baunilha 23/09/2013Preciso começar dizendo que estou muito feliz por ter tido a oportunidade de ler essa duologia. Primeiro porque a história é encantadora e depois porque a escrita da Bianca é envolvente, concreta e muito, muito inteligente.
Melissa perdeu seu irmão gêmeo há dois anos. Desde então ela tem sido uma garota apática, sem muitos amigos, nenhum namorado e não encontra prazer em nada. Vivendo uma vida quase automática em Nova Camelot, uma cidadezinha escondida em algum canto do Brasil, ela pode contar apenas com sua mãe, Alba, seus melhores amigos Marcos e Paulinha.
Seu irmão sempre foi fã das histórias do lendário Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. Para suprir a falta o irmão, Melissa tem lido quase todos os livros que o irmão tinha sobre o assunto e por isso, quando começa a ter estranhos sonhos com Morgana, Arthur e os cavaleiros, ela acha que está apenas influenciada pela leitura.
Porém, quando coisas estranhas começam a acontecer, Melissa descobre que sua vida está muito mais ligada ao lendário Rei Arthur do que ela poderia imaginar ou mesmo acreditar.
A história é narrada em terceira pessoa e isso é o que permite que o leitor participe de tudo o que acontece em todos os lugares, seja em Avalon, em Camelot, em Nova Camelot, na Cornualha, em Tintagel ou nos campos de batalha da Britânia. É assim que o leitor acompanha as mudanças que acontecem na vida de Melissa, fazendo estar cada vez mais perto da corte do Rei Arthur e Morgana, mais perto de um tempo que ela jamais imaginou que existia. É isso que nos permite fazer conjecturas, torcer, imaginais finais possíveis.
Melissa não sabe, mas seu destino é se casar com o Rei Arthur e ajudá-lo a unificar a Britânia porque alguém – um mago bastante poderoso [ oh, deusa, quem seria ele? ], desde o século V vem criando realidades paralelas para que Arthur consiga, enfim, ser o grande unificador e herói. Acontece que a cada vez que ele faz isso, algo sai errado e novamente, ele precisa recriar uma nova realidade.
Assim, chegamos ao século XXI e ele tem apenas uma única chance de fazer tudo dar certo. Para isso, precisa que uma profecia se cumpra e novamente, faz com que todos no reino ajam de acordo com sua vontade, seja por meio de persuasão, coerção, ou de magia. Típico desse cara!
Infelizmente, o senhor de todas as vontades - ah, qual é, vocês já sabem que estou falando de Merlin, né – Merlin não conta com o fato de que existe algo que é muito mais poderoso do que qualquer magia, que é o amor. Nesse caso, podemos citar vários… Tanto o amor que Melissa e Lancelot sentem um pelo outro, como o amor fraternal de melhores amigos e o visceral que liga uma mãe aos seus filhos. Bem, nem sempre…
Vocês conseguem perceber que estou me roendo aqui para não dar spoilers, né? Então tá, vamos falar de coisa boa, vamos falar de… Lancelot! Ah, tá bom que você veio aqui ler resenha de um livro sobre as lendas do Rei Arthur e está interessado em Merlin! Vou fingir que acredito.
Lancelot, o melhor amigo do Rei, seu primeiro cavaleiro, braço direito e primo para todos os efeitos. Aquele que durante anos protegeu sua irmãzinha Morgana e que tem por ela um carinho que oscila entre fraternal e paternal (esqueçam a versão na qual Lancelot e Morgana tem umas paradinhas porque aqui isso não existe, chega a ser meio nojento nesse caso). Ele é o cara que se sacrifica, e depois se sacrifica novamente e vai fazer isso todas as vezes que for necessário. Não é de se espantar quando o leitor percebe, aos poucos – porque isso não é de uma hora para outra – que Melissa e Lancelot já se amam, se pertencem, de outro momento…
Por falar em momento, a narrativa não é linear, o que exige que o leitor esteja atento. E não apenas nisso. Esse não é um livro que você possa ler “pulando parágrafos”. Cada um dos dois volumes tem cerca de 500 páginas e nada, nada mesmo, é dito sem motivo. Cada palavra, cada parágrafo, cada capítulo é muito bem pensado e faz diferença ou imediatamente, o no próximo volume.
Eu posso dizer que estou apaixonada pela escrita da Bianca, pelas construções dos personagens que se mantém fiéis do início ao fim. A Melissa, por exemplo, é uma garota antes da morte do irmão e outra nos dois anos seguintes. Mas quando ela vai para Camelot, e começa a ser “testada”, sua personalidade voluntariosa volta à tona. E isso é muito bem construído, principalmente quando ela se lembra dos eventos do seu passado. Dá pra ver que a personagem estava em um período de luto que custou muito a passar. Mas no fundo, ela estava lá, em algum lugar… Todos os personagens são incríveis e apaixonantes. Até os vilões – ain gente, é mais de um, olha quanto amor ter muita gente para odiar.
A verdade é que nenhuma versão das lendas arturianas podem ser consideradas a “versão final”, a última palavra. Cada autor a reescreve ao seu modo e foi isso que a Bianca fez. Ela deu a sua cara, o seu jeito e transformou uma história que quase todo mundo já conhece, em algo que todo mundo vai amar desconstruir dentro de si para conhecer novamente. É uma história original que leva o leitor a se apaixonar novamente pelos mesmos personagens – ou não – e querer viver uma aventura em uma realidade paralela.
Fazia muito tempo que eu não lia um livro de fantasia tão bem ambientado, com descrições tão críveis de cenários e situações como li em Sonhos de Avalon. A Bianca tem a chave do portal que nos transporta para uma realidade paralela e nos faz visualizar cada uma das cenas, cada um dos castelos, cada cantinho escondido de Avalon, dos campos de lavanda [ morre lentamente aqui ] ao centro do vilarejo.
Por fim, o que posso dizer – além de que estou apaixonada pela história – é que a Bianca, em nenhum momento menospreza a inteligência de seus leitores, mas os desafia a partir com Melissa e seus amigos em busca de respostas. E no fim, elas estão lá… É só prestar atenção!