Cristina Henriques 17/01/2014Em um momento crucial de sua vida, Lorenzo Cuni relembra sua “semana branca” passada há 10 anos da data atual. Uma semana que deveria ser de paz e isolamento, mas que graças à sua meia-irmã, Olívia, se transforma em um marco de seu crescimento pessoal.
Lorenzo era um garoto de 13 anos, anti-social, com um certo complexo de Édipo, sem amigos, que preferia o isolamento ao convívio e que para suportá-lo fingia ser quem não era: um garoto comum de 13 anos.
Seus pais preocupados com seu comportamento, ficam felizes quando ele é convidado por uma turma do colégio para passar uma semana branca, 7 dias de férias em uma estação de esqui, em Cortina d’Ampezzo. Mal eles sabiam que nunca houve um convite, isso fazia parte de um plano do menino para passar uma semana sozinho no seu paraíso particular, o porão do prédio onde mora, com comida, livros e o vídeo game.
Tudo ia bem até Olívia aparecer. Sua meia-irmã bagunça seu mundinho de forma permanente. Viciada, ela decide que é hora de parar depois de viver uma situação degradante por conta de sua fissura pela droga. Ela está em crise de abstinência, precisa de um lugar para ficar e vai passar com o irmão por todo o inferno da desintoxicação.
Lorenzo se vê envolvido em um problema que não é dele, com uma irmã que mal conhecia e, para sua própria surpresa, ele se descobre preocupado com ela, com a avó doente, com as mudanças que está sentindo, consigo mesmo. Uma semana que mudou sua vida.
“Na verdadeira noite escura da alma, são sempre 3 da madrugada”
Francis Scott Fitzgerald, A era do jazz – citação do início do livro.
“As coisas, uma vez pensadas, que necessidade têm de ser ditas?”
“E aprendi a controlar a raiva. Descobri ter um reservatório no estômago e, quando ele se enchia, eu o esvaziava pelos pés, e a raiva acabava no chão e penetrava nas vísceras do mundo e se consumia no fogo eterno.”
“Por que não me deixavam em paz? Por que eu devia ser igual aos outros? Por que não podia viver por conta própria em uma floresta canadense?”
“Sozinho eu era feliz; com os outros, tinha que representar.”
“Isso de ficar escondido e cuidando de seus assuntos não significa que você é uma boa pessoa. É fácil demais pensar assim.”
“Dentro de mim, algo se quebrou. O gigante que me apertava contra seu peito de pedra havia me soltado.”
Bom livro. Leitura rápida e fácil. Apesar disso, o assunto tratado é pesado: problemas psicológicos, dramas familiares, separação, envelhecimento, drogas, confiança, companheirismo, promessas cumpridas e quebradas, tudo pincelado nada muito aprofundado mas de qualquer forma presente.
O final foi triste, mas fiquei pensando depois de terminar de ler, que não havia outro fim possível para esse livro, ele não tinha cara de livro com final feliz. O livro todo é lúgubre, denso, sombrio (a ambientação num porão claustrofóbico se encaixa perfeitamente na trama). Precisava terminar assim.