A Casa dos Rouxinóis

A Casa dos Rouxinóis M. Delly (pseud.)




Resenhas - A Casa dos Rouxinóis


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Adriano 21/01/2019

Livro: A Casa dos Rouxinóis - M. Delly (Biblioteca das Moças - Volume 131)
Estamos chegando às últimas resenhas da Biblioteca das Moças baseadas em releituras, e devo dizer que essas têm um gosto especial. Não só por serem histórias encantadoras, mas também por terem sido as primeiras que conheci desta coleção maravilhosa, e que me inspiraram a reunir mais e mais volumes! ♥

A Casa dos Rouxinóis, de M. Delly, foi, sem dúvida um dos títulos mais importantes nesse sentido, e por isso mesmo, uma das resenhas que eu mais queria fazer. Entre as pessoas que conhecem a coleção, e em especial esses autores, é um livro muito especial, aparecendo frequentemente entre os favoritos desses leitores. Esta releitura, depois de quase nove anos, serviu pra reforçar tudo isso (e pra me lembrar de não demorar tanto tempo para reler meus livros favoritos), e eu espero conseguir transmitir o encanto desta história nesta resenha.

A história começa em Paris, onde vivem Emmeline de Sourzy e sua filha Lilian, de doze anos. Emmeline enviuvou há anos, e depois disso passou por sérios problemas financeiros, levando as duas a uma situação bastante precária. Para piorar, ela sofre com a saúde fortemente abatida, passando a sustentar a si mesma e à filha apenas com trabalhos de costura. Lilian faz o que pode para ajudar, apesar da pouca idade, mas sua mãe se desespera pelo seu futuro, caso o pior aconteça. Em meio a essa situação, recorre a lady Laurence Stanville, uma prima de seu falecido marido, viúva de um riquíssimo industrial inglês. As duas são surpreendidas, porém, quando, em vez de oferecer ajuda financeira, lady Laurence chama-as para irem viver em sua mansão na Inglaterra. Sem ter outra alternativa, Mme. de Sourzy aceita, mas sabe que a partir dali, ela e a filha terão de viver de caridade, e suportando todos os desaforos daquela mulher cruel.

Ao chegarem em Stanville-House, na pequena cidade de Breenwich, seus temores se confirmam. Mme. de Sourzy e sua filha vivem praticamente isoladas, suportando as constantes grosserias de lady Laurence e sua sobrinha Caroline, enquanto seu jovem filho Hugh, orgulho absurdo da mãe, trata a todos com frieza, dedicando-se exclusivamente aos negócios de sua fábrica têxtil.

A única alegria que Lilian e sua mãe encontram é na casa vizinha, onde vivem mais alguns parentes da família Stanville, os pobres O’Feilgen, de origem irlandesa. O jovem Joe é o primeiro que a menina conhece, estabelecendo uma amizade instantânea, e ele convida-a a visitar sua casa. Assim, Lilian logo conhece o resto da família: a mãe, a tia e os quatro irmãos mais novos de Joe. Embora vivam com simplicidade, são todos cantores e instrumentistas, de forma que a casa é sempre cheia de música e alegria, sendo assim conhecida como a Casa dos Rouxinóis.

Porém, depois de suportar inúmeras humilhações e injustiças de lady Laurence e Hugh, e depois do falecimento de sua mãe, um ano após sua chegada, Lilian é enviada a um internato, onde recebe uma instrução completa, a fim de garantir seu sustento no futuro. Por sorte, também conseguiu continuar seu aprendizado de música, que ela tanto apreciava na Casa dos Rouxinóis. Terminados os seus estudos, ao voltar para Stanville-House, agora uma moça de beleza estonteante, ela se desaponta ao perceber que seus parentes ricos não pretendem libertá-la tão cedo. Ela ainda continuará na mansão até sua maioridade, certamente suportando as mesmas humilhações de sempre. Mas desta vez, há uma diferença. Sua beleza desperta, pela primeira vez, a atenção de Hugh, que começa a mudar, aos poucos, sua forma fria de tratá-la. Mas vai ser necessário um pouco mais do que uma simples gentileza para que Lilian consiga superar o rancor pelo tratamento que recebeu no passado.

Aqui está a mesma fórmula usada por M. Delly em Magali. Órfã pobre é acolhida por caridade, sofre humilhação do parente rico, eles passam anos sem se ver, e ao se reencontrarem, se apaixonam, mas entram em conflito com os sentimentos do passado. É claro que, se esmiuçarmos as histórias e os personagens, encontraremos várias singularidades, mas o modelo está aí. Inclusive, as coisas que me agradam e as que me desagradam são semelhantes nas duas histórias. Mas tentemos ir um pouco mais longe, e definir o que torna A Casa dos Rouxinóis uma história especial, mesmo com seus “problemas” e suas repetições.

Correndo o risco de ser repetitivo, devo começar destacando a ambientação. Embora a protagonista seja francesa, a maior parte da história se passa na Inglaterra. Considerando que esse tempo e espaço fossem familiares aos autores, a descrição consegue ser natural e detalhada ao mesmo tempo, transportando muito bem o leitor para a fictícia Breenwich, e para cada um dos cenários que compõem a história. Na minha percepção, a narrativa levemente rebuscada e bastante poética é uma parte importantíssima nessa capacidade que o livro tem de nos fazer viajar para aquele universo.

Os personagens também são muito atrativos. Lilian tem o perfil típico das heroínas de M. Delly: linda, recatada, bondosa e muito cristã. Mas não soa pedante como Gillette de Meu Vestido Cor do Céu, apesar de que o problema ali provavelmente foi a narrativa em primeira pessoa. Também não é conformista, apesar de se ver dependente dos parentes ricos. Ela anseia pelo mínimo de liberdade e autonomia, sempre buscando o melhor para si. Temos também o diferencial de conhecer o relacionamento entre ela e a mãe, coisa que não temos nas histórias de M. Delly que eu li até o momento, pois, em geral, as heroínas já são órfãs de pai e mãe desde o princípio. Aqui, Emmeline e Lilian passam por uma situação muito triste, mas o lindo amor de mãe e filha sempre transparece.

Hugh, é claro, não é meu tipo ideal de herói. Ele chega a ser cruel com Lilian, no começo da história, e a diferença de idade entre eles me incomoda. Na verdade, não a diferença em si, mas o fato deles se conhecerem quando ele tem 23 anos e ela 12 é que me soa um pouco estranho, por mais que eles só se apaixonem anos depois. Apesar disso, ainda consigo simpatizar com ele mais do que com Geraldo, de Magali, e Sérgio, de Escrava… ou Rainha? (acho difícil aparecer algum herói pior que esse… espero não estar enganado!). E, nesta releitura, tive a impressão de que a transformação pela qual ele passa, tornando-se mais gentil e compassivo por causa de Lilian, é bastante convincente, ainda que esse modelo "a bela e a fera" não seja o tipo de desenvolvimento de romance que eu mais goste. Mas, por ter sido uma transição bem feita, torna-se um relacionamento um pouco mais crível.

Quanto às vilãs, lady Laurence e sua sobrinha Carrie, e Rosetta Heghton, tia dos O’Feilgen, não são tão atraentes quanto Ofélia (Magali) e Sari (Freirinha), apesar de Rosetta fazer comentários engraçados e até pertinentes. Estas são do tipo de vilãs realmente más, que amamos odiar, e um dos prazeres da leitura são os momentos em que elas são colocadas em seus devidos lugares.

Por fim, temos a família O’Feilgen, que não é lá muito aprofundada de forma individual, mas eles são sempre divertidos, e têm uma amizade muito sincera e reconfortante com Lilian. Quem se destaca é Joe, o menino bonzinho que torcemos para que seja feliz, mas que acaba quebrando a cara, infelizmente.

O último e fundamental fator que torna este livro tão cativante é a narrativa. O vocabulário rebuscado e poético que citei anteriormente, além de construir a ambientação perfeita, é ideal para treinar leitores que querem se arriscar em leituras mais difíceis. Mas, ainda assim, é uma leitura de fácil compreensão, ágil e bastante divertida em alguns momentos. Pode muito bem ser feita em um ou dois dias, não só por ser rápida e relativamente curta, mas porque consegue prender muito bem a atenção, ainda que não tenha grandes mistérios e reviravoltas.

Dito tudo isto, devo afirmar que, ainda que não me agrade em todos os seus mínimos detalhes, por escolhas dos autores que são explicáveis pela sua época, ainda assim A Casa dos Rouxinóis é um dos meus títulos favoritos da Biblioteca das Moças, do gênero de romance e da literatura em geral, estando sempre entre as minhas recomendações de livros, entre as minhas inspirações para escrever, e entre as minhas opções de leitura para espairecer a mente e sonhar com um universo ideal! ♥

site: https://itspartofmyworld.blogspot.com/2019/01/livro-casa-dos-rouxinois-m-delly.html
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