Bia Machado 14/07/2010Para mim, impossível não se emocionar! E se indignar.Levenford, uma cidadezinha inglesa, não está à altura de James Brodie. Aliás, ninguém ali está. Talvez, por isso, ele não se misture. Talvez, por isso, ele oprima tanto sua família. Ou talvez a explicação seja apenas uma: não há pessoa mais mesquinha, egocêntrica, dominadora e prepotente que James Brodie. "Não devemos nos misturar com os outros", ele apregoa constantemente, insistentemente. Vive com a mulher, a mãe bem idosa e três filhos: Matt, Mary e Nessie. Porém, apenas Nessie merece a sua atenção: ela é esperta, tira sempre as melhores notas e, para o pai, é a única capaz de sustentar o sobrenome Brodie com toda a dignidade que ele merece. E para que isso aconteça, é ele quem cuida pessoalmente de sua educação, não deixando que a esposa "se intrometa", afinal, ela já estragou Matt, seu único filho homem, ao educá-lo cheio de cuidados e fazendo suas vontades.
Talvez pensemos que Mary, por não ser preferida nem pelo pai, nem pela mãe, tenha tido talvez melhor sorte. Não foi o que aconteceu. Assim como os irmãos, ela não é poupada do orgulho de Brodie, sofrendo as piores adversidades. Aliás, após as mais de 400 páginas dessa história de dramas familiares, creio que ninguém do clã Brodie saiu intacto aos mandos e desmandos de James, o "homem sem alma", um verdadeiro psicopata. Nem ele mesmo. Ou talvez sua mãe, já idosa e bem senil, seja a única pessoa que, ao fim do livro, parece não se abalar com a "queda" do clã Brodie, por já estar com a memória fraca. Talvez a senilidade seja o antídoto contra a hipocrisia do filho.
"O Castelo do Homem sem Alma" (no original "Hatter's Castle", ou "O Castelo do Chapeleiro") foi escrito por A.J.Cronin, mesmo autor de "A Cidadela" e publicado no Brasil com a tradução de Rachel de Queiroz. Formado em Medicina, A. J. (Archibald Joseph) teve que se afastar por um tempo de seu ofício de médico por estar trabalhando em excesso. Escreveu "O Castelo..." em 3 meses. Por sua narrativa, podemos perceber o quanto se envolveu com a história. Não há como não se envolver e não se desesperar com as desventuras dos Brodie, causados pelo tirano patriarca.
Durante a leitura, até pensei: "Devo ser masoquista, meu Deus, estou sofrendo até não querer mais com tudo isso que está sendo narrado no livro!" E no entanto, enquanto não cheguei ao seu final, não consegui largá-lo. É ou não é masoquismo?
Para quem vai lê-lo, não espere por um final completamente feliz. Cronin nos dá alguma surpresa boa no final, é verdade. E se passamos o livro esperando pela derrota de James Brodie, adianto que sim, ela virá... Mas de uma forma tão amarga, tão triste, tão absurda... E ficamos pensando: quantos James Brodie não existirão por aí afora, na vida real, em versões masculinas e femininas?
Eu, que me emociono fácil com livros e filmes, chorei diversas vezes. Mas duvido que a trama não emocione os mais "durões".