Mara Vanessa Torres 07/04/2012
Romanceando o romance
O ex-noviço e atual deputado federal Gabriel Chalita parece que não tem muito mais a dizer além de pregações maniqueístas regadas a cinco adjetivos para cada substantivo ou verbo e lições de moral que beiram ao clichê. O livro "O Sol Depois da Chuva" (editora Gente, 2007, p. 232) revela o mamão com açúcar que tem feito o maior sucesso entre consumidores de auto-ajuda e pessoas que procuram a Deus em páginas de pretensos religiosos, missionários e evangelizadores.
O enredo traz como protagonistas o filho de um pescador, Francisco, um jovem taciturno e sorumbático, assombrado pela amargura da mãe e desaparecimento do pai; o casal boa-praça de biólogos Vítor e Valquíria e sua filha Mara (pois é, pois é), marcados por uma imensa tragédia, e os habitantes de uma charmosa e educada ilha perdida em algum lugar do Brasil. Ao lado de pescadores, pequenos comerciantes, barqueiros e professoras aposentadas, o casal "cosmopolita, mas com o coração bucólico" se une para, em um dado momento e em uma dada pensão (hotel), dar início à sessões de cinema, com direito a comentários vindos de Mara (garota bonita, inteligente, esperta, educada e outras mil adjetivações) e o pobre Francisco (que de taciturno passa a ser desinibido e comunicativo de uma hora para outra).
Tudo vai bem e progredindo a passos largos (progresso que não macula o espírito de comunidade da ilha), até que um acidente fatal modifica tudo e todos. Chalita não consegue passar do batido - talvez nem o deseje, porque o lugar-comum é o seu estilo - e transforma uma ideia que poderia tomar rumos interessantes em um barco da luta do bem contra o mal, do certo e do errado, tudo feito de uma forma tão banal e desinteressante que perde o encanto ao qual ele se propôs. O título é quase poético, tenho que admitir, mas é desperdiçado em personagens caricatos e uma narrativa que beira à mentira, ilusão.
Nem mesmo as tacadas de reflexão servem para amenizar o prejuízo causado pelas limitações do enredo e seus personagens medíocres. Gabriel Chalita deveria considerar a possibilidade de mudar a temática dos seus romances e livretos e buscar novos nichos de mercado.