Viviane.Dias 21/11/2017Resenha | Ragtime - E. L. DoctorowVou conversar sobre esse livro que eu já adianto: estou lendo há quase 2 meses e terminar foi um sufoco. Eu sempre me pergunto se eu estava em um momento ruim de leitura, mas, tendo em vista que li outras coisas ao mesmo tempo e as leituras foram bem mais fluidas, acho que meu problema foi com essa obra mesmo.
Pensem em um livro que tinha tudo pra ser genial, que mistura personagens reais com fictícios, que tem fatos históricos, aborda uma temática incrível sobre de racismo extremo da época, aprendi o que é o ragtime, um estilo musical associado a negritude e que é incrível, mas eu não gostei do desenvolvimento, achei muito cansativo e tive tanta dificuldade em terminar a obra que isso alterou até o meu humor no último mês.
A trama se passa na América, no século XX, período conhecido como "época dos grandes massacres", pois havia ali uma tensão enorme devido as grandes e rápidas evoluções tecnológicas e de disputas pelo poder. Foi um período de muitas mudanças, regado a locomotivas e naus voadoras, inclusive muito bem descritas no livro. A história gira em torno de uma família composta por cinco personagens principais que recebem nomes genéricos: Papai, Mamãe, Menino, Irmão Mais Novo de Mamãe e Vovô. Uma família em ascensão, que foi beneficiada pelos enormes avanços capitalistas, sendo Papai dono de uma fábrica de pólvora e bandeiras. O sonho americano anda lado a lado com essa família que em nada se afasta da realidade da época, nem mesmo em seus problemas psicológicos e reacionários. Além deles, Doctorow insere na trama personagens reais, tais como Houdini, Evelyn Nesbit, Emma Goldman, entre outros que realmente existiram.
Em uma época onde o racismo e a política anti-imigração se tornam a base da mentalidade local, Mamãe encontra enterrado em seu quintal um neném negro ainda vivo. A partir daí, mais da metade do livro lido, as coisas ficam interessantes, pois Mamãe encontra a mãe da criança, Sarah, uma negra apática e que não fala com ninguém, e passa a cuidar desses dois. Nesse ponto as coisas começam a andar, a trama começa a fazer algum sentido, porque até aí só o que se via eram personagens soltos, que apesar de terem ligações entre suas histórias, não chegavam a lugar nenhum. O enredo, brilhantemente escrito, misturando de forma admirável realidade e ficção, não foi capaz de me manter interessada todo o tempo. A obra tem picos de episódios muito bons e longos trechos de absoluto marasmo.
Cada história de uma personagem famosa diferente é abordada em um capítulo e o autor consegue fazer com que cada uma delas se encontre em algum momento da trama, mas mesmo assim você se sente lendo um livro que não vai ter fim (e realmente não tem!). Temos o mágico Houdini, que interage com Papai, Evelyn Nesbit, que se envolve com o Irmão Mais Novo de Mamãe e trabalha o efeito psicológico dele, Emma Goldman também aparece influenciando as decisões do Irmão Mais Novo de Mamãe, entre muitos outros. Enfim, o que eu quero dizer é que cada personagem tem uma história independente ao longo do livro e no final das contas nenhuma delas é efetivamente importante pro resultado final. Eu mesma perdi muito tempo pesquisando as personagens reais pra entender do que tratavam as referências que eu não conhecia.
Infelizmente, acho que esse é o primeiro livro que eu resenho e que eu não indico. Então se alguém aí leu e pensa diferente, por favor, venha conversar comigo pra ver se eu consigo enxergar de outra maneira!
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