spoiler visualizarDrica 07/04/2013
Uma boa premissa, contudo mal explorada
Foi difícil resenhar esse livro. Há tantos sentimentos controversos dentro de mim em relação a ele que mal consigo me expressar. Começo dizendo que o que me atraiu até A Guardiã foi a sinopse e a promessa de um texto mais sombrio, adulto, longe dos dilemas tediosos de adolescentes inseguras e insossas. A Guardiã é o livro de estreia de Melissa Marr na literatura adulta, e, pesquisando sobre a autora, descobri que ela tem uma série de livros YA e talvez isso tenha colaborado para que A Guardiã não se encaixasse nem um pouco em uma literatura classificada como mais “madura”.
Ao longo do livro, classifiquei-o sim como mais um YA, pois a despeito dos personagens serem mais velhos, estes ainda vivem “dramas adolescentes”, certos vícios da autora permaneceram infundidos em A Guardiã, como a forma fantasiosa e exagerada com que ela abordou “a terra dos mortos”. Rebbekah, a protagonista, também possui traços um tanto quanto infantis em sua personalidade e em muitos momentos me irritou com sua teimosia.
Em A Guardiã, somos levados até Claysville, uma cidade com tradições funerárias no mínimo excêntricas. Os corpos dos mortos não são embalsamados, e há uma espécie de zeladora pelos túmulos, encarregada de manter os túmulos limpos, contar histórias para os mortos e “oferecer” bebidas a eles. Essa pessoa é Maylene, contudo, depois de morrer inesperadamente, a tarefa de velar os mortos é repassada para sua relutante neta, Rebbekah.
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Confesso que esperava que o pacto entre os cidadãos de Claysville e a Morte fosse mais explorado, queria descobrir sua origem com precisão, seus detalhes e como os cidadãos conviviam com isso. No entanto, o contrato em si nem mesmo aparece no livro, escondido no “mundo dos mortos”. Esperava também que a autora pudesse conceber a terra dos não vivos da forma mais realista e sombria possível, mas o que encontrei foi uma versão ainda mais maluca da Summerland da série Os Imortais.
Em nenhum momento consegui conceber aquele lugar como o lugar de domínio da “Morte”, e falando nela, ou nele, apelidado de Charlie (?), gostaria de ter mais detalhes sobre ele, sobre sua história, sobre a razão de ter aceitado firmar um pacto com a cidade, mas se obtive alguma explicação, ela foi vaga e superficial demais. Queria ter encontrado algo mais elaborado, mais sombriamente perturbador.
Ainda há Byron, conhecido por desempenhar o papel de "Guia" e ajudar a Guardiã a cuidar para que os mortos não levantem de suas sepulturas. Ele é também o par romântico de Rebbekah, mas o achei um personagem um pouco fraco que sempre se submete às vontades de Rebbekah; queria vê-lo se impor um pouco mais em relação a ela porque apesar de muito apaixonado, achei-o facilmente influenciável pela resistência da Rebbekah em manter laços. A história envolvendo Byron, Rebbekah (que entrou na família por meio do casamento da mãe com o filho mais velho de Maylene, Jimmy) e Ella, única filha de Jimmy de seu primeiro casamento, que cometeu suicídio anos antes quando descobriu que seria a próxima Guardiã, é confusa, aliás, toda a história que envolve a família Barrow (Guardiãs) e a Montgomery (Guias) é complexa, mas acho que foi o que segurou a leitura.
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Por mais atraente que fosse para mim a premissa de mortos que são capazes de se levantar de suas sepulturas para se alimentar dos vivos, a ideia foi muito mal explorada e ficou algo quase cômico. Se eu esperei algo imensamente perturbador e envolvente, acabei me decepcionando enormemente. Mas como eu disse, a história das duas famílias segurou minha leitura até o fim porque amo essa temática de famílias que guardam segredos sombrios geração após geração.
Por mais clichê que tenha sido a identidade do vilão, talvez por que eu esperasse ansiosamente por algo mais elaborado ou surpreendente, quando ela enfim foi revelada, pode-se dizer que me surpreendi, porque de fato não esperava que a autora pudesse escolher o personagem mais provável e torná-lo a mente distorcida por trás dos mortos se levantarem de suas sepulturas. Foi algo completamente óbvio, mas, não sei, talvez o fato de eu esperar por outra pessoa tenha acabado por fazer disso algo inesperado.
Dizem que haverá uma continuação, mas sinceramente não me animei. Prefiro fingir que a história terminou nesse primeiro livro mesmo. A Guardiã tinha tudo para se tornar um livro sombriamente cativante para mim, afinal sou apaixonada por temáticas relacionadas à morte, cidades amaldiçoadas e segredos pactuados. No entanto, tudo isso foi abordado de forma quase infantil, muito fantasiosa e mal explicada.
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Ainda consegui classificar o livro como “bom”, devido apenas às famílias Barrow e Montgomery. E um apelo à editora Rocco: Baixe os preços dos seus livros porque sinceramente achei-o um tanto abusivo. A diagramação, capa e revisão estavam muito bons (apesar do tamanho pequeno do livro em comparação com outros e das páginas brancas terem forçado os meus olhos), talvez eu tenha encontrado alguns errinhos de revisão, mas foi só. Ainda assim, paguei muito caro por um livro de 300 e tantas páginas e queria que a editora tornasse os preços de seus livros mais aprazíveis e menos amargos.
E só para finalizar e ressaltar: A Guardiã não é um livro adulto como está na contracapa, mas, sim, um Young Adult com personagens um pouco mais velhos, mas nem um pouco mais maduros.