fernandaugusta 18/06/2022Elizabeth I - @sabe.aquele.livroMeu segundo calhamaço do ano foi "Elizabeth I: O anoitecer de um reinado" de Margaret George. São 796 páginas de um belo romance histórico que narra a vida de Elizabeth, A Rainha Virgem da Inglaterra. A autora abrevia os primeiros 30 anos de reinado e começa esta história em 1588, com a rainha plenamente estabelecida, mas na difícil situação de enfrentar a Armada espanhola, que está a caminho da Inglaterra.
A rivalidade com os espanhóis se dá por antigos laços matrimoniais - o rei Filipe foi casado com a meia-irmã de Elizabeth, a rainha Maria, sua antecessora. Um parênteses: Elizabeth é filha do famoso Enrique VIII (que foi casado 6 vezes) com uma de suas amantes, Ana Bolena. Henrique rompeu com o Papa e proibiu o catolicismo da Inglaterra, fundando o anglicanismo somente para poder se casar com Ana. Maria, filha de um casamento anterior, após a morte do pai, casou-se com o rei de Espanha e retornou ao catolicismo. Foi destronada e assim assumiu Elizabeth, a rainha que fincou de vez a bandeira protestante no país, arrumando a guerra com o ex-cunhado.
Elizabeth passou os primeiros anos de seu reinado lutando com o puritanismo protestante e a ameaça católica - que levou à morte de outra candidata à coroa inglesa: Maria da Irlanda, executada por ordem de Elizabeth. Então começamos assim: com os navios espanhóis chegando e o grande combate em mar e terra, com a derrota da Espanha. A partir dali conhecemos o perfil da rainha, suas ambições, sua corte, seus conselheiros, os costumes da nobreza e tudo que se desenrola com riqueza de detalhes. Elizabeth não se casou e nunca teve um amante, decidindo manter-se virgem. Dizia que era casada com a Inglaterra. Vaidosa, sempre foi preocupada com a sua imagem e não se furtava a flertes, usando seu poder e a possibilidade de um casamento como arma diplomática.
Foi apaixonada por Robert Dudley, conde de Leicester, mas não o desposou. Pelo contrário, Robert foi amante e casou-se com sua prima Lettice Knollys - que foi banida da corte após o casamento. Lettice é a segunda narradora principal deste livro, além de Elizabeth. Suas passagens delineiam a rivalidade entre primas como se fossem opostas: Lettice casa-se três vezes e tem muitos amantes (um deles Shakespeare!). De seu primeiro casamento, nasce Robert Devereux, conde de Essex, e a perdição da rainha ao longo da trama.
Essex, ambicioso e louco por poder, encanta Elizabeth, que o favorece mandando-o como comandante militar e mantendo-o como conselheiro real. Suas "vitórias" o tornam muito popular, e ele passa a cobiçar mais e mais, o que culmina em uma rebelião contra a rainha. Ao longo dos anos, Elizabeth consolida seu poder passando então pelos espanhóis, por Essex, colheitas difíceis e a rebelião na Irlanda. Tudo isso exposto com maestria por Margaret George.
Claro que o romance é imenso e muito focado em política e nas voltas da corte. Mas o panorama da vida em Londres e nos castelos e mansões ingleses é tão bem descrito, com costumes, festas, hábitos que é uma verdadeira imersão histórica, o que em alguns momentos torna a leitura um pouco lenta, mas que compensa muito a falta de "romance" da vida da rainha, por assim dizer.
Não tenho nem palavras para mensurar a quantia de coisas que aprendi com esta leitura. O ritmo da autora aqui é muito descritivo, o que me incomodou em alguns momentos. São muitos personagens e muitos títulos envolvidos, então tive que procurar referências externas em alguns pontos. Acho que ela poderia ter suprimido alguns detalhes a fim de melhorar o andamento da história, mas o livro compensa a perseverança, pois com o passar das páginas os eventos vão se alinhando, e vamos nos familiarizando com os lordes, nobres, damas, conselheiros, líderes e toda a miscelânea de grandes figuras da época, como Francis Drake, Shakespeare, Francis Bacon e Walter Raleigh - para citar alguns.
Não é superior às "Memórias de Cleópatra". Mas para mim superou "Helena de Tróia" e "Maria Madalena", outras obras de George. Com certeza, uma leitura muito marcante e instrutiva.