Edmilson 30/12/2018
PEQUENA E BRAVA OBRA
Os livros da série "Isto é História", da editora brasiliense, precisam ser breves e didáticos, por isso não é de se esperar o esgotamento de um tema, mas uma introdução a ele. O livro de Clóvis Moura, portanto, segue a linha da série, sendo sucinto e cortante.
Clóvis parte de uma proposta dupla, aparentemente: [1] mostrar diversos aspectos históricos dos quilombos e das rebeliões negras até os movimentos abolicionistas; [2] contrapor esses aspectos aos enganos que a historiografia oficial nos lega (onde o negro é retratado como sujeito passivo da história, sem influência ou protagonismo em suas repercussões).
Então, os capítulos do pequeno livro mostram como os quilombos não eram exceção no espaço nem no tempo -- estendendo-se pelo território brasileiro de norte a sul, de leste a oeste, do Séc. XVII, pelo menos, ao Séc. XIX. Além disso, os quilombos também não eram isolados, pois mantinham diversas formas de relação com fazendeiros, garimpeiros, regatões, escravos dos engenhos, escravos urbanos e até com marginais, também excluídos da ordem colonial.
O livro também mostra como a economia dos quilombos funcionava, como era a produtividade dos negros quilombolas (até em comparação com a baixa produtividade do negro cativo), como mantinham roças mais plurais que o latifúndio escravocrata, enfim, como os negros rebeldes tinham um sistema econômico bem organizado e relevante em muitos aspectos.
Clóvis Moura também dá atenção ao poderio militar dos quilombos, mostrando principalmente como foi difícil para os fazendeiros e para o governo colonial combaterem os negros rebeldes, precisando arregimentar sempre muita força para fazerem frente aos quilombolas, principalmente aos da República de Palmares.
Por fim, antes de sua conclusão, o autor mostra como os movimentos abolicionistas eram conservadores e tentaram calar a voz dos negros em sua maioria, acreditando que eram selvagens e violentos demais para conduzirem o processo e lutarem pela abolição do regime escravocrata sem prejudicarem a si mesmos e ao processo, sendo o prenúncio do engodo populista de que os governos progressistas seriam acusados ao longo de nossa história (Vargas, Goulart, Lula e Dilma), porque o povo nunca está em condições de falar por si e/ou é presa fácil para políticos populistas.