil adquirir e ler essas obras obscuras.
Escolhi o livro pelo título, pois parece ser muito curioso, apesar de ter um segundo título "Memórias de um Condenado".

A obra conta a história do jovem milionário Gabriel, que se apaixona pela rica e mimada Ambrosina. A história então segue várias linhas narrativas: conta a história de Gaspar, padrasto de Gabriel e Violante, mãe dele, e seu amor trágico; conta também sobre o ódio entre o avô de Gabriel e o pai de Ambrosina; volta a narrar a história de amor entre Gabriel e Ambrosina, onde ela se casa com um homem que enlouquece e depois vai viver um amor proibido com Gabriel, depois ela engana Gabriel e foge com uma amante mulher e anos depois, volta como a Cortesã Condessa Vésper; Também conta a história de Gustavo, sobrinho de Gaspar que se envolve com a Condessa e se perde.
O livro foi lançado em 1882, já depois de "O Mulato".
Apesar de muito bem escrito, ele é extremamente paradoxal!
Tem o formato folhetinesco e romântico, mas com uma temática realista que foge dos padrões românticos.
O problema é que a obra não possui foco narrativo, pulando de um protagonista para outro, sem fixar numa pessoa só ou numa história só, fazendo com que não seja interessante de acompanhar, principalmente para o público atual que não é acostumado ao formato folhetim.
Só recomendo para quem realmente for querer ler tudo do autor.
Nota: 5,0
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