Marlo R. R. López 21/05/2024Ian McEwan é um excelente escritor. Nós todos sabemos disso, direta ou indiretamente.
Li há dois meses o maravilhoso "Reparação", escrito em 2001, e depois fui atrás dos outros livros do autor. "A criança no tempo", lançado em 1987, foi um dos que me chamaram mais atenção. Mas infelizmente me decepcionei.
De modo geral, o livro tem uma narrativa tão monótona, confusa e pouco envolvente quanto as reuniões do comitê de que o personagem principal, Stephen, participa. O desaparecimento da sua filha de 4 anos, a separação da esposa em virtude disso e os conflitos de sentimento daí decorrentes parecem ser uma coisa secundária em toda a história, e esses eram justamente os pontos que eu mais estava esperando encontrar.
O texto se preocupa excessivamente em esmiuçar lembranças infantis do pai, a burocracia de um projeto do governo relacionado à leitura e o misterioso abandono da vida pública por parte de um dos amigos de Stephen.
Depois do excelente primeiro capítulo, o livro mergulhou num marasmo que quase me fez abandonar a leitura. Os personagens são apáticos, distantes demais do leitor para que este se ocupe deles. A única que se salva é Thelma, uma professora universitária de física teórica que faz algumas preleções sobre a relatividade do tempo e a mutabilidade da matéria - o que de certa forma tem a ver com o estilo fragmentado e confuso da narrativa, eu sei.
Não tenho problema com livros arrastados. Tanto é que fiquei completamente fisgado com "Reparação", que passa 200 páginas descrevendo um único dia na vida da família Tallis. A questão é que lá o ritmo arrastado funciona. Aqui, não.
Para quem for ler este livro, eu sugiro não se ater muito às sinopses. Elas podem criar falsas expectativas.