Ana 23/08/2012
Toda Sua - Pontos Fortes e Os Não Tão Fortes Assim...
Ok, todos os que se interessam minimamente pelas novidades literárias sabem que 50 Tons de Cinza é o "Best Seller" do momento; discussões quanto ao conceito de "Best Seller" Literário à parte, é impossível falar de Toda Sua sem ao menos mencionar 50 Tons de Cinza.
Não, 50 Tons não foi o primeiro romance erótico escrito e publicado - na dúvida se digo a verdade, visite o site da Harlequim. Lá, você se deliciará com romances muito mais quentes e bem escritos do que o citado livro - assim como Toda Sua não está vinculado de forma alguma a ele. Aqueles que afirmam que Sylvia se aproveitou do sucesso de 50 Tons pra alavancar a própria carreira... sinto muito, pessoas, mas vocês não sabem o que dizem.
50 Tons fez sucesso por puro jogo de marketing, já que qualidade não é um de seus fortes. Quem leu, não tem como negar; o livro em si é um relato morno de uma personagem sem graça que não traz nada de original em si, parecendo-se - e muito - com certo sucesso da literatura (?) jovem. Assim sendo, ele fez sucesso por diversas razões, mas nenhuma delas é a qualidade. Se Toda Sua aproveitou-se do sucesso de 50 Tons, é também correto afirmar que 50 Tons se aproveitou do sucesso de Crepúsculo, já que a autora não se preocupou nem mesmo em mascarar as semelhanças.
No final, todos perceberemos que um lançamento acaba se aproveitando do sucesso de algum outro, dando assim espaço pra que o "povo do marketing" possa trabalhar. Em alguns casos, as semelhanças são assombrosas e a ligação entre autores e lançamentos não é mero jogo de marketing - isso nós vemos em 50 Tons - mas em outros as semelhanças param no assunto e gênero do livro, sendo que a publicidade se aproveita do sucesso de outrem pra vender mais exemplares de tal lançamento - e esse caso é justamente o de Toda Sua.
Tirando a limpo essa coisa de ficar estigmatizando o livro como um aproveitador do sucesso alheio, falemos sobre a qualidade do mesmo. Por que, sim, Toda Sua é um livro de qualidade. Não é alta literatura, entende? Nem "média" literatura é, na verdade... mas querer que um romance erótico chegue tão longe é o mesmo que querer que Jesus nasça novamente, morrendo de novo pelos pecados do mundo.
Por que, né, isso nunca vai acontecer.
Temos sim livros clássicos que lidam com esse assuntos proibidos, mas eles são clássicos dentro de seu gênero literário. Comparando-os com os demais gêneros, tais livros perdem ponto. Uma por que o assunto foi, é e ainda será Tabu por um longo tempo... por que o dia no qual sexo deixar de ser Tabu ele perderá boa parte da graça, por assim dizer. E outra que... bem, gente, sexo não é um assunto muito profundo. Por mais que você saiba explorar tal assunto, nunca atingirá o nível de obras mais complexas.
Mas acredito que entrei em um ponto extremamente delicado e que assim não sairei dessa resenha nunca mais...
Voltando ao que interessa, Toda Sua. O livro começa interessante e já entra em ponto de fervura nas primeiras páginas, com o primeiro encontro entre os protagonistas. Um ponto forte da obra é que Sylvia sabe como nos excitar. Não se altere com minha forma direta de falar, pois essa é a verdade e eu não costumo usar de meias palavras. Então a autora sabe o que escrever e quando escrever pra te transportar, fazendo-te sentir toda a luxúria que percorre o corpo da protagonista, a qual se sente excitada apenas com um olhar do mocinho da trama.
E você, é claro, se excita também. É impossível ler a forma como a escritora descreve os sentimentos e paixões da mocinha sem deixar que nossa carne sucumba a tais coisas.
As cenas de sexo são fortes, os diálogos quentes não são moderados e o clima está constantemente em ponto de ebulição durante a narrativa. Tendo construído um enredo complexo ao escolher por explorar os passados sombrios dos protagonistas, Sylvia acabou por perder pontos ao colocar cenas tão quentes já no início do livro. Assim, quando o casal começa a tornar-se dependente da presença um do outro, a coisa toda passa a parecer muito forçada. Gideon, aquele Sr. Sedução que dá vontade de comer logo de cara, começa a perder seus encantos enquanto Eva, que é nossa mocinha perturbada, vai aos poucos se embrenhando em sua vida.
Não que a impessoalidade deva reinar em uma narrativa regada a sexo deliciosamente selvagem. Mas, dentro desse contexto, no livro em questão... deveria ser assim. Pelo menos, por um bocado de páginas.
Então o romance carrega em si aquela marca da literatura erótica: a paixão carnal que se transforma numa intensa e inexplicável ligação sentimental. Você nem mesmo conhece a pessoa e já se torna dependente dela, dizendo amá-la loucamente. E por aí vai...
Então prepare-se pra muitas lágrimas e conflitos sem sentido, fugas inexplicáveis por motivos que ninguém entende e diálogos que não cabem de forma alguma na história. E - a pior parte do todo - prepare-se pra sentir na pele quando boa parte daquela delícia de pessoa que é o Gideon - a frase "eu nem mesmo te conheço, mas quero comer você e sei que você quer ser comida por mim" não é exatamente o que ele diz a Eva, mas define muito bem o que ele é - ser gradualmente destruído durante a trama que vai se desenrolando...
Doeu em mim. Depois de tantas cenas de sexo que, uau!, dão inveja - e algo além disso - só de pensar, quando o Gideon caladão começa a falar, se relacionando com Eva... quanto mais ele fala, menos parecido consigo mesmo ele se torna.
Não quero falar mais nada sobre isso, por que senão estaria dando muito mais do que altos spoilers e desestimulando muita gente a ler o livro. O que importa é que Toda Sua é sim um livro pra se ler com gosto. Por mais que possua muitos pontos que acabam por fugir do estilo merecido à trama, ainda assim merece e muito fazer mais sucesso do que 50 Tons, que é a coisa mais insossa que já li na vida.
Assim, eu espero que você tenha boas experiências com tal leitura. E que, quando possível, possa usar as várias e várias cenas de sexo pra dar aquela aquecida em sua vida sexual...
Toda Sua; bem que eu queria, Gideon... (suspira)