Paulo Silas 08/07/2014Uma abordagem da moral sobre o mercado, transmitida de forma cativante pelo filósofo popstar da atualidade.
Em "O Que o Dinheiro Não Compra", a análise se dá sobre os limites, no aspecto moral, do mercado na atualidade. Num mundo no qual as regras da economia prevalecem nas mais diversas relações, não somente nas de consumo propriamente ditas, o "parar para pensar" sobre alguns excessos é uma atitude necessária.
O autor propõe uma abordagem sobre tudo aquilo que se é colocado à venda, dentro do aspecto da moral, sugerindo que a reflexão neste contexto seja feita de duas formas, a saber, sobre o ponto da equanimidade e o da corrupção.
No primeiro motivo da preocupação que deve se estabelecer sobre o fato de atualmente tudo estar à venda, aquele que tem a ver com a desigualdade, a análise é feita a partir do pressuposto da famosa crítica contra a desigualdade social. Enquanto os mais abastados teriam (e têm, dentro daquilo que já é aceito atualmente) melhores condições e mais acesso aos "produtos" ofertados pelo mercado, os mais singelos seriam excluídos deste grupo, por não disporem das condições necessárias (dinheiro) para o amplo acesso a tais "produtos".
Já no segundo motivo, o da corrupção, o aspecto da moral propriamente dita é que entra em jogo. Alguns bens podem ou de fato devem ser tratados como produtos de mercado? Deve haver algum limite moral no mercado? A reflexão se faz necessária.
Para exemplificar tais indagações e reflexões, o livro apresenta várias situações do cotidiano nas quais os bens já são tratados como meros produtos de mercado, além de diversas tentativas de certos grupos e os caminhos que estão sendo trilhados justamente neste sentido.
O sangue pode ser vendido, além de doado? O que falar das investidas para que haja o livre comércio de rins? Recompensar com dinheiro alunos que obtenham boas notas nas escolas é saudável? O que falar do marketing incessante, cada vez mais presente em todo e qualquer lugar (anúncios nas escolas, adesivos em frutas, renomeação de estádios de esportes com nomes de grandes empresas...)? O direito de ser imigrante num país mediante paga é algo que deve ser aceito como normal? Tratar seguros de vida como ações da bolsa é válido?
Estes e diversos outros relatos do que já acontece são explanados pelo autor, tecendo sempre uma análise reflexiva sobre o assunto.
Michael J. Sandel não apresenta nenhuma resposta definitiva sobre tais abordagens, mas conclui que não se deve tratar como meros objetos de compra e venda determinados bens, principalmente aqueles que possuem um valor moral intrínseco, ou até mesmo extrínseco nas situações mais gritantes.
De fato, existem coisas que o dinheiro não compra. Ou pelo menos não deveria comprar!
Recomendo!