Paula 13/12/2012Pela segunda vez Cecelia Ahern, autora de P.S. Eu Te Amo, me fez rir e chorar. Se tivesse que escolher entre os dois livros que li da autora como favorito seria A Vez da Minha Vida. É um livro com uma história extremamente divertida e ao mesmo tempo comove o leitor.
A narrativa é deliciosa e perspicaz e o ritmo só faz com que se tenha vontade de "devorar" o livro.
"Prezada Lucy Silchester,
Você tem um compromisso na segunda-feira, 30 de maio.
Com os melhores cumprimentos,
Vida". (p. 8)
Este não era o primeiro bilhete que Lucy recebia de sua Vida e o bilhete também não a surpreendeu, ela já havia lido algo sobre isso em uma revista e como uma pessoa que não se surpreendia facilmente, achou o bilhete apenas incomum.
A narrativa é em primeira pessoa e a história é contada por Lucy. Logo no início do livro, quando recebe o bilhete, lembra do seu feliz relacionamento com Blake, conta maravilhas sobre o cara perfeito que ele era e então diz que ele morreu, para logo em seguida dizer que estava mentindo, na verdade ele está muito bem, apresentando um programa de televisão onde ele viaja pelo mundo. Nessa parte eu tive que rir: bilhete mais namorado maravilhoso que morreu, isso me soou bastante familiar.
E isso revela outra coisa, Lucy é uma grande mentirosa: se acabou se atrasando para o trabalho por causa do trânsito, inventa uma história mirabolante, afinal, não vai dar na mesma (o atraso)?
Depois de terminar com Blake (pelo menos é o que ela diz para todos e o ex acabou concordando com isso) sua vida acabou desandando e ela está infeliz, apesar de não querer admitir ou demonstrar isso. Lucy acabou se mudando do apartamento em que vivia com Blake e alugou um apartamento-estúdio minúsculo. O chão servia como guarda-roupa, seus sapatos ficavam no parapeito da janela e seu carpete estava imundo e queimado. Ela não conseguia levar ninguém para seu estúdio, nem familiares ou amigos, apenas o Senhor Pan, um gato hermafrodita que encontrou na rua, e que ocasionalmente Lucy chama de Samantha ou Mary, o que ele parece gostar.
O relacionamento com sua família não é o dos melhores, sua família é requintada e não está muito feliz com a situação em que Lucy se encontra. Com quase 30 anos não tinha um namorado, um emprego "decente" e ainda era comparada aos irmãos: Riley, um dos melhores advogados criminais e Philip, casado, com filhos e cirurgião plástico.
Quando resolve se encontrar com sua Vida descobre que sua família "tramou" tudo, assinando a papelada necessária para a "intervenção", o que só piora as coisas.
O encontro com sua Vida não é o que Lucy esperava. Dentro de um prédio feio há uma recepcionista que a encaminha para um labirinto de cubículos com mesas pequenas e computadores antigos.
"Ele usava um terno cinza amassado, uma camisa cinza e uma gravata cinza com a tripla espiral da vida em relevo sobre ela. Seu cabelo era preto, manchado com um pouco de cinza e desgreganhado, seu rosto mostrava a barba de alguns dias. (...) Tinha anéis pretos ao redor dos olhos, que estavam vermelhos, fungava e parecia que não dormia há anos". (p. 43)
Ele, sua Vida, está irritado e é um tanto birrento, além de possuir um péssimo hálito e Lucy estava enganada pensando que iria à uma espécie de sessão de terapia e que sua Vida iria lhe indicar qual o melhor caminho para seguir e ser feliz.
"Você é relaxada, perde tempo, nunca termina qualquer coisa que não seja uma garrafa de vinho ou uma barra de chocolate. Muda de idéia o tempo todo. Você não consegue se comprometer". (p. 50)
Enquanto isso Lucy resolve, finalmente, limpar o tapete da sala e liga para um número que pegou com a recepcionista do prédio em que encontrou sua Vida. Como não tinha caneta ou papel, escreveu o número com caneta permanente no chão e como o chão não está lá muito limpo, não sabe se está ligando para o número certo. Quem atende é um cara com quem Lucy passa a trocar mensagens e falar ao telefone, um desconhecido com o qual ela consegue falar a verdade e ser ela mesma.
Lucy não quer mais se encontrar com a sua Vida, mas bilhetes não param de chegar, não só em sua casa, mas em seu trabalho, na casa de seus pais etc. Não dá mais para evitar a vida. E Vida quer ir além, passar um tempo com Lucy, em seu estúdio e acompanhá-la em todos os lugares.
"Cada vez que mentir, revelo uma verdade". (p. 155)
Com sua Vida ao seu lado as coisas acabam ficando absurdamente engraçadas e ao mesmo tempo Lucy e Vida (que é apresentado para os outros como Cosmo) acabam desenvolvendo uma relação única.
A Vez da Minha Vida é um livro que recomendo, muito! Tem personagens hilários, cativantes, verdadeiros e possui ótimas tiradas.
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