Angélica 22/10/2012Slither's TaleGostei bastante desse livro, em especial do personagem principal. Slither é um Anti-herói com "a" maiúsculo: ao contrário da Grimalkin, que mesmo sendo "das trevas" tem fatores atenuantes que a tornam simpática aos olhos d@s leitores(as) (código de honra, o lance com o filho, etc), o Slither é realmente mal - não mal do tipo "huahuahua, farei isso porque adoro ver os outros sofrendo". Ele simplesmente aceita sua natureza, procurando viver da maneira mais tranquila possível em sua condição (o que inclui beber sangue, devorar almas e às vezes carne humana). Do começo ao fim, ele é um ser bestial, e nunca nega ou se sente culpado pela sua condição. Graças à isso ele é realmente capaz de causar sentimentos contraditórios no leitor - em alguns momentos você torce por ele, mas em outros não pode deixar de sentir repulsa.
A outra personagem principal do livro é Nessa, que funciona como um bom contraponto à Slither - a dinâmica entre os dois é muito boa. Ela morre de medo por estar naquela situação terrível, mas é muito mais corajosa e determinada do que a uma mocinha da idade média comum.
Achei interessante a tensão que foi construída entre os dois. O Delaney nunca colocou muitos elementos de romance/sensualidade na série (o mais próximo disso que temos é o amor quase espiritual entre Tom e Alice), e não é agora que irá começar - mas há alguns momentos que sugerem (ainda que bem "de leve") um possível interesse mútuo. *MOMENTO SPOILER* No epílogo Nessa diz que espera poder ver Slither outra vez. Já o Kobalos, no poema-narrativa que termina o livro (e parece contar um sonho ou evento futuro), deixa bem claro sua luta entre dois sentimentos contraditórios: o amor pela moça e seu instinto de querer beber seu sangue e devorar-lhe a carne (no sentido literal, ok? rss).*FIM DO SPOILER*
Uma coisa que eu estranhei foi "Slither's Tale" ser considerado como um dos volumes oficiais da série. A história é uma narrativa fechada - ainda mais do que "I am Grimalkin" - e tem apenas ligações muito tênues com a jornada de Tom & cia. Meu palpite é que certas coisas e fatos que apareceram durante o livro se tornarão fatores importantes na empreitada dos protagonistas a fim de destruir o Demônio - daí a necessidade de se contar essa história. Além do mais, o poema no final do livro nos dá pistas de que essa não será a última vez que ouviremos falar de Nessa e Slither.
Outro ponto que eu achei interessante foi o fato de o autor finalmente tocar na questão da violência contra as mulheres - muito comum na idade média. Tudo bem que nesse caso os perpetradores da violência são os Kobalos, seres malígnos por natureza, mas só o fato de o autor tocar no assunto - e mostrar o quão absurda é essa cultura de violência contra a mulher - já fez o livro ganhar mais um pontinho positivo comigo.
Concluindo, "Slither's Tale" foi uma narrativa ágil e intensa, e uma boa quebra de rotina em relação ao resto da série. A violência característica da saga continua muito presente, mas, como de costume, não chega ao ponto de fazer você querer fechar o livro por causa disso, estando bem encaixada na história. Espero que o autor realmente consiga usar os elementos aqui plantados para proveito da conclusão das crônicas, e torço que possamos realmente ver Slither e Nessa outra vez, nem que seja em um spinoff.
PS: Se aquela criatura na capa for a versão do ilustrador para o Slither, então ele não deve ter lido nem a descrição sobre os Kobalos no bestiário...¬¬.