Nelson 04/06/2017
Não indicado para crianças
É complicado resenhar esse livro infanto juvenil de Sidney Sheldon. Qualquer argumento utilizado para classificar os acontecimentos no livro vão esbarrar com o fato de ser uma obra voltada a leitores que estão inciando sua jornada pela literatura. Então, comparei sua leitura com outros livros infanto juvenis para poder chegar a um resultado.
Em O Ditador, temos personagens estereotipados e situações inverossímeis em excesso. Toda a trama gira em torno de Eddie Davis, o ator que se passa pelo ditador e coronel Ramón Bolívar, enquanto esse se recupera de uma cirurgia. Por ser uma literatura infantil, é compreensível a escolha do autor em retratar a história dessa maneira, mas acredito que o público americano que queira reforçar estereótipos negativos sobre a América Latina, seja um alvo mais apropriado para engolir as besteiras escritas por Sheldon.
Apesar de muitos países latinos terem passados por ditaduras militares em algum momento, Sheldon não se preocupou em mostrar quaisquer aspectos culturais sul americanos. E o pior, é previsível que a população será libertada por um herói americano cujo simples fato de ter vivido em Nova Iorque, o torna capaz de distinguir o certo do errado. Talvez Amador seja uma alegoria a Cuba, mas como disse, apenas serve para reforçar estereótipos negativos da América Latina.
Outro problema da obra está em sua fragilidade na construção dos personagens. Não acredito que apenas por ser uma obra infantil, ela precise ser tão mal elaborada. A principal indicação disso são as obras nacionais desse tipo de literatura. Basta ler O menino no espelho, de Fernando Sabino, para saber que é possível fazer algo muito mais amplo para o público infanto juvenil.
A falta de qualidade na obra também se revela de outra maneira, ao menos na edição lida para essa resenha, posso afirmar isso sem medo. O projeto editorial parece um tanto confuso. Primeiro, porque suas dimensões são horríveis, resultando em um livro desajeitado de manusear. Segundo, porque as folhas brancas geram certa transparência com facilidade. E por fim, a qualidade da impressão é péssima, variando em letras fortes, por vezes até borradas, e nas páginas seguintes percebe-se a quantidade de tinta diminuir, até que volte a ficar forte e borrada novamente. Também desconfio de erros de pontuação, mas como não sou gramático nem nada, fico apenas na desconfiança.
Se eu tivesse que indicar uma obra literária a uma criança, com certeza não seria O Ditador. Temos autores infinitamente melhores fazendo obras infantis.