spoiler visualizarThays.Pereira 21/12/2018
O pagador de promessas: sincretismo religioso ou intolerância religiosa?
O pagador de promessas é uma obra originalmente de dramaturgia, mas pelo grande sucesso foi adaptada ao cinema e a TV. Foi escrita por Dias Gomes, um grande dramaturgo e novelista brasileiro. Esta obra narra a história do Zé-do-Burro: um agricultor baiano que, para salvar a vida do seu melhor amigo, que tinha sido gravemente ferido, fez uma promessa grandiosa para uma entidade candomblecista, cuja promessa só seria paga num templo católico.
A obra é narrada em três atos. Logo no primeiro ato, ocorre a chegada de Zé-do-Burro em Salvador, com uma cruz nas costas, acompanhado por sua esposa. Só após alguns diálogos podemos descobrir do que se tratava a tal promessa. Ele havia prometido que se seu burro (Nicolau) sobrevivesse, ele carregaria uma cruz tão pesada quanto a de Cristo, da sua roça até uma Igreja de Santa Bárbara. Além disso, dividiria suas terras com os pobres.
Para infelicidade de Zé, o vigário não permitiu a concretização da sua promessa (colocar a cruz dentro da Igreja de Santa Bárbara). Por falta de tolerância, o vigário caracterizou a promessa como uma verdadeira heresia inspirada pelo diabo; pelo fato de a promessa ter sido feita em prol de um burro, num terreiro de candomblé, para “Iansã". Entretanto, para o inocente Zé-do-Burro, “Iansã e Santa Bárbara é a mesma coisa" (pág.57.). Isso pode ser explicado pelo Sincretismo religioso, que faz com que na cultura popular os orixás africanos sejam associados com alguns Santos católicos.
Por não compreender o que fez de errado, Zé-do-burro insiste em pagar sua promessa. Por sua cruz chamar muita atenção, a história do homem que andou sete léguas (42km) se espalhou por toda cidade; para alguns ele era o “novo cristo “. Muitos aproximaram-se com a ideia de “ajudar", quando na verdade tinham outras intenções. Uma das mais importantes “ajudas" foi a do repórter, para promover as vendas do seu jornal, distorceu toda a história do pobre Zé, colocando-o como apoiador da reforma agrária e um possível comunista aos olhos das autoridades, resultando num trágico fim.
O pagador de promessas é uma obra com uma leitura bem divertida por possuir muitos diálogos e descrições dos sentimentos dos personagens, tornando a leitura muito prazerosa. É voltada para o público jovem e adulto por tratar de temáticas que é necessário ter um pouco de maturidade para entender. É uma boa obra para discutir intolerância religiosa e a influência da mídia que são temas bem polêmicos da atualidade, além de ser uma boa obra para se identificar e discutir sobre marcas linguísticas regionais.