Velho, feio, pobre e burro 11/03/2016minha estanteo Outro Pé da Sereia foi meu primeiro Mia Couto.
oito anos atrás. nem lembro quem eu era há oito anos. nem lembro da história, dos personagens do livro. o que me alembro é que fiquei extasiado, apaixonado pelo universo de Mia Couto.
(o velho aqui se alembra que alembrar é um verbo velho não mais alembrado)
vá lá, não é um livro perfeito, mas isso existe, essa tal de perfeição?
(pode até ser que exista, já que é um substantivo feminino. se masculino fosse, absolutamente não.)
imagino: um audacioso malabarista quer se superar. aos olhos extasiados da plateia, vai levantando e mantendo no ar quantidade cada vez maior de pratos, em alturas altas. até ficar insustentável. cai um prato, quebra-se. cai outro, espalha-se. o malabarista se recompõe, termina razoavelmente bem seu número. muitos aplausos pelo atrevimento, a coragem, a emoção de ousar limites.
Em O Outro Pé da Sereia, Mia Couto ousa equilibrar vários temas em estruturas narrativas paralelas. nos meandros, vacila, parece perder o caminho, então reencontra-se e chega ao final.
eu aplaudi, muito satisfeito. é o que me alembro. é o que achei do livro.
Então,animei-me a ler outro Mia Couto: Terra Sonâmbula.
sedento após O Outro Pé da Sereia, no entanto não encontrei aquele atrevimento, a audácia do outro. Achei a estrutura narrativa muito arrumadinha, certinha, quadradinha, tudo muito calculado. sim, uma história muito boa, a prosa poética maravilhosa, mas sem a pluralidade de temas e de possibilidades interpretativas daquele outro.
o que é melhor: uma casinha pequena mas muito arrumada e cuidada, ou um casarão com arrojado projeto arquitetônico, mas irregular no acabamento, com ótimos e luxuosos cômodos intercalados entre outros de tosco acabamento?
tanto faz, desde que seja Mia Couto.
como me disperso. onde estava?
sim, falava sobre eu & Mia Couto, Mia Couto & eu, uma love story em construção.
depois de Terra Sonâmbula, enjoei da temática africana, e nunca mais li outro Mia Couto.
nunca mais enquanto dure.
um rio chamado tempo, uma casa chamada terra: há um livro dele que nunca li, mas com um nome belíssimo.
se eu tivesse nascido escritor, teria escrito um livro e dado o título: um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.
só que não.
o rio está passando, e a casa enterrando-se.
dureza, dureza.
nossa, meia-noite, tá tarde, por isso que não estou falando coisa com coisa. e olha que nem bebi.
abraços,
VFPB