Ceile.Dutra 30/05/2013Resenha retirada do meu blog - www.estejali.comUm enredo brilhante e personagens ainda em rascunho.
Terminar um livro sem saber se gostou ou não, quem nunca? Não gostei desta sensação, pois ter o livro como indefinido dá uma sensação que ele foi insignificante - até o livro que você odiou tem sua importância, já que ele provocou alguma sensação (mesmo que negativa) em você. E cá estou eu, olhando para este livro de 500 páginas sem sentir amor, mas também sem sentir ódio.
O pano de fundo do livro é realmente interessante: assim como em A Divina Comédia, temos a representação do homem, da fé e da razão. Durante todo o livro, temos uma discussão constante sobre o poema de Dante Alighieri - seja nas aulas do professor Emerson, seja na intimidade de Julia e Gabriel.
Ela é a personificação da bondade, ingenuidade e inocência - ela é como uma Polyana, aquela que enxerga flores em tudo, que sempre acredita no lado bom das pessoas e na redenção. Já ele é o oposto em tudo, rodeado de pecados, se encontra na escuridão - logo, ela acaba sendo a luz. Mas aí é que tá: achei forçado a forma de trazê-los como opostos. Os protagonistas são extremos - não existe uma ambivalência, ou se é puro ou pecaminoso. Acho que isso deixou os personagens pouco humanos e quase não consegui imaginá-los reais (mesmo que seja ficção, é necessário algum traço de verossimilhança, algo que torne real o que está escrito). Pra não falar que não gostei de nenhum personagem, gostei de Rachel, irmã de Gabriel e melhor amiga de Julia que tem um importante papel na hora de aproximar os dois.
Não vi nenhuma necessidade de estender tanto este livro - sério, acredito que em 300 páginas toda esta história poderia ser contada tranquilamente. Apesar da fluidez da narrativa, achei que tudo acontece em câmera-lenta. Sabe quando você lê alguma coisa e vai passando um filme na sua cabeça? Isso acontece aqui, mas tudo bem devagar, lentamente e eu quase via as partículas de pó a cada movimento. A escrita é mais poética, mas muitas vezes se torna piegas - aquela coisa de "banhados pela luz do luar que invadiaZzzZzzzZz", então...
Uma coisa específica ficou martelando na minha cabeça, mas não sei se será spoiler, então quem quiser se arriscar, é só selecionar o espaço abaixo para ler:
Gabriel não lembrava da Julia - a Beatriz que ele teve uma noite de beijos e amassos no pomar, mas se sente estranhamente atraído por ela agora. E numa bebedeira, ele a "enxerga" e faz toda aquela declaração de amor, mas no dia seguinte, não se lembra de nada e volta a se desfazer dela. Mas, eis que num clique, no fechar de portas do elevador, ele a reconhece e tudo muda. E ele muda drasticamente - se torna a pessoa mais romântica do mundo com ela.
1. Por que diabos ela não contou pra ele?
2. Por que, de repente, ele se apaixona por ela de novo só por reconhecê-la? Como se fosse algo que desse pra escolher - se ele não a reconhecesse, continuaria a ignorá-la?
Enfim, depois de horas tentando escrever esta resenha, acho que cheguei a uma conclusão: eu gostei ao mesmo tempo em que não gostei - e não tenho mais a necessidade de "catalogar" este livro na estante. Gostei de algumas partes (as cenas sensuais são realmente boas - e Gabriel bêbado também), mas não gostei de tantas outras (achei muita coisa forçada como, por exemplo, a capacidade do Gabriel se controlar em alguns momentos e parecer racional demais)... Com certeza vou querer a sequência, afinal ainda tenho esperanças de encontrar mais coisas do que aqui (aqui só teve um momento "rápido" de clímax e, no meio de tantos empecilhos para o romance, achei bem pouco).
Ah, já ia me esquecendo: diferente do que pensei, este não é um livro erótico. Ele tem cenas sensuais, mas, no geral, é um romance apenas.