Sarah 05/02/2022
50 pontos negativos e 1 positivo.
O livro chegou a mim como indicação de um amigo, que me pediu para ler porque estava lendo a versão do ponto de vista de Travis Maddox; já conhecia um pouco da história, tinha uma ideia do que iria encontrar aqui, mas não sabia que seria tanto chorume ao ponto de me engatilhar, não me deixar rir (mesmo nas situações mais toscas) e ficar genuinamente preocupada com o que adolescentes consumem por aí (digo essa faixa específica, porque sei que é a que mais consome essa literatura). Então vamos para a seção de detonação desse livro.
É nítido o desejo de atenção que a autora manifesta por meio de Abby, nossa protagonista, pois ela é uma moça sem atrativos iniciais - não é a mais bonita, a mais bem vestida, a mais inteligente - e mesmo assim ela é capaz de atrair a atenção de um mulherengo que tem pode escolher a dedo com quem vai ficar. Se isso não é a síndrome de Bella Swan, não sei mais o que poderia ser. Posteriormente, nós vamos vendo mais sobre a Abby e o mais doloroso é que não há nada para observar. Sim, ela tem um passado estranho, uma família complicada, mas como isso a moldou não é explicado, todas as ações da personagens são voltada para a fuga de conflitos e nos momentos de confrontos ela também não é capaz de argumentar, por voz ou pensamento, o que sente ou deseja. Abby é como um saco vazio em que a situações acontecem e ela vai de acordo com o vento. Isso me irritou muito, pois não há um pingo de personalidade que torne essa mulher minimamente interessante ao olhos de qualquer um; em muitos momentos ela se deixa dominar, por Travis ou por amigos, não é capaz de fazer escolhas. É extremamente frustante.
Travis por sua vez é exatamente como um personagem posteriormente descreve: um psicopata tatuado. Ele não possui controle emocional, é agressivo, não sabe se comportar em situações de estresse, é vingativo e obsessivo. Não tem nada, nada, que justifique esse tipo de comportamento da parte dele. Você pode até tentar justificar com o fato de ele não ter uma mãe em casa, mas o pai dele é descrito como uma pessoa calma e equilibrada (e se não era, que pena, a autora falhou mais uma vez em desenvolver conflitos importantes e aprofundar personagens). Em muitos, muitos momentos eu fiquei amedrontada com o comportamento desse garoto.
Além desses, todos os outros personagens têm um pézinho em Chernobyl ou são completamente inúteis. A melhor amiga da Abby parece mais a maior inimiga dela, trabalha contra constantemente e Shep é uma mosca morta. Meu destaque vai para Parker e Finch. Mais uma vez a autora demonstra não ter noção alguma de seus personagens e de construção evolutiva de personagens. Parker é o segundo interesse amoroso de Abby e ele é apresentado como um cara gentil, educado e interessante, porém como a autora precisa facilitar a escolha de Abby, da noite para o dia ele se torna um babaca nojento (para depois voltar ao estado normal e a Abby o perdoar. Gente... todo relacionamento construído aqui é um pouco abusivo, é assustador). E por fim, Finch. Finch é o amigo que completa o trio de amizade de Abby, ele é super engraçado, todos os momentos que ele participa da narrativa são leves, mas ele também tem um tato surpreendente para lidar com a Abby. Infelizmente, a autora some com ele por boa parte da narrativa, quase parece que ele não existe.
Falando da história em si, essa também é bem mal desenvolvida. O romance não é aprofundado, o leitor simplesmente tem de acreditar que porque a autora disse que em 2 semanas eles se tornaram próximos, então é verdade. Não há conversas profundas, enriquecedoras, íntimas entre eles dois que seja descrita de fato no livro. A autora surge e some com fatos na hora que ela quer, quando vai ajudar a história ela aparece (do absoluto nada) com uma história que não vimos acontecer, simplesmente porque vai funcionar para um reconciliação - e você leitor, tem que acreditar. Os únicos momentos que tem uma descrição completa são os que levam à beijos ou sexo. Agora nas brigas, a autora investe capítulos e mais capítulos nestas. São narradas à exaustão e isso me preocupa. Veja bem, se você é adolescente e lê esse livro, vai ver um casal que briga horrores e depois se resolve por pedidos bobos de [desculpa, não faço mais], para logo em seguida fazer de novo e voltar de novo. E no final, tudo dá certo para os dois. O que você vai absorver? Que esse é um romance que deu e vem dando certo, que essas são as maneiras corretas de se resolver conflitos, que fugir e destruir portas alheias e revirar casas são maneiras naturais de lidar com raiva e frustação. Eu fiquei muito revoltada com esse livro, muito machucada também; em determinados momentos tive gatilhos inesperados que me deixaram em prantos.
+ bônus: se ouvir os últimos capítulo ao som das mais tristes de Bruno Mars e as mais tristes da Lana Del Rey (tipo, todas) passa o tempo mais rápido e até combina com a narrativa, em alguns momentos.