Em busca de um final feliz

Em busca de um final feliz Katherine Boo




Resenhas - Em Busca de um Final Feliz


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stsluciano 16/04/2013

Um retrato vívido da realidade indiana
Muito se fala sobre as desigualdades sociais, e se pergunta sobre como é possível que exista um abismo tão grande entre a qualidade de vida da minoria mais rica e a da maioria mais pobre. Meu professor de Economia, na faculdade, diria que ele é inerente ao capitalismo. Em “Em Busca de Um Final Feliz”, primeiro livro da experiente jornalista Katherine Boo, conhecemos a favela de Annawadi, na Índia, e somos apresentados a uma gama incrível de personagens vivendo do lado mais pobre deste abismo.

A Annawadi palco do livro é uma pequena favela onde as condições de vida podem ser consideradas menos que sub humanas – esgoto a céu aberto; proliferação de ratos; bica comunitária e deficiente para compartilhamento de água; vícios; pessoas trabalhando muito para ganhar o equivalente a menos de um dólar por dia, e etc. – que fica ao lado de um moderno aeroporto de Mumbai e hotéis cinco estrelas que contrastam com o ambiente onde vivem e marginalizam ainda mais os moradores que acompanhamos durante a narrativa da autora: como Sunil, Manju, Meena, e a família Husein: Zehrunisa, Karam e seus filhos, em especial Abdul.

É na favela que os personagens se encontram e desenvolvem suas relações que são objeto de observação da autora: o modo como levam à vida, pura e simplesmente, teimando em subsistir em condições tão precárias enquanto estão tão próximos do que há de mais moderno e luxuoso no mundo capitalista.

A primeira coisa que percebemos é como, incrivelmente, e mesmo colocados na mesma posição de excluídos do sistema social, os moradores de Annawadi são orgulhosos, briguentos e preconceituosos. A família Husain se sente discriminada por ser mulçumana e viver em meio a uma população majoritariamente hindu, ao mesmo tempo em que os outros moradores os invejam – muitas vezes abertamente – por estarem, Zehrunisa e sua família, prosperando com seu negócio de reciclagem de lixo.

E as situações vão se seguindo e criando uma certa tensão que sempre fica no ar chegando ao ponto de os garotos comentarem que a melhor maneira de se viver na favela é não se fazer ser notado. Prosperando – e aqui leia-se “ganhando o suficiente para se alimentar bem e se conceder pequenos luxos, como uma cama de ferro, uma colcha ou uma parede de alvenaria que os livre de mais mordidas de rato” – os Husain atraem para si a ira de Fátima, a Perna só, uma mulher ressentida e explosiva, que mesmo tendo apenas uma perna não perde uma oportunidade de arrumar confusão.

Enciumada com o bom momento que vive os Husain, ela se auto imola e coloca no chefe da família, Karam, e em dois de seus filhos, Kerkasham e, principalmente, Abdul, a culpa pelo ocorrido, naquele que é o maior gancho de todo o livro.

Nos apresentando um sistema apodrecido e completamente tomado pela corrupção, Katherine Boo acompanha o desenrolar da acusação e julgamento da família Husain, e temos uma noção do como é desesperadora a situação do país e de seus serviços públicos: os médicos do hospital público cobram pela consulta; os medicamentos destes hospitais são desviados, assim como os recursos para programas educacionais, de saneamento básico e incentivos econômicos; os relatórios policiais podem te favorecer ou incriminar, conforme sua disposição para contribuir com o policial encarregado, e etc. Difere do Brasil? Não.

Um fato que merece a atenção é a questão da sujeição à fé. Em “Cruzando o Caminho do Sol”, de Corban Addison – e também publicado por aqui pela Editora Novo Conceito – o autor dizia que as irmãs raptadas e vendidas como escravas, Sita e Ahalya, tinham uma profunda resignação quanto ao seu destino, baseando-se em preceitos religiosos que diziam – à grosso modo – que tudo o que estava acontecendo com elas era o desejado pelos deuses – ou “buscado” por elas através do karma –, então pouco havia o que se fazer.

A mim me soa como instrumento de alienação, mas funciona. Porém, aqui, no “Em Busca de Um Final Feliz”, já se nota uma mentalidade mais desenvolvida que refuta esta afirmação. Cansados da situação na qual vivem – e, no caso de Abdul, um jovem reservado mas que se mostra muito inteligente e perspicaz para observar o mundo à sua volta – com uma quase certeza de que o que fazem para mudar isto é muito pouco e apenas ilusório, afinal, estão somente subsistindo, muitos deles já entendem que sua situação pouco tem a ver com desígnios das divindades.

Mas isto não trás nenhum conforto, ao contrário. Estando em uma situação desesperadora, a ilusão de que aquilo que está acontecendo foge ao seu controle e nada pode ser feito, sendo um desígnio de um ser superior, é um sentimento bem mais acalentador que a plena consciência de que pouco se pode fazer para mudar o fato em um mundo corrompido por forças humanas. Talvez seja melhor saber a verdade, mas isto trás uma sensação de desespero da qual a ignorância trazida pela religião os protegeria.

A narrativa do livro é rápida embora basicamente descritiva – de ambientes, situações e sentimentos. Apesar de narrar passagens da vida de diversos moradores, é na família Husain e seu julgamento que recai boa parte da ação do livro, de modo que, nos momentos em que a autora os deixou – e a sua situação – em suspenso, a leitura não fluiu tão bem, mas talvez por eu ter me afeiçoado a eles: são amorosos, preocupados, interessados em progredir, em muito contrastando com os demais moradores de Annawadi.

Confesso que, lendo o livro, fiquei confuso por ele ser classificado como não-ficção. Em minhas experiências anteriores, a diferenciação entre aquilo que era ficção e o que não o era sempre se mostravam claras, o que não aconteceu aqui. Narrando em terceira pessoa, a autora se faz sempre presente, mas não se coloca como uma observadora, do tipo “vi um garoto estudando”. Ao contrário, ela diz “Mirchi estudava para suas provas finais”, como se contasse uma história.

Na “Nota da Autora”, ao final do livro, finalmente compreendi: todos os fatos, pessoas e locais narrados no livro são reais e frutos de anos de entrevistas e convivência levados à cabo pela autora, o que potencializou o efeito que a leitura teve em mim: então toda aquela miséria, o desespero das pessoas, as tragédias de cada dia, tudo foi real. Não que eu não quisesse enxergar, todos sabemos como o mundo pode ser, mas, nos deparando com alguém falando tão diretamente sobre o assunto, não há como deixar de ficar impressionado.

É um livro que dá um nó na garganta. Com seus personagens vívidos, pintados em cores realistas que só a não-ficção se permite, Boo construiu um grande livro. Dizem que, para solucionar um problema, primeiro é necessário saber que ele existe. Me pergunto como, se já estamos entupidos de ciência, ainda não começamos a nos mexer…

Resenha originalmente publicada aqui: http://www.pontolivro.com/2013/04/em-busca-de-um-final-feliz-resenha-119.html
Maristela 28/04/2013minha estante
Todos os livros que li que têm como tema a Índia, as histórias são maravilhosas. Espero que esse também seja o caso desse livro. A capa é linda e a resenha maravilhosa.


LuizaFG 28/04/2013minha estante
Nossa, dentro do conforto da nossa casa é dificil acreditar na quantidade de pessoas que passam por fome e necessidades né? O bom desse tipo de livro é que abre os nossos olhos para o problema que está em nossa volta e a nossa responsabilidade de fazer alguma coisa! Quero muito ler!
bjos


Kelry 30/04/2013minha estante
Estou querendo ler esse livrou, pois nunca li algo do estilo, e acho que irei gostar, pois esse assunto me toca.


Ivi 01/05/2013minha estante
O nome do livro atrai, mas a capa assusta. Adorei o fato do livro ter "nota da autora", assim, muita coisa se explica!!! bj


Gy 04/05/2013minha estante
O livro parece ser bom... Realista ao extremo... Não se vê muitos livros desse gênero... Eu adoraria ler... Vou colocar em minha lista de leitura...


cristiane190 15/05/2013minha estante
Gostei muito do tema do livro as vezes é bom ler um pouco da realidade do mundo em que vivemos nós fazem abrir os olhos para a realidade que nós certa, gostei muito da resenha e quero ler.


Saleitura 25/05/2013minha estante
Para nós cariocas cercados de favelas por todos os lados conhecemos um outros lado que, na maioria das vezes, por mais que se queira ajudar o acesso nos é bloqueado.
Uma observação que faço é que a miséria, a fome, as condições precárias de vida não estão só nas favelas e sim espalhadas por todos os lugares. Seja em um terreno abandonado que é invadido, pelas ruas e becos. Tudo isso não se compara a Índia e a favela Annawadi que é o palco dessa história.
Ótima resenha que nos chama a leitura.


Lais Helena 26/05/2013minha estante
Ainda não li nada sobre a India, mas acho que deve ser uma realidade bem parecida com a de muitos brasileiros... Lendo essa e outras resenhas, estou curiosa...




JEAN CARLOS 18/05/2017

Esperava mais desse livro.
Me decepcionei com o modo como a autora narra os acontecimentos...cansativo demais.
Carla.Cerqueira 02/06/2018minha estante
Nossa... Tô custando a ler. Que livro superficial....


JEAN CARLOS 12/04/2019minha estante
Não consegui...parei de ler na metade do livro.


Carla.Cerqueira 13/04/2019minha estante
Também. Tá lá encostado


Ticiane 24/07/2019minha estante
Estou tentando terminar pq não gosto de abandonar, mas está difícil, e olha que adoro esses temas!




RUDY 29/09/2013

RESUMO SINÓPTICO:
Fátima Shaikh - Perna Só tem 35 anos, é escandalosa e é vizinha de Abdul e vive em litígio com a mãe dele. É casada com um muçulmano pobre e que ao sair para trabalhar, deixa a esposa livre para receber homens em casa, claro que ele não sabia. Ela tocou fogo no próprio corpo e acusa Abdul de tê-lo feito.

Abdul Hassan não sabe realmente qual sua idade e tem uma imensa família. São 9 irmãos que ele consegue sustentar com suor do seu trabalho.

Sunil Sharma, o menino catador de lixo que quer ficar rico e tem uma moral ilibada para as condições em que vive, não se envolve com ladrões, nem drogados, mesmo quando a fome aperta e se torna insuportável.

Manju, a moça mais bonita da favela, que quer ser professora e estuda através da extorsão feita pela mãe Asha a outros moradores que podem pagar pela ajuda, já que é influente e recebe do governo verba para manter uma escola que vive fechada e funciona apenas no dia de inspeção, mas Manju gosta de ensinar os pequenos o que causa raiva em Asha.

São alguns dos personagens reais que vivem em Annawadi, favela vizinha ao aeroporto Internacional de Mumbai, na Índia e onde Katherine Boo durante 4 anos fez um estudo através de entrevistas e questionários para execução do livro.

Entre duas realidades totalmente diversas, separada por um muro, onde do lado pobre vive da reciclagem de lixo, encontramos corrupção do governo na política, freiras, policiais e juízes ladrões e até os médicos insistem em cobrar por serviços que deveriam ser gratuitos. Do outro comidas exóticas, luxo e uma vida totalmente diferente separada por apenas 200m...


site: http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/2013/09/resenha-36-em-busca-de-um-final-feliz.html
Cris 25/11/2013minha estante
Este livro parece ser bem forte. Adorei sua resenha, e apesar de este ser um livro bem triste, fiquei interessada na leitura, acho que sempre é bom conhecer outras realidades.


Vanda Ramos 25/11/2013minha estante
QUEM NAO QUER UM FINAL FELIZ EU QUERO LER DEVE SER MUITO LINDO


grazi34 29/12/2013minha estante
todo mundo quer um final feliz,por isso lutamos cada dia


Michelle 10/11/2022minha estante
uma leitura densa




Ique 05/04/2013

Em Busca de um Final Feliz - Blog EPL
Quando a existência é definida pelos sonhos de pessoas reais, a esperança surge.

- Publicada originalmente no blog Entre Páginas de Livros (www.entrepaginasdelivros.com)

Em Busca de um Final Feliz - Katherine Boo | 288 Páginas | Documentário / Não Ficção | Editora Novo Conceito 2013 | Preço: R$29.90 | Skoob | NOTA: 5/5

Obs: Disponível também em e-book.


Não vejo outra maneira de começar essa resenha sem antes apresentar-lhe a autora o livro em questão (Em Busca de um Final Feliz): Katherine Boo. Antes mesmo de ler a narrativa, a autora já chamou minha atenção conquistando também admiração pois ela é uma redatora em uma importante revista americana e já ganhou muitos prêmios nos últimos 20 anos com suas reportagens dentro de comunidades carentes onde observou como as sociedades distribuem oportunidades e como os indivíduos escapam da pobreza. Esse é o seu primeiro livro que precisou de um longo e árduo trabalho para sua escrito.

Katherine, que é casada com um indiano, resolveu encarar e conhecer os problemas da Índia, uma nação que está cada vez mais rica e poderosa no sistema capitalista mas que abriga 1/3 da pobreza e 1/4 da fome do planeta. Em 2007 ela viajou para uma favela indiana chamada Annawadi que está localizada perto do Aeroporto Internacional de Mumbai e de estilosos prédios que abrigam os turistas e pessoas da classe média. Essa favela não é a maior, abriga cerca de 3000 habitantes que sofrem na miséria e tentam diversos meios para conseguir dinheiro para sustentar a família, mas foi escolhida estrategicamente pela facilidade para abordar as histórias dos principais moradores que lutam para ter um final feliz ou até mesmo daqueles que desacreditam na vida.

O livro é um documentário que pode ser facilmente confundido com um romance devido a ótima escrita da autora, contém começo e meio, não tendo fim por se tratar de fatos verídicos, mas seu término ocorre depois dos 3 anos que a autora passou na favela observando tudo o que acontecia. O interessante é que Katherine não expõe explicitamente a sua opinião e nem se envolve nas coisas que acontecem, detalhando apenas o necessário sobre a vida sofrida dos personagens para que o leitor possa entender com clareza os acontecimentos sem deixar a leitura cansativa e/ou demorada.

O que a autora fez foi entrevistar os moradores de Annawadi para conhecer os seus sentimentos e suas histórias e ambições, tudo o que ela via também era transcrito no papel. É assim que conhecemos a família Hassan, constituída de 11 filhos, que sofre um preconceito por serem muçulmanos e por lucrar um pouco mais que outras famílias na separação de lixo reciclado. A vizinha deles é a Fátima (Perna Só), uma mulher deficiente que só queria um pouco de atenção, o que a fazia trair o marido com outros rapazes. Tal atitude era também observada por Asha, mas ela chamava atenção dos políticos para conseguir status na favela e dinheiro, claro. Sua filha, Manju era a única que estava cursando faculdade, era bonita, mas ao contrário da mãe era correta e queria ter um bom casamento. Também conhecemos Sunil, um garoto que é catador de lixo que sonha em um dia ter dinheiro e ''crescer na vida'' e outros personagens que marcam a narrativa.

Também vale ressaltar a vasta corrupção existente no governo indiano, a falta de atenção e a covardia que os policiais fazem com as pessoas menos favorecidas, que não são capazes de fornecer propinas para eles. Esses mesmos policiais exigiam, as vezes, dinheiro para os moradores de Annawadi que não podiam contestar por não ter direito a terra. O lento e falho sistema judicial, a violência e a falta de atenção de toda a população com os moradores das favelas também são muito bem retratados na história. É triste saber que enquanto os moradores de Annawadi precisam comer sapo, por exemplo, eu estou com ''toda mordomia''.


Em Busca de um Final Feliz é um ótimo livro para quem não se preocupa com finais felizes, mas realistas, e que está disposto a chorar e rir em alguns momentos. O livro forte e é capaz de prender, sem nenhum esforço, qualquer leitor que esteja interessado em ler algo que pode mudar sua visão de ver e encarar o mundo de forma verdadeira e humana. Clichê não define a obra de Kkatherine Boo que possui uma excelente tradução, revisão, narração, diagramação e capa, além de um ótimo prefácio que foi bem escrito por Zeca Camargo, mas que deixa a desejar um pouco na tradução do título.

" Por algum tempo, eu tentei evitar que o gelo dentro de mim derretesse. Mas agora estou simplesmente me transformando em água suja, como todos os outros. Eu digo a Allah que eu O amo imensamente. Mas também digo a Ele que não posso ser melhor, porque ele sabe como o mundo é." - Abdul Hassan

Espero que tenha gostado da resenha, é difícil escrever sobre essa narrativa englobando tudo o que acontece assim como o todas as causas de tanta miséria e pobreza existente em um país com a economia que mais cresce no mundo. Se ainda tiver alguma dúvida sugiro que você dê uma chance a esse livro, por mais que o gênero seja um pouco mais forte e adulto vale a pena entender melhor as coisas que acontecem no mundo em que vivemos.

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Marília 12/04/2013minha estante
Achei sua resenha extremamente completa. Deu um amplo panorama das circunstâncias e objetivos com que este livro foi escrito e me despertou uma imensa vontade de lê-lo muito em breve.




Jaqueline 23/04/2013

Em busca de um final feliz é o livro de estreia de Katherine Boo. Neste livro ela relata a vida dos moradores da favela de Annawadi, na Índia.

Foi nessa favela que Boo passou três anos e quatro meses, ouvindo e registrando os relatos impressionantes dos moradores. Como é o caso de Abdul Husain, que aos 16 anos trabalha como catador de lixo para sustentar sua família de 11 pessoas; a estudante Manju que sonha em ser a primeira mulher em Annawadi a ter um diploma universitário, e Fátima uma prostituta que em meio ao desespero ateou fogo em seu próprio corpo.

Esse livro tem relatos bem marcantes, e é impressionante como milhares de pessoas moram em situação de extrema pobreza morando próximo ao Aeroporto Internacional de Mumbai, e rodeado de hotéis luxuosos. A desigualdade social é algo extremamente revoltante.

A história que mais mexeu comigo foi a da família dos Abdul, uma família vítima da falta de perspectiva financeira, e da corrupção.

O sistema de justiça criminal da Índia era um mercado, assim como o do lixo, Abdul entendia isso agora. A inocência e a culpa poderiam ser compradas e vendidas como um quilo de sacolas plásticas. Pág 137

Dizia-se que os fantasmas dos enforcados apareciam todas as noites. Embora Abdul tivesse medo de fantasmas, assim como a maioria dos meninos de Annawadi, essas histórias não o assustavam mais. Ser aterrorizado por seres vivos parecia ter diminuído seu pavor pelos mortos. Pág 154

Gostei muito da leitura, e indico a todos que leiam ao menos uma vez. Esse livro retrata a realidade econômica da Índia que em muitos lugares não é mostrada.

p.s: O prefácio desse livro foi escrito pelo Zeca Camargo.
San 21/05/2013minha estante
Pela sua resenha não entendi pq vc deu só 3 estrelinhas...




Mell 16/05/2013

Todos procurando lutar contra esse sistema opressivo e encontrar um final feliz
Blog: http://croissantparisiense.blogspot.com/
video-resenha Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=tYfLDzNRXXA


Nada como cair de paraquedas numa nova realidade para quebrar a sua expectativa.

Em busca de um final feliz conta a história de algumas pessoas da favela Annawadi, lá de Mumbai, na Índia. É um livro de não ficção, ou seja, o que você irá ler é, se não a realidade, baseado em fatos reais a partir de uma pesquisa feita pela autora que, aliás, conviveu por um bom tempo com as personagens nesse ambiente hostil e opressivo.

Annawadi é uma favela pequena para os padrões de Mumbai, só que ali o contraste entre riqueza e pobreza é imenso. A favela se localiza entre um dos maiores aeroportos de Mumbai e alguns dos mais luxuosos hotéis da cidade. Ou seja, é como uma poça de esterco que destoa do ambiente ao seu redor. Aí se encontra a antítese trabalhada no livro.

Assim, Boo nos apresenta vários tipos existentes nessa favela. Catadores de lixo, ladrões de lixo, moradores corruptos "engajados" na política local, comerciantes de lixo, educadores, raros universitários, aleijados... Todos guiados por um sistema político, econômico e social maior que os engole. Todos procurando lutar contra esse sistema opressivo e encontrar um final feliz. Todos marcados por algum tipo de anomalia social.

A imagem da capa já transparece o assunto abordado no livro. E ao contrário do que muitos vieram me falar a respeito desse gênero literário, indico para todos que vivem num mundo limitado e que pensam que as mazelas do próprio país são únicas e as piores de uma escala. Portanto, indico à todos, à você que está lendo essa resenha agora.

A leitura é rápida, fluída e, ao contrário de romances e fantasias, irá despertar frustração e nojo (da humanidade) no leitor. Uma sensação de impotência... A menos que não seja um humano.
Angela Grazi 23/05/2013minha estante
O link do video esta errado ;)




Saleitura 29/05/2013

Quando a existência é definida pelos sonhos de pessoas reais, a esperança surge.
Para mim ler sobre a favela é sempre um mergulho para dentro e para fora. Para dentro porque esse é o espaço geográfico no qual vivo e por mais diferentes que favelas sejam elas sempre tem pontos em comum e para fora porque geralmente quem escreve não são os próprios habitantes e sim pessoas de fora, como a jornalista Katherine Boo.

Como disse Terry Pratchett em "Quando as bruxas viajam", as histórias nunca são sobre "Os desabrigados. Os famintos. Os silenciosos. Aqueles que tinham sido abandonados pelos homens e pelos deuses. O povo das névoas e da lama, cuja única força estava em algum lugar do outro lado da fraqueza, cujas crenças eram tão instáveis e caseiras quanto suas casas... o povo da cidade — não os que moravam nas grandes casas brancas e iam aos bailes em belas carruagens, mas os outros." Poucos autores acham interessante falar sobre o criador de porco - ou o catador - que vai viver trabalhando duro e ainda assim vai morrer um pouco mais pobre do que nasceu.

Mas a Katherine foi e é diferente, são justamente essas pessoas os alvos do seu olhar, de sua sensibilidade e inquietação generosa. "Em busca de um final feliz" é um trabalho primoroso, resultado de um esforço de uma mulher capaz enxergar aquilo que muitos fingem não ver ou não vem mesmo, afinal de contas é muito difícil lembrar do frio, da fome, do medo quando se está seguro e confortável.

Tentando não idealizar demais as coisas, ela vai nos apresentando a favela de Annawadi tanto através da descrição do contexto econômico mundial e da economia da Índia como através de seus vários habitantes, desde aquelas pessoas que se envolvem com politica e encontram o que chamamos de ascensão social, passando pela moça universitária, pelos meninos sem pai e sem mãe que acabam virando ladrões, mesmo contra a sua vontade, até vendedores e catadores de lixo.

Achei impressionante como em nenhum momento a autora deixa de frisar a humanidade desses sujeitos, suas dores, suas penas, seus sonhos, sua complexidade de sentimentos e interpretação do mundo, a pobreza não retira de ninguém a humanidade, embora faça as pessoas fazerem coisas inacreditáveis. É incrível como ela consegue fugir de julgamentos precipitados como conseguiu ver as coisas com generosidade.

Uma vez eu li em um livro de português do ensino fundamental um poema de Ulisses Tavares sobre pessoas que existem e parecem imaginação, a leitura do excelente livro de Katherine Boo me lembrou esse poema da página 1 até a página 288 e com ele encerro a resenha:

"Tem gente passando fome.
E não é a fome que você imagina entre uma refeição e outra.
Tem gente sentindo frio.
E não é o frio que você imagina entre o chuveiro e a toalha.
Tem gente muito doente.
E não é a doença que você imagina entre a receita e a aspirina.
Tem gente sem esperança.
Mas não é o desalento que você imagina entre o pesadelo e o despertar.
Tem gente pelos cantos.
E não são os cantos que você imagina entre o passeio e a casa.
Tem gente sem dinheiro.
E não é a falta que você imagina entre o presente e a mesada.
Tem gente pedindo ajuda.
E não é aquela que você imagina entre a escola e a novela.
Tem gente que existe e parece imaginação."

(Ulisses Tavares)

Resenha por Pandora
http://www.skoob.com.br/estante/livro/26464608

link postagem Saleta de Leitura
http://saletadeleitura.blogspot.com.br/2013/05/resenha-do-livro-em-busca-de-um-final.html


MárciaDesirée 21/07/2013

“Foi um período tão cheio de esperanças como qualquer outro, desde que uma pequena favela surgiu na maior cidade do país que abrigava um terço da poplação mais pobre do planeta. Um país atordoado com o desenvolvimento e a quantidade de dinheiro circulando no momento.” (Pág. 29).

Este é não é um livro que nos conta uma história de ficção e que tem um final maravilhoso. Pelo menos, não para nós meros expectadores, e protagonistas de nossas próprias histórias. Este é um livro que deve ser lido com uma visão diferente. Este livro não pode ser avaliado pela história narrada. Nunca! Pois a história narrada foge da nossa realidade. Como você pode avaliar dois mundos? Comparar dois mundos, onde um é real, o nosso e o outro existe somente em livros para nós, mas que se trata de uma realidade forjada com muitas dores e sofrimento.
Abdul é um rapaz que sequer sabe a idade que tem. Ele é o filho homem mais velho e vive com sua numerosa família na maior favela da Índia, onde a corrupção é a ordem predominante. Seu pai é vitima de uma tuberculose e não pode trabalhar, sua mãe é uma mulher valente que tenta fazer pela família, o que o marido não pode fazer. A astúcia de Abdul o ajuda nas tarefas diárias de seleção do lixo que ele recolhe para comercializar, e revender, por isso ele acaba sendo o arrimo desta família que é considerada bem sucedida nesta imensidão de miséria e alvo para os invejosos. A vida desta família progredia dentro do possível diante de tantas dificuldades até o dia que, por uma infeliz discursão, Abdul, seu pai Karam, e sua irmã Kehkashan foram acusados injustamente por um crime. A vida desta família vira do avesso e eles se tornam alvos fáceis para extorsão de todos os espertos imagináveis. Fica claro o quanto é difícil de provar a inocência quando não tem dinheiro para se pagar pela verdade.

Quando eu recebi o livro, inadvertidamente eu achei que era um romance. Mas quando comecei a ler o livro, percebi que se tratava de uma “não ficção” e que os fatos narrados se tratavam do cotidiano em uma imensa favela na Índia. Eu que já li muitos fatos de pobreza extrema, mas que evita o assunto, me deparei com a realidade cruel, nua e crua de uma pobreza sem limites. Imaginar a cena das pessoas utilizando banheiros públicos, não tomando banho, bebendo água suja, caçando sapos e ratos para se alimentarem, é um soco na cara. Logo no primeiro capítulo e deixei o livro para ler outro, mais “agradável” e voltei nele com o psicológico mais “preparado”. A cada capítulo eu pensava, “nossa que maçante.” Mas ia de encontro ao meu objetivo que era concluir o livro. Mas, um pouco antes do final do livro, me peguei refletindo em como, mesmo diante de todas as minhas dificuldades, a minha vida é rica. Acho que o livro tem este papel, de nos mostrar o que não enxergamos por nós mesmos. Não posso avaliar o livro pelas histórias narradas, pelas vidas ali expostas, pelos finais que não são felizes. Mas avalio pelo papel jornalístico de contar a história de seres humanos que lutam contra uma série de abusos de uma minoria mais privilegiada.

site: http://www.tesouroliterario.com/2013/06/em-busca-de-um-final-feliz-katherine-boo.html
Kizzy 28/08/2013minha estante
Eu terminei de ler e fiquei pensando: será que eu gostei do livro? Eu estava tão confusa que sinceramente não conseguia responder. Você respondeu para mim, realmente "este livro não pode ser avaliado pela história narrada", você está repleta de razão. O livro é bom, tenebrosa é a realidade dessas pessoas.




Fernanda 03/06/2013

Resenha: Em Busca de um Final Feliz
Resenha: Penso que cada livro nos apresenta uma mensagem diferente e única, e “Em Busca de um Final Feliz” é aquele tipo de obra onde o leitor se sente comovido e tocado de diversas maneiras. A começar pela história, que surpreende de tal modo a conquistar a atenção de quem venha a ler, e posteriormente pelas emoções que o mesmo nos passa, fazendo com que adentremos totalmente no enredo e é como se fizéssemos parte da narrativa. Há quem não goste do gênero de não-ficção. Até eu mesmo, confesso que não leio muito a respeito deste estilo. Mas claro que nada me impediu de começar a leitura, que já me envolveu pela sinopse e justamente, pelo prefácio de Zeca Camargo.

“Ser pobre em Annawadi, ou em qualquer favela de Mumbai, era ser, invariavelmente, culpado de uma coisa ou outra.” Pg.22

Pare e pense um pouco: você tem a coragem necessária para ler uma história real? Katherine Boo expõe em Mumbai, a favela de Annawadi, de uma maneira detalhada, abrangente e complexa. A narrativa pode parecer mesmo ficção, envolvendo crimes, dramas e muita violência, porém todos os relatos são verdadeiros e os ataques terríveis descritos, têm mesmo as consequências citadas. A linguagem que Boo coloca, é tão rica e poderosa que seria um texto belo se os fatos narrados não fossem tão tristes e intensamente dolorosos. Como bem disse Zeca Camargo “Mas é exatamente nessa capacidade de extrair uma certa poesia de cenas hediondas que está o talento da autora.” Pg.09

“Annawadi ficava, aproximadamente, a 200 metros da estrada do Aeroporto Sahar, uma faixa onde a nova Índia e a velha Índia se encontravam e faziam a nova Índia chegar atrasada aos seus compromissos. Motoristas em veículos utilitários esportivos buzinavam furiosamente para entregadores de bicicleta que saíam das granjas da favela, cada um carregando uma pilha de 300 ovos. Annawadi não era nada especial no contexto das outras favelas de Mumbai. Toda casinha era torta, e a menos torta delas parecia ereta. O esgoto e a doença faziam parte do dia a dia.” Pg. 31

O mais interessante é poder acompanhar as histórias de várias famílias e as situações em que se encontram. Na verdade, seria mesmo interessante se elas estivessem em condições agradáveis, o que claro, não estão. Mas o que vale destacar nesta parte, é exatamente como cada uma dessas famílias interpreta o seu jeito de viver, e que apesar de tudo que passam, tentam não desanimar, correr atrás de seus sonhos e manter a esperança. Por si só, esse já é um fato que torna “Em Busca de um Final Feliz” emocionante e delicado, apresentado as crianças da favela, pessoas sem nenhum sinal de esperança e aquelas pessoas que lutam dia após dia, diante de tanta pobreza e injustiças. Neste ambiente e depois de muitas pesquisas e convivência, a autora conseguiu finalizar uma obra consagrada e acima de tudo, completa. É também, um livro de críticas diante das situações precárias das favelas, e para refletir e se questionar sobre as ações do mundo.

"Os eventos recontados nas páginas anteriores são reais, assim como o são todos os nomes. Desde o dia, em novembro de 2007, que entrei em Annawdi e conheci Asha e Manju, até março de 2011, quando completei meu relato, documentei as experiências dos moradores com notas escritas, gravações em vídeo, audiotapes e fotografias. Várias crianças da favela, que aprenderam a manejar minha câmera, também documentaram acontecimentos recontados neste livro.” Pg.279
Leticia.Oliveira 17/10/2015minha estante
Essa história é linda demais, te leva a conhecer um pouco sobre uma cultura de um povo que é pouco conhecida. A autora descreve tudo de uma maneira suave e de forma que impressiona ao mesmo tempo. Fui comprar pra dar de presente a um amigo, e acabei comprando um pra mim tbm, depois que li a sinopse. Eu e meu amigo adoramos o livro... me emocionei com cada parte da história e de como o menino do livro não perde nunca a esperança! livro lindo ...




loucoporleitura 08/04/2013

Annawadi, uma favela na Índia. Não é a maior de lá, mas talvez a de maior contraste social, fica ao lado do Aeroporto de Mumbai. Vários personagens riquíssimos (não de grana, de conteúdo), um menino catador de lixo que sonha enriquecer, Sunil Sharma, uma moça linda que quer ser professora , Manju, e uma mulher casada, prostituta e que só tem uma perna, a Fátima Perna Só. Nossa quanta imaginação para "criar" personagens tão elaborados. Mas é aí o grande diferencial desse livro, todos os personagens são reais, inclusive os nomes são mesmos deles, e a autora morou na favela para escrever esse livro, mas se falamos logo que é um "livro-reportagem" talvez muitos não se interessariam.
Nessa favela, a reciclagem é talvez a grande renda de todos, e é através dela que algumas famílias começam a melhorar sua vida, mas dependendo dos vizinhos, isso pode não ser uma boa. Abdul (16 ou 19 anos) é quem mantem a casa, e aos poucos vai conseguindo melhorar sua casa, e ao conseguir reformar a cozinha de sua mãe , provoca a ira de Fátima Perna Só, sua vizinha de parede, na verdade quase um compensado, ela se incomoda com o barulho e com um pouco de sujeira que diz cair em sua comida, e promete se vingar da família de Abdul, e para isso coloca fogo em seu próprio corpo para incrimina-los, e é aí que o principal enredo se desenvolve.

Em algumas entrevistas a autora informou que vivenciou tudo e que não queria se envolver, só escrever sobre a história, a única vez que isso não o ocorreu foi quando aos gritos impediu que uma menina fosse estuprada, mas esse caso não está no livro. A autora inclusive presenciou alguns roubos ao aeroporto (roubo de lixo).
Por vezes, a impressão é que o livro se passa no Brasil, tamanha corrupção e pessoas dispostas a dar um "jeitinho" , lógico com uma compensação financeira, como quando a mãe de Abdul paga para obter uma certidão de nascimento para que ele seja considerado menor e julgado como tal, a mãe não tem certeza da idade dele. Quando um médico via inspecionar o menino, informa que se ele tiver uma certa quantidade de dinheiro, ele será menor, mas se ele não tiver o dinheiro, ele será maior de idade, ele não tem, mas por pena o médico o classifica como menor de idade. Essa é uma de outras coisas interessantes, a autora não tem a preocupação em classificar um vilão, mas de mostrar os fatos, sem rotular ninguém.
O julgamento de Abdul, seu pai e sua irmã , se dará no decorrer do livro , mas muitas outras histórias interessantes fazem parte dele também. Como Manju, a menina linda e idealista da favela, que dá aula para crianças carentes e é filha de Asha, uma espécie de administradora da favela, sempre disposta a ajudar, lógico que com interesse por trás de cada caso.
Mas o que mais me chamou atenção no livro é que não temos o lado "coitadinho", costumo brincar que se fosse um programa que revitaliza a casa das pessoas, teríamos a visão do Luciano Huck , uma visão otimista e não a visão do Gugu, mais sensacionalista.Acompanhe a jornada de todos esse e outros moradores de Annawadi.

Obs: o nome original do livro é: Behind the beautiful forevers , algo mais ou menos como por trás das belas para sempre , que era uma placa comercial da L'oreal , mas optou-se mudar o nome na tradução , e talvez de a impressão de livro de auto ajuda.

Confiram essa e outras resenha em: www.loucoporleitura.com.br
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Aione 23/04/2013

Em Busca de Um Final Feliz é um romance documentário não ficcional de Katherine Boo, autora vencedora do Prêmio Pulitzer.
Em sua obra, narra a vida dos moradores de Annawandi, uma das maiores favelas indianas situada ao lado do luxuoso Aeroporto Internacional de Mumbai, documentada durante os quatro anos em que lá viveu. Ao iniciar a leitura, eu sabia que a autora havia morado em Annawandi, mas acreditava que as histórias relatadas fossem ficcionais. Somente ao ler sua nota, ao final do livro, foi que percebi que todos os acontecimentos, inclusive os nomes das personagens, são reais.

Como todo morador da favela sabia, só havia três meios de se escapar da miséria: encontrando um nicho empresarial, como tinha acontecido com os Husain, que encontraram um negócio rentável no lixo; política e corrupção, nas quais Asha depositava suas esperanças; e, por fim, a educação. Vários pais na favela estavam passando a pão e água para poder pagar ensino particular para seus filhos.
página 92

Katherine conta que, para compor os momentos correspondentes aos pensamentos das personagens, ela se utilizou de inúmeras entrevistas e relatos dos moradores. Assim, tornou possível transmitir não apenas suas opiniões, mas também seus pensamentos sobre determinadas situações, permitindo uma melhor compreensão do mundo em que vivem.

O sistema de justiça criminal da Índia era um mercado, assim como o do lixo, Abdul entendia isso agora. A inocência e a culpa poderiam ser compradas e vendidas como um quilo de sacolas plásticas.
página 137

O que achei mais fascinante foi a maneira de como ela conseguiu repassar para o leitor uma realidade tão distante, possibilitando que ela fosse compreendida despida de julgamentos. São diversas as situações em que as personagens poderiam facilmente ser condenadas como insensíveis ou corruptas, mas isso não acontece porque conseguimos entender suas motivações, principalmente pelo cenário no qual vivem. Quando impera o instinto de sobrevivência, as questões morais se tornam mais abstratas.

- Por algum tempo, eu tentei evitar que o gelo dentro de mim derretesse – foi assim que ele se expressou. – Mas agora estou simplesmente me transformando em água suja, como todos os outros. Eu digo a Allah que eu O amo imensamente, imensamente. Mas também digo a Ele que não posso ser melhor, porque Ele sabe como o mundo é.
página 272

Outro ponto é que ela não faz uso de uma linguagem com apelo emocional. O livro pode sim sensibilizar o leitor, mas por conta do que é relatado, e não por essa ter sido a intenção da autora. Sua escrita é forte por ser direta, desprovida de artifícios típicos de romances nos quais ocorre o predomínio da linguagem emotiva.
Ainda assim, achei incrível o quanto ela conseguiu transmitir os conflitos internos vividos por vários dos jovens da história. Ela contrapõe o desejo de se seguir uma conduta moral – não baseada na opinião alheia, e sim em seus próprios princípios e crenças – com a impossibilidade de assim agir em um meio corrompido. E, em momento algum, ela coloca as personagens corruptas como vilãs, nem as demais como heroínas. Todas fazem parte de um mesmo sistema e todas estão em busca de seus finais felizes.

Não era tarde demais, aos 17 anos ou qualquer que fosse sua idade agora, para resistir às influências corruptas desse mundo e de sua natureza. Um menino não estudado e desajeitado ainda poderia ser capaz de ter integridade: ele pretendia lembrar-se disso e de qualquer outra verdade que O Mestre falara.
página 162

Tenho somente um ponto a ressaltar que pode ser visto como negativo, mas que, em minha opinião, não deve assim ser classificado. O fato de haver muitos personagens torna a leitura, inicialmente, um pouco confusa no sentido de que leva um tempo até que o leitor se acostume com todos e os memorize. Ainda, por não ser um livro cujo foco é o entretenimento, a leitura não é daquelas que te faz querer devorar as páginas, embora não seja cansativa ou provida de um vocabulário complicado.
Em suma, Em Busca de Um Final Feliz se torna interessante não por ser uma leitura para entretenimento, e sim para engrandecimento, tanto pela apresentação da cultura e realidades distantes das vividas por nós quanto pela exposição de situações, sentimentos e pensamentos de pessoas que as vivenciam. Ainda que seja um romance documentário, sua narrativa não é em forma de relato e sim similar a outros romances ficcionais, com o diferencial de ser verídico. Recomendo, principalmente, por seu conteúdo.
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Alan kleber 12/08/2023

Merece ser lido e discutido
Os personagens que encontramos nesse livro são pessoas reais, com desejos e sonhos genuínos, enfrentando adversidades que muitos de nós talvez nunca tenham experimentado. As histórias de Abdul, Asha, Manju e outros moradores de Annawadi não são contos de heróis épicos, mas de indivíduos comuns enfrentando situações extraordinárias. Através da lente das vidas desses personagens, fui desafiado a refletir sobre a natureza da justiça, as limitações da oportunidade e a importância da empatia.

"Em Busca de um Final Feliz", escrito por Katherine Boo, é um mergulho angustiante e comovente nas vidas de pessoas que, apesar de estarem nas margens da sociedade, lutam por dignidade, esperança e uma chance de encontrar o seu próprio "final feliz". Nesse trabalho literário meticulosamente construído, Boo nos convida a testemunhar as vidas dos moradores de Annawadi, um bairro de favela nos arredores de Mumbai.

Através das palavras de Boo, cada personagem se torna uma voz vibrante, clamando por reconhecimento e validação em meio a uma realidade implacável. A autora habilmente evita estereótipos fáceis, oferecendo uma visão profundamente humana das complexidades e contradições de cada pessoa. É como se, ao ler essas páginas, estivéssemos olhando para um espelho da nossa própria humanidade compartilhada, independente de nossos contextos.

Ao examinar as lutas diárias desses indivíduos à margem, Boo nos desafia a repensar as noções tradicionais de mérito e oportunidade. Ela nos lembra que o destino é muitas vezes determinado por circunstâncias além do nosso controle. Através de uma lente filosófica, o livro nos incentiva a questionar a interseção complexa entre destino e livre-arbítrio, e como a sociedade muitas vezes influencia esses fatores de maneiras profundas e injustas.

A narrativa de Boo transcende o mero relato jornalístico e se transforma em uma meditação sobre as disparidades sociais, a busca por significado em meio à adversidade e a resiliência inerente à condição humana. Através dessas histórias, somos confrontados com perguntas essenciais sobre o papel da empatia, responsabilidade social e privilégio em nossas vidas.

"Em Busca de um Final Feliz" não é uma leitura fácil, mas é uma leitura necessária. Katherine Boo nos desafia a examinar nossa própria posição no mundo, a considerar como nossas ações ou inações podem impactar aqueles que estão em desvantagem, e a refletir sobre o verdadeiro significado de um "final feliz". Nesse livro, encontramos a capacidade de conectar-nos com o coração humano e uma provocação intelectual que permanece conosco muito depois de fecharmos suas páginas.
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Janaina.Granado 21/05/2013

Em busca de um final feliz

"Quando a existência é definida pelos sonhos de pessoas reais, a esperança surge."

Não comece a leitura achando que irá encontra um belo romance, com histórias lindas que te fazem suspirar, Em Busca de um Final Feliz está muito longe de ser um livro de romance, o título pode nos enganar. O livro trata de histórias reais de famílias que vivem na Índia, pessoas pobres que lutam a cada dia para sobreviver, em meio ao lixo e a miséria das favelas.
O livro é triste e belo ao mesmo tempo, triste por pensar que realmente isso existe, no Brasil também existe, mas o livro nos traz histórias da Índia, um país que a TV só nos mostra a parte bela, onde tudo é lindo, e onde há riqueza.
O livro é belo pois nos mostra que em meio a miséria, a dor, a pobreza, a doença, ainda existe esperança no coração das pessoas, ainda existem pessoas que querem fazer a diferença, mudar nem que seja a sua comunidade, ensinar as crianças a falar uma outra língua, ou a pelo menos escrever, tentar de alguma forma fazer com que a vida de muitas crianças se tornem melhor e possam crescer com o mínimo de dignidade.

No livro iremos encontrar diversas famílias que fazem parte desse universo pobre da Índia, temos Abdul um garoto que com seu trabalho no lixo tenta garantir o sustento de sua família, temos Manju uma garota que sonha em trazer um futuro melhor as crianças da favela, temos Sunil um garoto que sonha em um dia conseguir sair dessa miséria, e temos outros personagens complexos como a mãe de Abdul, a mãe de Manju, personagens que são reais e que já não tem tanta esperança em um futuro melhor, já não pensam iguais aos jovens.

Uma coisa que sei que existe mas que me revoltou muito no livro, foi a corrupção, as propinas de ambos os lados, eram moradores querendo dinheiro para poder ajudar seus vizinhos, era a polícia querendo propina dos mais pobres, isso sem falar nos políticos. Tudo por causa do dinheiro, pessoas morrem como senão fossem ninguém, como a Índia é um país populoso, parece que quanto mais pobres morrendo, melhor é, diminui os gastos com as pessoas, isso é revoltante.

A autora consegue nos trazer uma obra com um documentário sobre famílias reais, o estudo que ela fez foi muito bem feito, ela foi a fundo, passou anos na favela para poder escrever o livro. Foi uma excelente pesquisa, Katherine está de parabéns.
Esse é o quarto livro que leio ambientado na Índia, os outros trouxeram romances, cultura indiana, mas nenhum conseguiu ir a fundo nesse universo pobre que assola a Índia.

A leitura não fluiu com tanta rapidez, mas eu não fiz questão de ler rápido, porque é uma história tensa, cheia de dramas, a medida que lia eu parava para refletir a situação, é um livro que não irá agradar a todos, mas quem gosta de ler sobre fatos reais, e sobre outros países irá gostar, eu recomendo, uma ótima leitura que nos faz refletir em nossa vida, as vezes reclamamos de barriga cheia, com esse livro muita gente vai aprender a dar valor aquilo que tem, mesmo que não seja muito coisa, perante ao povo indiano tenha certeza o que você tem é muita coisa sim.

Mais em http://livrospuradiversao.blogspot.com.br
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Bruuh 22/05/2013

"Em busca de um final feliz" é um relato real dos moradores de Annawadi, uma favela que fica ao lado do Aeroporto Internacional de Mumbai.
Katherine Boo morou durante quatro anos em Annawadi e relata nesse livro o dia a dia das pessoas que lá vivem.

"Os eventos contados nas páginas anteriores são reais, assim como o são todos os nomes."

Annawadi formou-se pelos "pedreiros" que construíram o Aeroporto. Ao terminarem a obra, viram que "sobrou" um pedaço de terra. Fizeram dali sua moradia, já que seria prático estar por perto caso o prédio precisasse de alguma manutenção. Agora Annawadi é um assentamento com mais de 300 barracos, onde 3.000 moradores vivem em uma eterna pobreza.

Com base nisso, conhecemos Abdul Husain, um homem (garoto?) de olhos fundos, quieto, corpo rijo e curvado pelo trabalho, ele mora em um barraco com mais 9 pessoas. Abdul é catador de lixo e sua família é a que fatura mais dinheiro com isso na favela, graças a ele, que trabalha em nome da família, pois seu pai tem tuberculose. Porém, a família Husain está enrascada: Fátima, conhecida como Perna Só, atirou fogo nela mesma...


"Ser pobre em Annawadi, ou em qualquer favela de Mumbai, era ser, invariavelmente culpado de uma coisa ou outra."

No hospital, Perna Só culpa Abdul, junto com sua irmã, Kehkashan e seu pai, Karam.
Agora sua mãe, Zehrunisa, luta para tirá-los da justiça. Porém, policiais pedem propina para retirar a acusação contra eles.
Perna Só paga propina para colocarem algo incriminador para os Husain em seu depoimento. E isso vira uma bola de neve.

Dentro da história há Asha, uma mulher de 40 anos que tem como maior ambição tornar-se a Senhoria da Favela. Ela anda com políticos e ajuda-os a criar empresas fantasmas. Ela promete melhoras em Annawadi em troca de voto dos moradores. Sua filha, Manju, é a mais linda da favela e a única que está cursando faculdade. Para Rahul, seu filho, conseguiu que ele trabalhasse como garçom no Hotel em frente à favela. Sua casa tem um ventilador de teto, televisão e piso, algo que os moradores de Annawadi sonham em ter.

Há Sunil, amigo de Abdul, ele é um catador de lixo de 12 anos. Antes de Annawadi, ele viveu em um orfanato de feiras. No orfanato, porém, as freiras desviavam roupas e doações que recebiam e quando Sunil completou 11 anos, o jogaram na rua, pois era "difícil de tratar". Ele tem uma irmã, e tem o orgulho ferido por ela ser mais alta que ele.

Com isso, conhecemos diversos moradores e suas histórias, desde a menina que apanhava por tudo ou o homem que fazia listras em cavalos e dizia que eram zebras para que as pessoas alugassem para aniversários de crianças. As histórias juntam-se para mostrar as realidades dos moradores. Aliás, para contar se Abdul e sua família conseguiram justiça ou não, é necessário conhecermos alguns moradores que ajudam ou que pioram a situação da família Husain. Pontos de vistas diferentes são mostrados.

O livro não tem uma narrativa pesada, porém mostra-nos a desumanização exposta. Políticos
e policiais corruptos, e a consequência disso para os moradores de Annawadi que lutam para sobreviver e criar seus filhos. Pessoas com virtudes, defeitos, ambições. Pessoas cheias de sonhos que moram ao lado de Aeroporto e Hotéis de luxo e que vivem dos lixos dos mesmos, quando não conseguem algo melhor. Katherine também relata no livro muito da cultura indiana, desde as castas de cada morador, suas superstições, seus deuses, etc. Ela introduz palavras indianas ao livro, o que faz você realmente entrar em Mumbai.

Essas páginas mostra-nos o que há por dentro de uma favela dentre as milhares que existe por aí. Uma crítica às políticas desumanas, às condutas daqueles que tem o poder de ajudar, mas que fazem exatamente o contrário. Um livro super recomendado.

" (...) Uma vida decente era aquela em que o trem não o atropelava, onde você não ofendia o senhorio da favela e a malária não te pegava. (...) "
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