Sunset Park

Sunset Park Paul Auster




Resenhas - Sunset Park


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Alê | @alexandrejjr 18/03/2022

A milagrosa estranheza da vida

Paul Auster é um escritor estadunidense veterano. Esquecido com frequência pelos críticos em listas de melhores livros dos Estados Unidos devido ao seu estilo europeu de fazer ficção - e talvez justamente por isso "ignorado" -, Auster demonstra em seu 16º romance que somente a história poderá julgar devidamente seu trabalho. Afinal, como afirmou o escritor espanhol Javier Marías em uma entrevista ao programa da BBC World Book Club, a "posteridade pertence ao passado".

Lançado em 2010, "Sunset Park" é uma história sobre colapsos, abandonos, perdão e redenção. Conduzido com maestria pelo autor através de uma voz narrativa em terceira pessoa, o livro traz, de maneira convincente, uma galeria de personagens interessantes com personalidades distintas bem construídas. O fio condutor do romance é Miles Heller, jovem prodígio de 28 anos que guarda consigo um segredo familiar estarrecedor que deixou cicatrizes abertas em sua vida. O cenário? A recessão econômica global de 2008 que devastou o país exemplar do capitalismo e que serve de alegoria para as agruras que as personagens vivem ao longo do livro.

Enquanto narra a saga de suas personagens, Auster presenteia os leitores com o seu tradicional bom gosto e faz citações diversas à (boa) cultura dos Estados Unidos, em especial ao livro "O grande Gatsby" de F. Scott Fitzgerald, o filme "Os melhores anos de nossas vidas" de William Wyler, e a uma série de jogadores de beisebol - que, apesar de ser recorrente e menos empolgante, fez eu acreditar, em algum momento durante a leitura, ser este o livro estadunidense que melhor aborda esse esporte.

Através de uma prosa sedutora, contada em múltiplas perspectivas, nós, leitores, vamos nos acostumando com o pequeno universo de Auster. Começamos a compreender como a terrível cicatriz que marca a história do protagonista afeta a sua nada saudável relação com o pai, Morris Heller, e a mãe, Mary-Lee Swann, e como isso reverbera em sua relação com Pilar Sanchez, sua namorada de 17 anos - e, portanto, menor de idade. Passamos a refletir por que Miles Heller, que é forçado a voltar a Nova York devido a um incidente inesperado, aceita o convite de seu antigo amigo, Bing Nathan, para morar com ele e suas amigas Alice Bergstrom e Ellen Brice (dupla feminina que está tão perdida quanto Miles por razões distintas) em Sunset Park, bairro de imigrantes pobres no Brooklyn, local cercado de casas abandonadas em consequência da devastação da crise econômica que abalou o sistema de hipotecas dos Estados Unidos.

Deliciosamente executado, "Sunset Park" possui pequenos deslizes quando Auster não se segura e envereda para um lado erótico descartável em que, mais uma vez, o pênis é o grande homenageado e idolatrado pelas mulheres (e pelos homens também, no caso desta história). É uma armadilha que quase todos os escritores homens caem, infelizmente. Mas, para os leitores o que importa é que esse desvio de conduta não tira o brilhantismo da narrativa.

"Sunset Park" é um livro marcante? Para mim não foi, apesar de eu ter gostado muito dele. Claro, isso depende de cada leitor, afinal, gosto é um conceito cercado de subjetividade. Mas é preciso lembrar que, às vezes, o que nós precisamos não são enredos arrebatadores, complexos ou extremamente filosóficos. Às vezes, o que precisamos são de boas histórias com personagens que apresentem uma caracterização bem elaborada, mostrando a milagrosa estranheza da vida em que o acaso, conceito caro a Paul Auster, é norteador. E isso é o que "Sunset Park" tem a oferecer de melhor: uma boa história.
André Vedder 18/03/2022minha estante
Está aí um autor ao qual devo uma leitura faz tempo...


Alê | @alexandrejjr 18/03/2022minha estante
Esse título aqui é uma boa porta de entrada, André.


Jacy.Antunes 18/03/2022minha estante
Ótima resenha, como todas as anteriores. O melhor de Paul Auster são as críticas culturais, além da leitura fácil, embora com muitos diálogos desnecessários.
Mas ele está abaixo de Saul Bellow e Phillip Roth.


Carolina.Gomes 19/03/2022minha estante
Talvez eu precise aprender isso ai: ler livros sem esperar enredos arrebatadores, narrativas impecáveis e discussões filosóficas profundas. Estou ampliando os horizontes, mas mantenho as expectativas altas. Excelente resenha, Ale!


JurúMontalvao 19/03/2022minha estante
vc é tão convincente??


Alê | @alexandrejjr 19/03/2022minha estante
Jacy, obrigado pelo carinho! Concordo que ele esteja abaixo do Philip Roth e há anos luz da Toni Morrison, por exemplo. Do Saul Bellow já não posso opinar, pois não li e não é muito do meu interesse, mas mesmo assim acho que o Auster merecia mais consideração da crítica, principalmente pela consistência da obra dele. Apesar de não ter lido o Jonathan Franzen ainda, vejo ele "menor" e menos versátil que o Auster, por exemplo. Mas é pura especulação também;

É isso, Carolina. Boas histórias também merecem bons leitores! E obrigado pelo elogio e por dedicar um tempinho pra ler meus devaneios!

Ju, a gente tenta, né?! Transpor em texto a minha humilde experiência de leitura é o objetivo, sempre!!


Jacy.Antunes 20/03/2022minha estante
Alexandre ,vou colocar Toni Morrison na lista, mas não gostei de Liberdade, de Franzer, que pasme, os críticos consideraram tão bom quanto os Buddenbrok .


Alê | @alexandrejjr 17/04/2022minha estante
Vi e esqueci de comentar, Jacy: comparar o Thomas Mann com o Jonathan Franzen é até um desrespeito! Mas críticos são críticos...




Rubens 07/08/2012

Imagino que alguns leitores devam compartilhar comigo de certa desconfiança diante da imensa quantidade de títulos lançados mensalmente nas livrarias, cuja qualidade literária quase sempre desaponta aqueles que se acostumaram a uma literatura mais elaborada, com temas que nos fascinam pelo que trazem de comum a nossa humanidade e com personagens criados com profundidade psicológica que os torna inesquecíveis. Porém, se por um lado uma dose de “elitismo literário” é necessária para nos fazer voltar sempre aos clássicos, em um mundo em que o tempo para ler é cada vez mais escasso, por outro lado é preciso estar atento a alguns autores contemporâneos que lograram superar os temas rasos dos best sellers e fazem uma literatura capaz de expressar a voz de nosso mundo atual, com suas angústias e com suas esperanças. Neste último caso classifico Paul Auster, o consagrado autor norteamericano, e seu último livro Sunset Park, lançado em maio pela Companhia das Letras, em uma edição que já chama a atenção pelo cuidado gráfico e pela sobrecapa em papel cartonado verde, que lembra uma embalagem de proteção utilizada para embalar coisas frágeis. Talvez este seja um primeiro sinal da particularidade deste livro: algo que trata da fragilidade, dos livros e dos homens, e que nos convida a descobrir em suas páginas. Qualquer tentativa de resumir o livro seria inútil, pois não se trata de uma história de um personagem como querem entender alguns críticos, mas da história de nosso momento atual, como ocidente globalizado, e que embora esteja situada em Nova York, poderia ser em São Paulo, Paris, Atenas ou em qualquer cidade em que a crise, a fragmentação, a desesperança, a imprevisibilidade e a insegurança em relação ao futuro existam. Pode-se considerar que o autor centra sua atenção sobre o personagem de Miles Heller, suas reflexões, experiências amorosas e familiares, forma de perceber o mundo, e em especial sua tendência à confrontação com os limites da realidade, porém o livro nos apresenta outros personagens que “contracenam” com Miles: Bing Nathan, Alice Bergstron e Elen Brice, e que constituem um conjunto que representa a nova geração de americanos (ou de jovens ocidentais?). Para esta geração as perspectivas de futuro são bastante sombrias diante da crise que se instalou desde 2008 (ano em que se passa o livro) e limita a capacidade de concretizar os sonhos, limita o acesso a empregos, nega a segurança para planejar a vida, e resulta em um sentido de resignado imediatismo, adiando ao máximo um desfecho quase sempre trágico e inevitável. O contraponto desse conjunto central de personagens é a “velha geração”, que o autor representa pelos pais de Miles Heller, que tiveram mais sorte no início de suas trajetórias, mas que também se encontram marcados pelo signo da crise e da fragmentação, perambulando em um vazio em busca de respostas que não encontram, pois estão situados na fronteira entre um mundo anterior que já não existe, e um novo presente desconhecido e sombrio. Para alguns pode parecer que se trata de uma visão pessimista do presente, mas o autor parece estar mais próximo de uma visão “desencantada” do mundo, no sentido weberiano, em que a resignação se enleia a cada movimento da vida limitada pelas perspectivas truncadas pelo próprio sistema. Neste sentido poderíamos alinhar os personagens de Paul Auster na mesma tradição dos personagens de outros autores norteamericanos como Faulkner (em Santuário) e de Tenessee Williams (em Um Bonde chamado desejo), nos quais encontramos os mesmo temas da marginalidade, da solidão, do conflito com a realidade, e da procura da identidade perdida em um mundo sem sentido definido. O livro nos fala das tentativas e estratégias inventadas para enfrentar este mundo e nele sobreviver, tentativas que incluem desde a sistemática reflexão sobre o passado, seja em livros, em fotos, ou em amores vividos, e que acabam sintetizadas em uma decisão de utopia quixotesca: tentar burlar as regras e instalar-se em uma casa abandonada em Sunset Park, no subúrbio de Nova York, como que instalando um espaço marginal que poderia manter-se alheio á realidade. Assim, Sunset Park não se limita à história de seus personagens, mas consiste na história de uma tentativa de refundação da realidade, de uma pequena utopia comunitária, que ainda que ingênua e efêmera, permite vislumbrar outras possibilidades para o presente. Ao leitor brasileiro de classe média chama a atenção o fato de que estes seres sem futuro e que se tornam “foras da lei”, invasores de casas, “sem teto” e subempregados, são exatamente nossos semelhantes: filhos de pequenos empresários, filhos da classe média, estudantes universitários, profissionais liberais em decadência. E ainda mais melancólico e estranho: estes jovens estão em Nova York, a grande metrópole idealizada no imaginário mundial, como terra de oportunidades e destino de viajantes ávidos por compras e passeios no Central Park. Talvez o sentimento de “espanto” seria menor se estes personagens fossem ao menos “pobres” e moradores de algum país emergente, mais próximos da imagem que nos habituamos a ver em nossas ruas, favelas, cortiços verticais e barracas improvisadas nos centros das capitais brasileiras, porém o que se descortina nas páginas de Sunset Park é a decadência que não poupa nem os sonhos dessa antes intocável classe média. Assim, é certo que Sunset Park não nos deixa indiferentes, pois além do prazer de uma literatura competente, o livro de Paul Auster também nos leva a refletir sobre o tipo de mundo que se apresenta diante de nós, e sobre as possibilidades de reencontrar nele um sentido que de alguma forma transforme a resignação em esperança.
Felipe 01/02/2013minha estante
Excelente resenha!


Manuella_3 15/07/2015minha estante
Rubens, sua resenha encantadora me levou a querer ler Paul Auster, que passará à frente de outros livros.


Paulo Sousa 23/01/2018minha estante
Perfeita! Acabei de ler o livro e, apesar de ter gostado bastante, não seria tão feliz em escrever uma resenha como a sua.


Rubens 01/02/2018minha estante
Obrigado pelos comentários! Abraços




Alexandre Kovacs / Mundo de K 30/10/2013

Paul Auster - Sunset Park
Editora Companhia das Letras - 280 páginas - Lançamento 27/04/2012 - Tradução de Rubens Figueiredo.

Sunset Park, o 16º e mais recente romance de Paul Auster, lançado originalmente em 2010, tem como pano de fundo a recessão imobiliária americana de 2008 e as desventuras de quatro personagens enfrentando suas respectivas crises pessoais, verdadeiros "losers" em uma das sociedades mais competitivas do mundo, que decidem ocupar ilegalmente uma casa abandonada em Sunset Park, um bairro pobre de imigrantes no Brooklyn. Apesar do grupo de invasores ter uma origem social e intelectual acima da média, todos acabam compartilhando a mesma situação financeira precária por diferentes motivos.

Miles Heller, protagonista que centraliza toda a trama do romance, é um jovem de 28 anos que abandonou um futuro promissor e a própria família após a morte trágica do seu meio-irmão sete anos antes. Ele precisa fugir da Florida para evitar problemas com a polícia local quando é denunciado pela irmã de sua namorada Pilar que é menor de idade. Miles aceita o convite de um antigo amigo, Bing Nathan, para viajar para Nova York, onde morava no passado, enquanto aguarda a maioridade de Pilar e a chance de retornar para a Florida.

BIng Nathan é músico em uma banda alternativa, mentor intelectual do projeto de ocupação e líder do grupo, formado por ele próprio e mais duas amigas, a estudante Alice Bergstrom que tem problemas no seu relacionamento afetivo atual e Ellen Brice, artista plástica frustrada e ironicamente funcionária de uma empresa imobiliária. Enfim, o quarteto enfrenta problemas de todo tipo no decorrer da história que é narrada sempre em terceira pessoa, mas alternando os capítulos do ponto de vista de cada personagem.

Os pais de Miles Heller também participam das vozes narrativas. O pai, Morris Heller, é dono de uma editora de livros não comerciais que atravessa um péssimo momento devido à crise econômica, além de problemas existenciais com a chegada da terceira idade e a sofrida separação da esposa atual. A mãe, Mary-Lee, é uma famosa atriz que nunca conseguiu dar a atenção necessária na criação de Miles, abandonando o pai e filho muito cedo para cuidar da carreira artística. A volta de Miles para Nova York oferece a oportunidade de reconciliação da família e a chance de todos exorcizarem os velhos fantasmas do passado.

Paul Auster carrega no tom pessimista e na falta de esperança do homem moderno que precisa sobreviver em busca de uma felicidade cada vez mais impossível.
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Paulo Sousa 23/01/2018

Sunset Park
Livro lido 3°/Jan//3°/2018
Título: Sunset Park
Autora: Paul Auster (EUA)
Tradução: Rubens Figueiredo
Editora: @companhiadasletras
Ano de lançamento: 2010
Ano desta edição: 2012
Páginas: 280
Classificação: ??????
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Me encantei com Auster ano passado quando li a beleza literária ?A Trilogia de Nova York?. Apesar de escrita nos idos dos anos 80, a qualidade da prosa, as três tramas bem amarradas, a incrível atualidade dos temas, Auster é indiscutivelmente um excelente escritor.
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Agora, ao ler Sunset Park, meu entusiasmo pelo autor não arrefeceu, pelo contrário, o desejo em me adentrar ainda mais em seus livros só aumenta!
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Auster tem um estilo refinado. Nada verborrágico ou pedante. Uma escrita ágil (não é fácil ler suas páginas com velocidade comedida, tão ágil é sua prosa), direta, com veios sinestésicos coloridos, em Sunset Park, apesar de o livro narrar os encontros e desencontros de quatro pessoas diferentes em tudo, mas que, pela fortuita oportunidade de um lugar para morar no centro de Nova York, Auster na verdade retrata um momento. Escrito durante uma das mais agudas crises imobiliárias dos Estados Unidos, as desventuras de Bing, Alice, Ellen e Miles são um presente a mais nesse livro envolvente. Paul Auster sabe dar substância e densidade a seus personagens. Isso porque, apesar de toda a trama girar em torno de Miles, de seu passado nebuloso e os fantasmas dali advindos, os demais companheiros do apartamento que eles invadiram têm vida própria. Vícios, manias, dramas pessoais não resolvidos, quebra de costumes e paradigmas, sensação de perda e desilusão, todos esses ingredientes são usados à larga pelo escritor americano.
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Em outras palavras, Sunset Park retrata uma juventude que sofre, e em sua revolta se marginaliza; uma juventude que se esconde em meio às ruínas para cuidar de suas feridas. Jovens incapazes de se encaixarem numa sociedade arruinada, jovens que buscam sua autoafirmação nessa enviesada necessidade de libertação, como se o simples fato de abrir mão da família, das lembranças, do passado, fosse capaz de purgar todos os erros. Um grande livro, sem dúvida.
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Mion 23/06/2023

Adoro livros que me façam refletir sobre filosofia e arte.
E eu me sentí andando em uma espécie de museu que misturava livros, pinturas e filmes em sua exposição. Mais do que apenas observar e conhecer, o autor propõe analises muito interessantes dessas obras que eu realmente tive que parar a leitura para refletir e digerir algumas reflexões.
Nao tinha caido minha ficha do contexo que o livro passa, assim, achei uma referencia à moradia de "Clube da Luta" na organização da galera. Mas pensando o contexto econômico dos EUA à época, encontrei mais profundidade nas frases e criações do autor, me questionando: "quantas pessoas será que passaram pelo que os personagens passam no final do livro?" e me deparei com um vazio, pois nao encontrei em mim informações a respeito, demonstrnado que necessito de outros mergulhos para atingir conhecimentos a respeito.
Além do mais, após a caida de ficha a respeito do contexto, achei interessante a construcao do autor quando às crises e decisões tomadas por Miles. Um homem que carrega seu passado nas costas como Atlas, que o impede de seguir em frente e até mesmo de permanecer, que quando consegue comecar a mudar, depois de todo trabalho e esforço e lutas e mais lutas, é pego por todo um furacão de surpresas e, praticamente subitamente, tudo se transforma, concluindo com uma reflexão existencialista e uma lição que deveriamos ter aprendido com esses tempos liquidos e transitorios, mas que ainda nao mudamos das gerações passadas. Ou algo que ao menos eu deveria ter aprendido um pouco mas ainda não aprendi.

Aquele momento que sua psicologa aparece no livro rs

Um livro a ser saboreado lentamente, a sentir as questões que atrasam os acontecimentos da vida, às mudancas às quais somos arremessados e ao seu acontecimento subito e profundo de alguns momentos. Mas que isso nao impede nossas reflexões sobre a arte, a presença da morte no cotidiano, de nos apaixonarmos, emocionarmos e até mesmo com encontros felizes, perdoes, apoios e conqusitas.

Enfim, um livro que conta sobre a vida e a complexidade que ela é.
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