Zé - #lerateondepuder 23/03/2023
O segundo livro da melhor trilogia de minha vida
Se a “A Passagem”, o primeiro livro de uma trilogia já havia mostrado ao que veio, “Os Doze” de Justin Cronin cumpre muito bem o papel de ponte entre o início de uma história marcante e seu final derradeiro. O enredo distópico quase fim da humanidade pela ação de vampiros vem em uma sequência frenética, até se fechar em “A Cidade dos Espelhos”, o terceiro e último livro que dará um outro rumo à humanidade, é claro, depois de muito sofrimento.
E segue a história de Amy, a garota imortal de lugar nenhum, juntamente com os principais personagens envolvidos no desfecho da obra inicial, em uma linha temporal que avançará cinco anos depois de tantos acontecimentos decisivos, quando Babcock, um dos mais fortes e conhecidos por virais, é eliminado.
Mas, como o estilo de Cronin é o de idas e vindas para inserir o passado, com a intenção de dar ao leitor grandes reflexões de seus personagens, mais uma vez é contado como se deu a pandemia, como resultado de um experimento militar malogrado e que sai do controle, cujo grande objetivo era criar verdadeiras máquinas humanas de guerra resistentes, até mesmo, à morte.
Para quem não leu “A Passagem”, logo no início do livro ora resenhado, o autor apresenta toda a saga na forma de versículos, dando um ar verdadeiramente bíblico, bem ao encontro da trama maniqueísta, em que bem e mal vivem em um combate altamente feroz, onde fica a impressão de que esse último quase impera ou de que, pelo menos, é muito difícil de ser vencido.
O que tem de atrativo nessa leitura é perceber que todo o mal enfrentado vem, justamente, da arrogância humana, a de tentar agir como seres divinos e querer suplantar a morte. Lembra bem o mito grego Prometeu, que de forma ardilosa rouba o fogo dos deuses para dar à humanidade, mas acaba severamente castigado a passar pela eternidade, diariamente, sendo bicado por uma águia, a qual lhe destrói um fígado que sempre se regenera.
Em suas 860 páginas, é possível perceber um novo grande desafio para quem conseguiu sobreviver, o de não só enfrentar monstros extremamente fortes, rápidos e sedentos de sangue, mas alguns outros humanos da pior espécie, lacaios dos virais, que tripudiam sobre os mais fracos, no sentido de viver mais e, também, controlar os humanos como gado para servir de alimento aos seus servos.
Assim, se articulam Amy, Peter, Sara, Hollis, Michael, Alícia, os principais residentes da primeira colônia, com apoio de militares, para travar uma luta ainda mais sangrenta com os doze virais que sobraram e controlam a horda de feras, humanos que foram tomados e dominam, pelo menos, os Estados Unidos inteiro.
Nesse segundo livro, dividido em prólogo, epílogo e doze partes que são precedidas sempre por uma página, citando dizeres de grandes autores como Milton ou Shakespeare, será possível ver o caminhar dos desafios e desdobramentos enfrentados por boa parte dos personagens do primeiro livro, bem como a inserção de outros e, até mesmo, de suas histórias que entrelaçam passado e presente.
É uma narrativa com toques de Bran Stoker, como seu conde Drácula que mata para se satisfazer do sangue da maioria, que faz escravos controlados ao dar sua mordida, sendo, praticamente, imortal ou muito difícil de ser exterminado. Todavia, nessa trilogia a culpa da humanidade é o grande mote na sua busca insana e sombria pela imortalidade, mesmo ao custo de exterminá-la como um todo.
Toda essa trama de terror mais parece, entretanto, apenas um pano de fundo, uma vez que o autor aproveita para construir, além de cenas e cenários fictícios muito bem detalhados em uma linha assíncrona, as narrativas e dramas que pelos quais tantas pessoas passam: amores, desamores, escassez, perdas, medo e a luta pelo poder, não deixando de trabalhar a vontade de viver, a cooperatividade, o amor e a esperança na vida de seus vários personagens.
Todos os livros dessa série são calhamaços de mais de oitocentas páginas, talvez, um empecilho a quem está acostumado com histórias mais curtas. Entretanto, a forma que Justin Cronin escreve torna a leitura tão agradável e cativante, que mantem o tempo todo, o leitor compenetrado, até o final.
Por fim, os doze dá o nome ao livro, sendo o grande desafio a ser superado pelos protagonistas, atingido de certa forma, mas que irá permitir um final ainda mais atraente e revelador, a ser bem trabalhado no terceiro e último volume dessa série tão bem recebida e aclamada pela crítica, constando na lista dos mais vendidos do The New York Times. Um livro que quem lê o primeiro quer ler até o seu último volume.
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