Zeza Morais 18/09/2017
Aproximação da velhice
O romance "As velhas" foi minha primeira leitura de Adonias Filho. Surpreendeu-me a forma de escrita que foge ao objetivismo engajado da literatura brasileira moderna e vai em busca de uma psicologia mais trabalhosa.
O mote da hisória é a ordem da mãe, Tari Januária, para o filho, Tonho Beré, resgatar os ossos do pai, Pedro Cobra. A narrativa se constrói então, na travessia da selva do sul da Bahia por Tonho Beré e Uirá, na busca de realizar o desejo da velha índia.
Nessa travessia, os fatos são organizados pelo entrelaçamento da narrativa de Tonho Beré na empreitada em busca dos ossos, e das diversas vozes que desenterram recordações das histórias de vida que fizeram nascer as comunidades naquele pedaço de Brasil.
Desse modo, o narrador em terceira pessoa conta na primeira parte o trajeto de Tonho Beré da casa de Tari Januária no Itajuípe até a comunidade de Almadina onde outra velha será apresentada ao leitor - Zefa Cinco. Nessa parte as vozes que narram são de Tari Januária e Uirá, neto da velha que acompanha Tonho Beré.
Na segunda parte, Tonho segue conta da estadia em Almadina onde ele e Uirá viram os "cara de índio". A voz que narra nessa parte é do morador antigo Sô da Sovela.
Na terceira parte, Tonho inicia o trageto de Almadina até o camacã, lugar onde outra velha surpreendente será apresentada ao leitor, Zonga, a negra. As vozes de Anastácio e Zonga conta a narrativa de seus primórdios.
A quarta parte é o trajeto de Camacã a Buerarema, onde a última velha do romance nos é apresentada: Lina de todos. A voz que narra nessa parte é a de Argolo Bom Cacau.
Por fim, o narrador contempla as três velhas - Zefa Cinco, Zonga, Lina de Todos - e conclui que nenhuma delas se compara a Tari Januária: "Outras viveriam nas franjas ou nas entranhas das matas, parecidas entre elas como os dedos da mão, mulheres que povoaram a selva como homens de verdade" (158).
É uma narrativa de velhas cujo motivos evidentes são o tempo e a força reparadora da narrativa. A volta de Tonho Beré ao Itajuípe aponta para a possibilidade de continuar contando, narrando. É isso que os mantém vivos.