O outro pé da sereia

O outro pé da sereia Mia Couto




Resenhas - O Outro Pé da Sereia


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Sara 30/01/2022

Segundo livro que leio dele e já tô empolgada para ler os próximos. A trama envolve estadunidenses, brasileiros, portugueses e moçambicanos. Passado e presente juntos, religiões africanas e catolicismo
Rafael Kerr 30/01/2022minha estante
Oi. Tudo bem? Talvez você já tenha me visto por aqui. Desculpe o incomodo. Me chamo Rafael Kerr e sou escritor.  Se puder me ajudar a divulgar meu primeiro Livro. Ficção Medieval A Lenda de Sáuria  - O oráculo.  Ja está aqui Skoob. No Instagram @lenda.de.sauria. se gostar do tema e puder me ajudar obrigado.




Sara Sousa 25/03/2021

Conexão entre tempos
Esse livro é muito bom!
Nele, Mia Couto traz uma conexão social entre passado e presente em Moçambique.
Histórias de vida se unem de forma a trazer ao leitor uma visão crítica sobre a época do colonialismo na África.
Além da questão racial, o autor escreve sobre a violência doméstica a mulher, uma das reflexões sobre a humanidade que é retratada.
Mia Couto também traz visões de personagens de diversos países, como Estados Unidos, Brasil, Portugal e Moçambique. Ele retrata em todos africanidades marcantes de uma história em que todos tem a mesma origem.

Amo Mia Couto e sua escrita que une realidade e fantasia. E este foi mais um livro que amei!
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DIRCE 09/03/2016

Uma viagem ao passado para entender o presente e acreditar no futuro
Eu, como miacoutiano que sou, há muito, pelos livros que li, cheguei a conclusão que Mia Couto não é somente a voz da África, é também voz da alma africana – da mulher africana. Entretanto, no “ O outro pé da Sereia, ele rompe a fronteira africana e traz à tona, entre outras ( leia-se crenças, mitos, a importância da oralidade, uma imagem estereotipada da África ), a condição de mulheres como D. Filipa e Dia Kumari, indianas de condições sociais distintas, mas que igualmente vivem a mercê da obediência, da exclusão e servidão . Mas as africanas não são deixadas à margem nesse lindo livro. As personagens Constança e Mwadia Malunga (mãe e filha)também são apresentadas como reféns do mundo opressor , mas nem por isso são coadjuvantes no enredo, muito pelo contrário, Mia Couto confere a Mwadia – que significa canoa – a missão de navegar em épocas distintas trazendo à tona os efeitos desastrosos da colonização.
Mwadia não desaponta. No ano de 2002, ela se vê obrigada partir de Antigamente, o local onde vive com seu marido Zero Mad Zero, a fim de encontrar um lugar sagrado em sua terra natal (Vila Longe) para a imagem de Nossa Senhora encontrada às margens de um rio próxima a um baú , o qual continha documentos com relatos da viagem do jesuíta D. Gonçalo da Silveira, no ano de 1560 ( qualquer semelhança com a História real não é mera coincidência) e ,dessa forma, ela rompe barreiras do tempo e espaço.
Não posso dizer que se trata de um livro de fácil entendimento. Isto porque Mia usa e abusa do simbolismo e das metáforas e da sua habitual “ brincadeira” ao nominar locais e pessoas, porém, como “ boa viajante” que sou, creio que consegui encontrar uma interpretação plausível ( deve haver muitas ) para a trama. Existem muitas referências à morte, e os nomes das personagens e lugares são muitos significativos. O nome Zero Mad Zero é um exemplo dessa “brincadeira”, pois revela sua ocupação na vida, ou devo dizer a não vida. Quanto a morte, ela pode ser entendida tanto como morte física como a morte da identidade em razão da colonização.
Mas continuemos. Em sua travessia Mwadia chega à Vila longe, onde residem seus conhecidos e parentes, entre eles, sua mãe e padrasto, e, mais uma vez, fui assaltada pela dúvida: Vila Longe não passaria de um imenso cemitério? Mwadia se confronta com situações irreais...: um cachorro se assusta com a sua passagem, o espelho não reflete a imagem das pessoas. Vila Longe significaria um Moçambique devastado pelas guerras e pela colonização?
Bem, se “ O outro pé da Sereia” me surpreendeu pela dificuldade de interpretação, o mesmo não aconteceu em relação a escrita: lírica, poética, irônica , com diálogos e citações profundas e, claro, apaixonante como sempre.
Essa obra suscitou inúmeras questões e se eu abordasse todas elas, tornaria esse comentário infindável, e correria o riso de falar mais baboseira, portando, finalizo ressaltando a importância do papel de Mwadia que, embora tenha falhado no seu intento : o de encontrar um santuário digno para a Santa em Vila Longe, ela se dá conta do seu poder de recompor a história do seu povo e , só retorna a Antigamente quando termina a revisitação do passado e pode finalmente sepultá-lo. Despede-se de Zero Madzero, pois deve seguir em direção ao rio. Amei o final. Que bobagem eu estou dizendo! Amei o livro todo. E como Mia Couto é uma grande admirador, e por quê não dizer um discípulo de Guimarães Rosa , não consigo controlar o desejo de deixar uma das suas falas:
(...) amo os grandes rios, pois são pro fundos como a alma do homem
Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas
são tranqüilos e escuros como os sofrimentos dos homens.
Amo ainda mais uma coisa de nossos grandes rios: sua eternidade.
Sim, rio é uma palavra mágica para conjugar eternidade.
João Guimarães Rosa

Velho, feio, pobre e burro 11/03/2016minha estante
o Outro Pé da Sereia foi meu primeiro Mia Couto.
oito anos atrás. nem lembro quem eu era há oito anos. nem lembro da história, dos personagens do livro. o que me alembro é que fiquei extasiado, apaixonado pelo universo de Mia Couto.
(o velho aqui se alembra que alembrar é um verbo velho não mais alembrado)
vá lá, não é um livro perfeito, mas isso existe, essa tal de perfeição?
(pode até ser que exista, já que é um substantivo feminino. se masculino fosse, absolutamente não.)
imagino: um audacioso malabarista quer se superar. aos olhos extasiados da plateia, vai levantando e mantendo no ar quantidade cada vez maior de pratos, em alturas altas. até ficar insustentável. cai um prato, quebra-se. cai outro, espalha-se. o malabarista se recompõe, termina razoavelmente bem seu número. muitos aplausos pelo atrevimento, a coragem, a emoção de ousar limites.
Em O Outro Pé da Sereia, Mia Couto ousa equilibrar vários temas em estruturas narrativas paralelas. nos meandros, vacila, parece perder o caminho, então reencontra-se e chega ao final.
eu aplaudi, muito satisfeito. é o que me alembro. é o que achei do livro.
Então,animei-me a ler outro Mia Couto: Terra Sonâmbula.
sedento após O Outro Pé da Sereia, no entanto não encontrei aquele atrevimento, a audácia do outro. Achei a estrutura narrativa muito arrumadinha, certinha, quadradinha, tudo muito calculado. sim, uma história muito boa, a prosa poética maravilhosa, mas sem a pluralidade de temas e de possibilidades interpretativas daquele outro.
o que é melhor: uma casinha pequena mas muito arrumada e cuidada, ou um casarão com arrojado projeto arquitetônico, mas irregular no acabamento, com ótimos e luxuosos cômodos intercalados entre outros de tosco acabamento?
tanto faz, desde que seja Mia Couto.
como me disperso. onde estava?
sim, falava sobre eu & Mia Couto, Mia Couto & eu, uma love story em construção.
depois de Terra Sonâmbula, enjoei da temática africana, e nunca mais li outro Mia Couto.
nunca mais enquanto dure.
um rio chamado tempo, uma casa chamada terra: há um livro dele que nunca li, mas com um nome belíssimo.
se eu tivesse nascido escritor, teria escrito um livro e dado o título: um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.
só que não.
o rio está passando, e a casa enterrando-se.
dureza, dureza.
nossa, meia-noite, tá tarde, por isso que não estou falando coisa com coisa. e olha que nem bebi.
abraços,
VFPB


DIRCE 11/03/2016minha estante
Risos, muitos risos. Mia Couto nos deixa embriagado mesmo. Eu não enjoo do Mia, pois embora a temática seja recorrente, ele consegue fazer cada obra seja singular. E que venha mais mia Couto.


Velho, feio, pobre e burro 11/03/2016minha estante
: )
sim. a vida é mais, melhor com Mia Couto.
preciso voltar a mergulhar nas águas desse rio.
estou a esperar o rio fazer curva e me encontrar e levar. leva eu, leva eu, leva eu...
ah, como sou burro! sou eu que preciso me curvar, entregar, me deixar assaltar.

estou pensando em um poema do Manoel de Barros que é assim:

O rio que fazia uma volta
atrás da nossa casa
era a imagem de um vidro mole...

Passou um homem e disse:
Essa volta que o rio faz...
se chama enseada...

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

o poema é esse. e o burro que nomeia enseada sou eu, que empobrece o rio, que quer ver e nomear tudo objetivamente.

Mia Couto não, ele vê a imagem de um vidro mole, a cobra de vidro, a curva do rio. e por isso é tão bom.

há um velho que precisa desaprender, desarranjar-se de seu modo de ver, Mia ler.
abçs,


Luciana.Lopes 08/02/2020minha estante
Que lindo comentário, Dirce!
Eu ia até fazer uma resenha desse livro apaixonante, mas usurpo a sua como se minha fosse, tá?


Cris 10/02/2020minha estante
Que resenha linda, também sou apaixonada pela obra do Mia Couto. Tenho esse livro há uns 3 anos, eu estava num momento complicado e acabou não rolando uma identificação imediata, aí deixei de lado. Agora quero retomar a leitura e sua resenha me ajudou!


Sophia 03/07/2020minha estante
Como faz pra ler os livros?


DIRCE 03/07/2020minha estante
Oi Sophia. Pelo skoob você não consegue ler os livros. O skoob é uma rede social , uma estante virtual destinada a você elencar, comentar e avaliar os livros.


Sophia 03/07/2020minha estante
Ahh obrigado dirce


DIRCE 03/07/2020minha estante
Vou ver se consigo um link por meio do qual é permitido a leitura e te falo


Sara Sousa 24/03/2021minha estante
Que texto lindo! Também sou muito fã de Mia Couto! ?




Mayara945 17/02/2022

Uma estrela que caiu do céu
Mia Couto tem o dom de tecer histórias que se entrelaçam e nos encantam.

Em O outro pé da sereia, temos duas histórias que ocorrem em épocas diferentes, mas como dois rios, deságuam juntos em um único final.

O pastor de burros Zero Madzero e sua esposa Mwadia encontram uma estátua de Nossa Senhora e precisam buscar um lugar sagrado para deixá-la. Como o pastor é impedido de sair de Antigamente, a vila em moram, Mwadia retorna a sua terra natal, Vila Longe, em busca de um lugar apropriado para santa.

150 antes, a nau Nossa Senhora da Ajuda parte de Goa em direção a Moçambique, levando o jesuíta Gonçalo da Silveira com a intenção de converter o imperador do reino de Monomotapa. Na nau também viaja a estátua de Nossa Senhora, que foi benzida pelo papa.

Já é o quarto livro do autor que leio, e posso dizer que é uma dos meus autores contemporâneos prediletos.
Janaina Edwiges 17/02/2022minha estante
Gostei muito da sua resenha! Muito boa! Parece ser uma história bem bonita!


Mayara945 18/02/2022minha estante
Sim! É uma história cheia de simbolismos e com uma linguagem muito poética. Eu recomendo muito




Cristiana.Dieguez 25/05/2022

Perfeito
???????????????????????????????????????????????????
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Rafael 27/12/2012

O encontro da prosa com o verso!
Mia Couto é um poeta que escreve em prosa. A sutileza com que escreve permite que simples neologismos soem bem. Ele escreve o que vivenciou, o que seus tristes olhos moçambicanos registraram. Seus livros são tristes, sombrios, mas, ao meu ver, permanece uma esperança oculta.
A guerra cessou, mas não acabou. As bombas continuam matando, e matam nos sonhos. Fechar os olhos é arriscar-se a acordar na guerra que talvez só tenha um fim quando o homem desabitar o planeta.
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rafaela 05/08/2014

Incrível!
Quando comecei a ler este livro, a única coisa com a linguagem mais rebuscada que eu havia lido tinha sido a trilogia Fronteiras do universo. Depois dessa minha declaração, vocês podem imaginar que no começo deste livro tive alguns probleminhas com a escrita do Mia Couto pela sua ''complexidade'', chegando a deixar o livro de lado por um tempo. Quando o peguei de novo, tive o mesmo problema mas decidi continuar lendo mesmo assim, e foi uma das melhores coisas que já fiz! Foi impressionante como eu consegui engatar na leitura rapidamente e simplesmente não conseguia parar de ler! A escrita dele passou de difícil para uma leitura maravilhosamente poética, linda e rebuscada (de um modo positivo). A estória é extraordinária, alternando passado e presente, sonho e realidade, nos faz passear entre as crenças, esperanças e lendas do povo africano, sempre com um toque de realismo fantástico. Não vou dizer mais nada, pois é uma experiencia bastante divertida ler este livro sem saber quase nada sobre ele, e de capitulo em capitulo ir mergulhando na trama. Só te digo uma coisa: Leia devagar, pois quando acabar você vai querer mais.

Uma das melhores leituras do ano e com certeza procurarei outros livros do autor.
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Marisol 21/12/2020

O outro pé da sereia
A história remete a uma santa, Nossa Senhora, também chamada de Kianda e Nzuzu, cujo um dos pés é partido. A história se passa em dois tempos, 1560 e 2002. Apesar do centro ser a imagem, que é transportada no século 16 para converter um imperador ao cristianismo, e no século 21 para ser levada a um altar, em uma igreja, Mia Couto exalta a cultura moçambicana, inclusive no vocabulário, além de temas como a escravidão dos negros e o preconceito religioso. Com várias histórias cruzadas, Mia consegue ser cômico, crítico e poético. Haja frases impactantes nesta história.

As metáforas e o lirismo, que também aparecem nas falas dos personagens, são sensacionais. Segue um trecho: “Esta poeira não vem da terra mas dos anos. Temos medo do pó porque é uma prova de que o Tempo existe e nos vai tornando obsoletos, quase minerais”. Este é o segundo livro de literatura africana em língua portuguesa que leio (a primeira foi Mayombe, do angolano Pepetela); uma forma de entrar em contato com a cultura que também conversa com a nossa.

site: https://www.instagram.com/marisoldeandrade/
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Valério 20/07/2017

Superando expectativas
Antes de ler "O outro pé da sereia", havia lido "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra". Havia gostado bastante. E esperava algo parecido ao ler "O outro pé da sereia". Engano crasso. Este é ainda melhor. O realismo mágico, a atmosfera lúdica, a brincadeira linguística aqui se mostraram mais fortes, explorados no limite, com um resultado delicioso.
Personagens que se perdem em seus próprios devaneios. Fantasias que se misturam à realidade. E, o tempo todo, fica a dúvida se a narrativa trata da realidade ou do desvario.
Li este livro por sugestão de uma amiga do Skoob. Fica o agradecimento: Flávia Mel, este livro perduraria por não sei quanto tempo na minha estante, aguardando ser selecionado para leitura.
Antecipei e tive uma mistura de Saramago (na brincadeira com a língua portuguesa) e Garcia Marquez (realismo mágico).
Desses livros que, assim que terminamos, queremos imediatamente ler de novo, entender pontos que nos confundiram, sentir mais os personagens.

O racismo é abordado de uma forma tão original, uma visão de mundo tão desenvolvida, que pouco se vê por aí. Nada do vitimismo escandaloso que se prega aos quatro ventos e que um raciocínio pouco crítico e baseado em estudos superficiais ajuda a difundir Brasil e mundo afora.
Certamente, desses livros que não podemos passar a vida sem ler. Já saudoso de vários personagens: Zero Madzero, Matambira, Jesustino (e seus vários outros nomes), o malandro Casuarino, e o meu favorito: Mestre Arcanjo Mistura, com suas teorias conspiratórias e cultura acima da média.
Livro que esperará sua certa releitura, qualquer dia desses. E que elevou Mia Couto em minha categorização literária.

Flávia 22/07/2017minha estante
Ah! que delícia de resenha, Valério! Que prazer saber que fui responsável pela antecipação da leitura desse livro que está entre os favoritos dos meus favoritos!




Felipe 16/06/2015

O melhor livro do Mia Couto.
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Jag Luz 21/04/2022

Simplesmente fantástico
O que me chamou atenção para o livro O Outro Pé da Sereia, do moçambicano Mia Couto, fora sua escrita onírica e poética, percebi muito mais marcante neste livro.
Você faz uma verdadeira viagem pelo tempo, conhecendo usos e costumes e se envolvendo com os personagens. A santa sen um Pé a estrela que cai e os pulos pelo tempo.
Com certeza vou ler outra vês e também buscar outras obras de Mia Couto
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Thami 27/02/2021

Poesia na água
A narrativa é bastante poética e vai nos levar com Mwadia de volta às suas origens na vila em que cresceu onde muita coisa vai acontecer (ou não!) haha o livro por vezes é confuso e aberto a interpretação.
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Carina 11/09/2013

Não é dos melhores, mas é do Mia Couto
A narrativa descentralizada, que se passa em épocas e locais distintos e apresenta diferentes protagonistas, é interessante do ponto de vista técnico, mas deixa a desejar ao leitor.

A variedade de histórias faz com que seja mais difícil acompanhar o ritmo dos acontecimentos ou se permitir cativar pelos personagens. Alguns trechos fogem a essa regra, mas justamente por ser uma obra longa, é difícil que o escritor mantenha o mesmo fôlego no mesmo nível durante toda a trama.
A boa escrita de Mia Couto, contudo, é a que sustenta o livro, mesmo que ele não seja tão plenamente satisfatório quanto os outros do autor.



Trechos:

A melhor maneira de fugir é ficar parado.

A mulher regressava à sua condição de esposa: retirou-se, convertendo-se em ausência. Lá fora, ela se dedicaria à sua mais antiga vocação: esperar.

Nenhum sonho se pode contar. Seria precisouma língua sonhada para que o devaneio fosse transmissível. Não há essa ponte. Um sonho só pode ser contado num outro sonho.

Lázaro sempre dizia que não resolvia problemas. Ele dissolvia os problemas, que é uma forma superior de prestar ajuda.

A vida, para ele, era um rio comportado. A felicidade era o prenúncio da inundação.

Eis a nossa sina: esquecer para ter passado, mentir para ter destino.

A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores. A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar onde podemos ter casa.

O que faz uma igreja é o silêncio mora lá dentro.

Quem parte treme, quem regressa teme. Tem-se medo de se ter sido vencido pelo Tempo, medo de que a ausência tenha devorado as lembranças. A saudade é um morcego cego que falhou o fruto o mordeu a noite.

A casa da infância é como um rosto de mãe: contemplamo-lo como se já existisse antes de haver o Tempo.

As pessoas é que abrigam a casa, a ternura é que sustenta o tecto.

A casa tem nome? E que nome tem a pedra? (...) Deram-nos nome como um modo de nos dizerem que não temos eternidade.

A vida são golpes, costuras e pontes.

A saudade é a única dor que me faz esquecer as outras dores.

A tristeza é uma doença, a alegria é um veneno. Como escolher?

Salvar é uma grande palavra. E amor é uma palavra ainda maior. Grandes palavras escondem grandes enganos.

Uns dizem que nos dividimos entre religiões. Não nos dividimos: repartimo-nos. A alma é um vento. Pode cobrir mar e terra. Mas não é da terra nem do mar. A alma é um vento. E nós somos um agitar de folhas, nos braços da ventania.

O que não é nosso em um mundo em que tudo nos roubam?

Temos medo do pó porque é uma prova de que o Tempo existe e nos vai tornando obsoletos, quase minerais.

Para nós, africanos, o tempo é todo nosso. O branco tem o relógio, nós temos o Tempo.

Mentir não passa de uma benevolência: revelar aquilo em que os outros querem acreditar.

Nascemos e choramos. A nossa língua materna não é a palavra. O choro é o nosso primeiro idioma.

Pela dança voltamos ao ventre materno. Foi lá, nesse oculto abrigo, que escutamos o primeiro tambor, executamos os primeiros movimentos de embalo. Foi lá que fomos peixe, fomos água, adormecida onda, incessante maré.

Os ricos enriquecem os pobres empobrecem. E os outros, os remediados, vão ficando sem remédio.

Vícios de historiador: ele não via fotos, ele lia imagens.

A saudade é uma tatuagem na alma: só nos livramos dela perdendo um pedaço de nós.

A verdadeira viagem é a que fazemos dentro de nós. Há ondas movidas por anjos, outras empurradas por demônios.

A melhor maneira de não morrer queimado é viver dentro do fogo.

Como é que se sabe se o caracol anda perdido? Se toda a terra é seu caminho...

Quando se faz amor assim, de paixão total, fica-se longe das palavras. O encantamento é uma casa que tem o silêncio por tecto.

Nos últimos meses ele e sua esposa já não davam asas aos lençóis.

Os outros passam a escrita a limpo. Eu passo a escrita a sujo. Como os rios que se lavam em encardidas águas. Os outros têm caligrafia, eu tenho sotaque. O sotaque da terra.

Agora, ela sabia: um livro é uma canoa (...). Tivesse livros e ela faria travessia para o outro lado do mundo, para o outro lado de si mesma.

Só tem viagem quem recebe adeuses.

Só há um modo de enfrentar as más lembranças: é mudar radicalmente de viver, decepar raízes e fazer as pontes desabarem.

Quem não tem passado não pode ser responsabilizado. O que se perde em amnésia, ganha-se em amnistia.

Não é fácil sair da pobreza. Mais difícil porém, é a pobreza sair de nós.

Primeiro, perdemos lembrança de termos sido rio. A seguir, esquecemos a terra que nos pertencera. Depois da nossa memória ter perdido a geografia, acabou perdendo a sua própria história. Agora, não temos sequer ideia de termos perdido alguma coisa.

A gente ama alguém que desconhecemos, casa com quem conhece e vive com uma pessoa irreconhecível. Às vezes, temos luas-de-mel, outra vezes, luas melosas. A maior parte do tempo, porém, são noites sem luar nenhum.

Rasteiro é o rio; e chega ao céu.

Ele seria um crente, sim, no dia em que a igreja morasse dentro de cada um.

A nossa vida inteira é feita de esperas. E, afinal, basta uma palavra, uma só palavra, para sermos deuses, isentos de esperas.

As despedidas são sempre derradeiras.

Não são os grandes traumas que fabricam as grandes maldades. São, sim, as miúdas arrelias do quotidiano, esse silencioso pilão que vai esmoendo a esperança, grão a grão.

A viagem termina quando encerramos as nossas fronteiras interiores. Regressamos a nós, não a um lugar.
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