Giordani 01/02/2011
Este livro representa a janela do ocidente para o oriente. Foi através dele que o arquétipo do mundo árabe foi forjado no mundo ocidental, através de contos fantásticos que apresentaram os gênios, as formosas princesas com véu, a severidade dos califas, os grão-vizires, os dervixes, a fidelidade cega dos eunucos, a descomunal ave roc, a lâmpada maravilhosa e o tapete voador, dentre outros.
Durante esta deliciosa leitura alguns pontos, especialmente, me chamaram a atenção:
O primeiro foi uma verdadeira fixação na infidelidade feminina nos contos iniciais, com seguidas condenações à morte impostas àquelas que assim se comportavam. Não é a toa que a causa primeira desta obra seja a descoberta da traição da esposa do sultão e consequentemente a cruel medida deste de não dormir mais de uma noite com as sultanas que se seguiram, até o aparecimento da sagaz Cheherazade.
O segundo deles é a figura dos gênios, completamente diferente daquela que nos apresentaram a televisão e o cinema. Na verdade, eles são os anjos caídos (demônios, para nós), têm asas e são gigantes. Apresentam poderes sobrenaturais, embora limitados, e podem se submeter à vontade dos homens ou das fadas - seres também fantásticos.
O último ponto é a similaridade entre a segunda viagem de Simbá e o episódio da Odisséia, de Homero, em que Ulisses e seus companheiros se encontram prisioneiros do gigante Polifemo. Isso não parece ser uma mera coincidência.
Esta edição é baseada numa seleção de contos do livro original feita por um francês, Antoine Galland, no século XVI, que suprimiu todo o conteúdo passível de “ferir os princípios morais cristãos” com o objetivo de torná-la uma obra para toda a família. Outrossim, uma tradução sem censuras do original deve ser, indubitavelmente, ainda mais interessante.