Kissyan Castro 26/06/2018O ENTERRO DO DIABO OU "A REVOADA"?De minha primeira leitura de "O ENTERRO DO DIABO" tenho a dizer que se trata de um livro que impressiona por sua narrativa intimista e poética (a gênese de Macondo e a descrição macilenta, sórdida de sua gente me remeteu ao Poema Sujo, de Ferreira Gullar, ressalvadas as proporções). O cerne da narrativa é explorada na perspectiva de três personagens que se intercalam, numa espécie de "revoada", isto é, voltando ao ponto de partida, embora introduzindo elementos que tornam possível o andamento da narrativa. O título "A Revoada" me parece mais apropriado, uma vez que o "diabo", qualificativo atribuído ao "médico" de cujo enterro trata a estória, não é mais que o produto da parcialidade de Macondo, povoado decadente que viu na omissão de socorro, por parte daquele, o remate de sua desventura, e por isso o condenou à absoluta execração. O "médico" tinha lá os seus problemas, as suas excentricidades e até mau-caratismo, mas desconhecemos todos os seus antecedentes, sua vida pregressa, de modo que fica difícil aplicarmos sobre ele o nosso "veredito" de leitor sem incorrermos na mesma postura da população de Macondo. O livro é incrível e merecedor de releituras de quantos amam a obra de Gabriel García Márquez.