Rose 15/02/2018No século XVI a Europa passava por muitas transformações por conta da guerra. Simonetta Di Saronno foi uma das milhares de mulheres que perderam seus maridos e até mesmo filhos no fronte da guerra. A jovem italiana que aos 17 anos perderam o seu companheiro, se vê sozinha e sem muita esperança de um dia voltar a ser feliz. De um casamento arranjado com o jovem Lorenzo, um poderoso senhor feudal, ela aprendeu a ser feliz ao lado marido. O jovem casal desenvolveu um amor genuíno e viviam felizes até a guerra estourar.
Lorenzo viu sua vida passar em seus últimos momentos, e foi em sua amada Simonetta que ele pensou em seu último suspiro. Caiu aos pés de seu fiel escudeiro Gregório, que nada pode fazer para ajudar seu amo. Foi Gregório quem levou a triste notícia para a jovem, agora viúva.
Na outra ponta da história, temos o pintor Bernardino Luini, aprendiz de Da Vinci, e com um talento em pleno desenvolvimento. Para escapar da fúria de um marido traído, ele acabou indo para Toscana a mando do famoso pintor. Ele foi encarregado por Da Vinci de fazer os afrescos da Igreja de Santa Maria dei Miracoli.
E foi na igreja que Simonetta e Bernardino se encontraram. No momento em que a jovem rezava pela alma do marido, o jovem e mulherengo pintor a viu, e no mesmo instante sabia que ela era a mulher perfeita, a que ele tanto procurava para suas pinturas. E ali, sem nem ao menos conhecê-la, ou mesmo a história de Simonetta, ele fez um convite que a deixou escandalizada: que ela fosse a musa de suas pinturas.
Enquanto Simonetta fugia da proposta de Bernardino, e principalmente dos sentimentos que o breve encontro lhe despertou, o pintor foi conhecendo mais da bela mulher que perdera o marido, e estreitava sua amizade com o padre responsável pela igreja.
Mas a perda de Lorenzo foi apenas um dos golpes que Simonetta sofreu. Ela que sempre teve uma vida tranquila financeiramente, acabou sendo confrontada pela dura e nova realidade. Seu amado marido acabou desperdiçando a fortuna da família equipando as tropas italianas para a guerra. Sozinha, e sem família, ela teria que aprender a se virar e gerar renda para seu próprio sustento. Contanto apenas com o apoio de sua fiel ajudante Rafaela e com Gregório, Simonetta acabou aceitando o primeiro conselho que mudaria sua vida: foi pedir ajuda a Manadorata.
Manadorata é um judeu que acabou fugindo com sua família por conta da perseguição contra seu povo. Mesmo não sendo bem visto pela população local, sua vida ainda era relativamente tranquila, perto do que vivia em seu antigo lar. Com sua inteligência para os negócios, ele prosperou e tornou-se um homem rico, sendo isso mais um ponto negativo usado pela população.
Manadorata decidiu ajudar a jovem viúva, e antes de qualquer coisa, deu um segundo conselho para Simonetta: que ela aceitasse ser pintada por Bernardino .
Desta relação de negócios acabou nascendo uma grande e forte amizade. Simonetta e Manadorata acabaram tornando-se mais do que amigos. A jovem não se deixou levar pelas aparências e falatórios, e muito menos pela religião e descendência. Em seu pior momento de vida, onde muitos cristãos lhe deram as costas e a julgaram, aquele judeu, tão perseguido, lhe estendeu a mão.
E foi a força e a sinceridade desta amizade que definiu um desfecho tão lindo para um momento tão cruel.
Mas, o enredo não fica apenas na amizade deles. Simonetta acaba se interessando por Bernardino, mas ambos não estão amadurecidos o suficiente para enfrentarem toda a hipocrisia de uma época. A jovem, tão crente em sua fé, acaba sucumbindo e virando-se contra Deus, o mesmo que para ela, tinha lhe tirado tudo. Enquanto o jovem pintor ateu, foge perdido em seu amor e em sua falta de fé, ciente que precisava antes saber quem realmente era.
Fechando a história, temos a jovem Amaria Sant'Ambrogio, uma órfão encontrada ainda bebê pela Nonna, bem no dia em que esta recebe a notícia de que seu amado filho Felippo havia morrido na guerra. Este encontro, que já tinha 23 anos, mudou a vida de ambas. Amaria que foi abandonada a própria sorte logo após seu nascimento, e Nonna, que não tinha mais sentido algum em sua vida, encontrou neste bebê um rumo para si, e acabou dando para a jovem uma oportunidade de vida.
Fato este que estava prestes a acontecer de novo, pois Amaria acaba vendo um monstro na floresta. Monstro este que sua Nonna acabou descobrindo ser um jovem desorientado e muito ferido, que ela acolheu e cuidou, da mesmo forma que teria acolhido e cuidado de seu filho, se tivesse tido a chance de se despedir.
Os cuidados de Amaria e de Nonna fizeram o rapaz sobreviver. Ele que não se lembrava de nada, nem do próprio nome, acabou recebendo o nome de Selvaggio Santo Ambrósio, e permaneceu ao lado das duas mulheres que lhe deram a vida, amando-as como se fossem sua mãe/avó e sua irmã.
Mas entre Amaria e Selvaggio os sentimentos foram se tornando muito mais que fraternos, para alegria de Nonna, que não gostaria de ver o jovem partir.
E em um momento decisivo na vida de Simonetta e Amaria, elas acabam se cruzando, e este encontro acaba resultando em uma descoberta que pode mudar para sempre a vida de ambas as mulheres. Um segredo revelado que poderia muito bem continuar adormecido... ou será que não?
Uma história rica em detalhes de uma época governada pela ignorância e intolerância, onde os que não seguia as regras eram duramente punidos. Apesar da pouca idade e da pouca experiência de vida, Simonetta se mostrou uma mulher forte e decidida. Confesso que me surpreendi e muito com ela, principalmente por conta da época retratada e da forma como foi criada.
Amaria também é uma jovem interessante e admirável, assim como sua Nonna, mas o grosso da história gira mesmo em torno de Simonetta.
Bernardino a princípio pode deixar alguns com raiva, por conta de suas ações, mas aos poucos o leitor vai percebendo que tudo era uma fachada de autodefesa. Selvaggio que apareceu do nada, e nem sabia quem era, acabou encontrando seu caminho e sendo feliz como merecia.
São 5 vidas que o destino entrelaçou, mas que poucos ou mesmo ninguém imaginariam que pudesse dar certo, ou que fosse possível, ou mesmo correto. Mas o que é correto além de seguir o coração e ser feliz?
Um enredo onde encontramos amor, perdão, força, amizade, intolerância religiosa, fé e arte muito bem entrelaçados e narrados.
Além da história muito bem feita criada por Marina Fiorato, outro ponto que me chamou atenção foi a mistura de ficção e realidade proposta pela autora. Existiu de fato um pintor chamado Bernardino Luini, da escola de Leonardo Da Vinci, que viveu um caso de amor com uma jovem viúva.
Bernardino acabou se tornando o maior artista da Lombardia no Renascimento, e até hoje acredita-se que ele realmente tenha pintado Simonetta como a Virgem na igreja Santuário de Saronno em 1525, enquanto ela inventou a bebida para ele como prova de amor.
Santa Maria dei Miracolli (Saronno) hoje chamada de Santuário Beata Vergini dei Miracolli
Sposalizio della Vergine (Casamento da Virgem) - pintura de Bernardino em Saronno onde supostamente ele pintou a imagem de Simonetta representando a Virgem Maria.
Simonetta
Em sua nota, a autora ressalta que por conta do pouco conhecimento da biografia de Bernardino, ela tomou uma maior liberdade com a história de vida dele, mas cita fatos que são comprovadamente conhecidos.
Eu que adoro uma história de amor, e ainda mais quando são mescladas com a realidade, só posso afirmar que adorei o livro e as nunces de seu desenvolvimento. Mesmo quando imaginava o final que veio a se comprovar, não perdi nenhum pouco o meu entusiasmo pela leitura. Que aliás, recomendo.
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