Pandora 18/08/2012O livro é um verdadeiro banquete: o autor interrompe cada ação no momento certo, como se nos oferecesse uma porção muito pequena de uma iguaria fina a cada vez, impedindo que nos empanturrássemos e nos deixando ávidos pela próxima. No princípio há a curiosidade: "quem é essa mulher e o que pretende?"; depois o horror ao saber o destino dos caronas nos faz odiá-lá; por fim, sabendo-a refém de uma situação que garante sua sobrevivência num mundo estranho, não há como não se solidarizar com ela. É possível se imaginar dentro do Corolla vermelho, ver o suor dos passageiros escorrendo devido ao aquecimento, imaginar a tensão e a dor física de Isserley. O único senão, a meu ver, é o discurso politicamente correto do filho do patrão. Não tente explicar ou justificar uma iguaria: deixe que ela seja mordida, mastigada, desmanchada, sorvida devagar. E que cada um tenha sua própria opinião sobre ela. O final, embora não muito original, é o encerramento adequado para um livro quase brilhante que eu mais do que recomendo.