Caroline Gurgel 12/01/2014Pode Anthony ser digno de perdão e de ser amado?Assim como
Consequences,
Truth deveria vir com acompanhamento psicológico incluso. Esses livros, um tanto incomuns, manipulam sua mente e mexem com seus conceitos e convicções de tal forma que você mal se reconhece. Você pode amar ou odiar essa estória e seus personagens, mas jamais ser indiferente. Sim, eu fui das que amei (e é preciso um pouco de coragem para dizer isso), no entanto, entendo bem os motivos dos que não a suportaram.
Contém, inevitavelmente, spoilers do primeiro livro, Consequences.
Terminamos
Consequences enfurecidos, clamando por vingança e querendo que Anthony Rawlings apodreça na cadeia e pague por todos os seus erros. Queremos ver a Claire se vingar, seguir em frente, encontrar o emprego dos seus sonhos e um novo amor. Mas...digamos, essa estória não é tão previsível assim.
Truth começa pouco mais de um ano após a prisão de Claire, com o pedido (misterioso) de perdão aceito pelo Governador de Iowa. Perdoada, ela tenta seguir em frente e refazer sua vida, com novos amigos e novos ares, longe da perseguição e da loucura de seu ex-marido. Harry e Amber aparecem na vida de Claire dispostos a lhe ajudar, mas são tão perfeitos que eu me perguntava se alguma surpresa me aguardava nas páginas seguintes.
Harry,
oh! (pausa para um suspiro), é o melhor "amigo" que alguém poderia querer, mas...(e é aqui que preciso do psicólogo) apesar de ter me conquistado e eu ter querido que ele e Claire se envolvessem, não era por ele que eu torcia.
Pode um leitor em sã consciência querer que o raptor que abusou física e sexualmente da Claire se torne uma boa pessoa? Arghhh... Sim, eu quis que o Tony se transformasse, mudasse, aprendesse a amar, se arrependesse, se rendesse. Talvez eu seja uma amante das "causas perdidas" (na literatura, que fique claro), dos
badboys durões que relutam em se apaixonar, dos homens poderosos que terminam vulneráveis, perdidos de amor. Mas como esquecer tudo que ele fez?
Arghhh...impossível? É uma luta constante entre o amor e o ódio.
Pode alguém que nunca foi amado aprender a amar?
Conhecemos mais do passado de Tony, ou Anton, e por mais que
nada justifique seu comportamento, nos ajuda a compreendê-lo um pouco, a entender seus sofrimentos e motivos, ainda que, repito, injustificáveis.
A estória não tenta nos fazer esquecer o mal que Tony causou, nem fingir que ele nunca existiu. A questão é,
pode Claire perdoar Tony e seguir em frente? Ou ainda, pode seguir em frente com
ele? Perdoar implica em nunca cobrar do perdoado a dor, a dívida ou o sofrimento causado. Diante de um certo fato que acontece com a Claire, como não entender sua decisão? Para os que a julgam, devemos lembrar que, sim, ela foi forte, resistiu, lutou e tentou até onde pôde. Do lado de cá das páginas é fácil pensar e agir com a razão, mas e do lado de lá e na situação em que ela se encontra?
"Perdoar é um dos mais nobres gestos de que é capaz o ser humano [...] Quem sabe perdoar, praticamente atingiu a perfeição" (Pe. José Artulino Besen)
Que o devido crédito seja dado a essa autora, ela
sabe como manter o leitor entretido, curioso e completamente dentro da trama. É daqueles livros que mesmo fora da leitura você se pega pensando na cena em que parou, com o coração apertado e uma sensação de que está vivendo aquilo. A leitura é cativante, apesar de nos dar a impressão de ser mais longa do que deveria. Admito que esperava um pouco mais, tendo em vista o primeiro livro, mas gostei do que li e de como a autora buscou sempre nos surpreender. Por mais que prevíssemos algo e pensássemos que já tínhamos resolvido as charadas, ela sempre nos trazia uma nova surpresa, um novo rumo, uma nova informação. Ela nos trouxe, inclusive, um vilão maior, o verdadeiro manipulador das peças desse jogo.
Argh, e como eu não queria que fosse essa pessoa!
É provável que os capítulos que envolvem a personagem Sophia sejam importantes para o terceiro livro, mas aqui eles foram bem entediantes. Sophia e Derek não me prenderam nem um pouco.
Em contraponto, ver Tony "evoluindo", tentando se controlar, se redimindo e se rendendo foi de aquecer o coração. A autora não o transforma em um anjo, nem tenta mudá-lo da noite para o dia, o que seria muito pouco plausível. As mudanças ocorrem paulatinamente e, não sem esforços, vemos Anthony lutando para ser menos controlador e tentar conquistar sua Claire.
Mal posso esperar para ler o desfecho dessa história, descobrir todos porquês e, apesar de já torcer para que Tony seja uma pessoa digna de perdão e de ser amada, espero que ele não me decepcione com nenhum erro, por menor que seja. Ele não pode ser menos que perfeito para que eu admita que, sim, merece a doce Claire, seu amor (e meu perdão!).