50 Crônicas Escolhidas

50 Crônicas Escolhidas Rubem Braga




Resenhas - 50 Crônicas Escolhidas


5 encontrados | exibindo 1 a 5


Renata Céli 10/02/2012

Gosto muito das crônicas do Rubem Braga. Algumas me fazem rir, outras me fazem pensar na vida, outras me fazem ver as coisas por outro ângulo, e tem até aquelas que me fazem sentir saudade de uma época em que eu nem era nascida... rsrsrsrs

Rubem Braga tem uma forma de escrever que eu adoro, um jeito poético de ver a vida.

Para aqueles que curtem crônicas, recomendo o livro, principalmente a crônica "Meu ideal seria escrever...", que é a minha favorita.
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Soraya.Utsumi 09/09/2023

Leve e bem-humorado
Em "50 Crônicas Escolhidas", Rubem Braga nos presenteia com algumas de suas melhores crônicas, revelando sua habilidade única em retratar a vida com sensibilidade e perspicácia.

Os textos são sobre fatos corriqueiros que ganham uma nova perspectiva e dimensão partir da visão única de Braga sobre o que nos rodeia. Como ele mesmo diz "os jornais noticiam tudo, tudo menos uma coisa tão banal de que ninguém se lembra: a vida...".

As crônicas de Rubem Braga são verdadeiras janelas para o mundo, nas quais somos convidados a observar e refletir sobre os detalhes que compõem a existência. Com uma prosa elegante e fluida, o autor nos leva para diferentes cenários e situações, desde ruas movimentadas até os tranquilos recantos da natureza.

O que torna as crônicas de Braga tão especiais é a sua capacidade de capturar a essência da vida comum, ao transformar momentos aparentemente simples em reflexões despretensiosas e até mesmo profundas sobre a condição humana.

O autor tem um olhar crítico e sensível e consegue trazer leveza por meio de suas narrativas. É uma leitura cativante, que nos faz encontrar significado nas pequenas coisas e refletir sobre as complexidades da vida.

Uma obra interessante para os que se interessam pela literatura brasileira e para aqueles que desejam conhecer um autor bem-humorado na arte de contar histórias.

As crônicas de que mais gostei neste livro foram: "Coisas antigas", "Meu ideal seria escrever..." e "Às duas horas da tarde de domingo".
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burguês safado 27/08/2022

Nascem varões, de Rubem Braga
Desde o quarto crescente até a lua cheia o mar veio subindo de fúria até uma grande festa desesperada de ondas imensas e espumas a ferver. Vi-o estrondando nas praias, arrebentando-se com raiva nas pedras altas. O vento era manso, e depois do sol louro e alegre vinha a lua entre raras nuvens de leite; mas o mar veio crescendo de fúria; e as mulheres de meus amigos que estavam grávidas, todas deram à luz meninos. Sim, nasceram todos varões.

Nascem varões. O poeta faz um poema seco e triste. Disse-me: quando crescer, ele não o lerá; ou então não poderá entender. O poeta contempla com inquietação e melancolia os varões do futuro. Não os entende; sente que neste mundo estranho e fluido as vozes podem perder o sentido ao cabo de uma geração; entretanto faz um poema. Sinto vontade de romper esse momento surdo e solene em que mergulhamos; ora bolas, nasceu mais um menino. Afinal os meninos sempre nasceram, e inclusive isso é a primeira coisa que costumam fazer; aparentemente essa história é muito antiga, e talvez monótona. Mas estamos solenes. As mães olham os que nasceram. Os pais tomam conhaque e providências. O mundo continua.

O que talvez nos perturbe um pouco é esse sentimento da continuação do mundo. Esses pequeninos e vagos animais sonolentos que ainda não enxergam, não ouvem, não sabem de nada, e quase apenas dormem, cansados do longo trabalho de nascer - ali está o mundo continuando, insistindo na sua peleja e no seu gesto monótono. Nós todos, os homens, lhes daremos nosso recado; eles aprenderão que o céu é azul e as árvores são verdes, que o fogo queima, a água afoga, o automóvel mata, as mulheres são misteriosas e os gaturamos gostam de frutas. Nós lhes ensinaremos com nossa voz, nossos papéis escritos, nosso medo e nossa força, nós lhes ensinaremos muitas coisas, das quais muitas erradas e outras que eles mais tarde verificarão não ter a menor importância.

Este lhes falará de Deus e santos; aquele da conveniência geral de andar limpo, ceder o lado direito à dama e responder a cartas. Temos um baú imenso, cheio de noções e abusões, que despejaremos sobre suas cabeças. E com esses trapos de ideias e lendas eles se cobrirão, se enfeitarão, lutarão entre si, se rasgarão, se desprezarão e se amarão. Escondidos nas dobras de bandeiras e flâmulas, nós lhes transmitiremos, discretamente, nossas perplexidades e nosso amor ao vício; a lembrança de que todavia não convém deixar de ser feroz; de que o homem é o lobo do homem, a mulher é o descanso do guerreiro, frases, milhões de frases, o espetáculo começa quando você chega, um beijo na face pede-se e dá-se, se quiser ofereça a outra face, se o guerreiro descansa, a mulher quer movimento, os lobos vivem em sociedades chamadas alcateias, os peixes são cardume, desculpa de amarelo é friagem e desgraça pouca é bobagem. Armados de tão maravilhosos instrumentos eles empinarão seus papagaios, trocarão suas caneladas, distribuirão seus orçamentos, amarão suas mulheres, terão vontade de mandar, de matar, e de vez em quando, como nos acontece a todos, de sossegar, morrer.

Penso nessa jovem e bela mãe que tem nos braços seu primeiro filho varão. E o quadro eterno, de insuperável, solene e doce beleza, a madona e o bambino. Poderia ver ao lado, de pé, sério, o vulto do pai. Mas esse vulto é pouco nítido, quase apenas uma sombra que vai sumindo. Ele não tem mais importância. Desde seu último gemido de amor entrou em estranha agonia metafísica. Seu próprio ser já não tem mais sentido, ele o passou além. A mãe é necessária, sua agonia é mais lenta e bela, ela dará seu leite, sua própria substância, seu calor e seu beijo; e à medida que for se dando a esse novo varão, ele irá crescendo e se afirmando até deixá-la para o canto como um trapo inútil.

Honrarás pai e mãe - aconselha-nos o Senhor. Que estranho e cruel verbo Ele escolheu! Que necessidade melancólica sentiu de fazer um mandamento do que não está na força feroz da vida! Tem o verbo honrar um delicado sentido fúnebre.

Mas nós, os honrados e, portanto, os deixados à margem, os afastados da vida, os disfarçadamente mortos, nós reagimos com infinita crueldade. Muito devagar e com astúcia vamos lhes passando todo o peso de nossa longa miséria, todos os volumes inúteis que carregamos sem saber por que, apenas porque nos deram a carregar. Afinal, isto pode ser útil; afinal, isto pode ser verdade; isto deve ser necessário, visto que existe. Tais são as desculpas de nossa malícia; no fundo apenas queremos ficar mais leves para o fim da caminhada.

Muitos desses pais vigiaram a própria saúde para não transmitir nenhum mal à próxima geração; purificaram o corpo antes de se reproduzirem. Cumpriram seu rito pré-nupcial e depois, na carne da mãe, já fecundada, prosseguiram em cuidados ternos, como se esperassem ver nascer algo de perfeito, um anjo, limpo de toda mácula.

Procuraram assim, aflitamente, limpar em pouco tempo todos os longos pecados da espécie, toda a triste acumulação de males através de gerações. Agora estão com a consciência tranquila; agora podem tranquilamente começar a nobre tarefa de transmitir ao novo ser o seu vício e sua malícia, a sua tristeza e o seu desespero, todo o remorso dos pecados que não conseguiram fazer, todo o amargor das renúncias a que foram obrigados. O menino deve ser forte para aguentar a vida - esta vida que lhe deixamos de herança. Deve ser bem forte! Forremos sua alma de chumbo, seu coração, de amianto.

Nascem varões neste inverno, a lua é cheia, o mar vem crescendo de fúria sob um céu azul. Mas sua fúria sagrada é impotente; nós sobrevivemos; o mundo continua. E as ondas recuam desanimadas.
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@garotadeleituras 14/12/2016

Uma coletânea de crônicas deliciosas
[ Crônica: Um sonho de simplicidade]
(...) Todo mundo, com certeza, tem de repente um sonho assim. É apenas um instante. O telefone toca. Um momento! Tiramos um lápis do bolso para tomar nota de um nome, um número... Para que tomar nota? Não precisamos tomar nota de nada, precisamos viver - Sem nome, nem número. Fortes, doces, distraídos, bons, como os bois, as mangueiras e o ribeirão. (p.152 - Rubem Braga)

Lendo temas propostos para um dos desafios literários lá no Facebook, descobri o gênero das crônicas com a Martha Medeiros e desde então, leio sempre que tenho oportunidade. Rubem Braga foi o primeiro autor a se consagrar no gênero, visto que sua produção como escritor é considerada célebre para Crônicas, e tido por muitos, referência nesse estilo. Aqui encontramos uma coletânea que descreve lembranças da infância, das suas viagens, do cotidiano da época e alguns devaneios filosóficos do autor. É sem dúvida, uma delícia de leitura, Super recomendo!!!

#Livros #Leituras #MetaDeLeitura #Crônicas
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Matheus.Ferreira 28/06/2017

Leve e lírica
Primeiro contato que tive com a prosa de Rubem Braga. Uma leitura leve e lírica. Meus temas prediletos: memórias familiares; o cotidiano do jornalista, do correspondente de guerra; pequenas trivialidades do Rio de Janeiro boêmio, da época da bossa nova. Uma pena que seja uma antologia de apenas 50 crônicas, pois ao terminá-la fiquei com vontade de ler mais.
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