A Prostituiçao Na Idade Média

A Prostituiçao Na Idade Média Jacques Rossiaud



Resenhas - A prostituiçao na Idade Media


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Carla.Parreira 30/09/2023

A prostituição na Idade Média
A época envolvia a renuncia à riqueza e à propriedade, o desejo de se igualar a Cristo no sofrimento e na espiritualidade com o impulso para incentivar os outros a seguirem o exemplo, pregando e interpretando a verdade dos evangelhos. Tratava-se de uma vida verdadeiramente religiosa vivida no mundo, mas sem fazer parte dele. Substituiu-se a autoridade pelas escrituras visando a castidade pessoal. Maria, como um símbolo da virgindade foi um modelo poderoso de comportamento inspirador e emocionante. Foi com o recuso da igreja de reconhecer o sexo como algo natural do ser humano que levaram muitos a se tornarem hereges. Tratava-se de uma dissensão religiosa causada pelas condições e a psicologia da sociedade medieval. Surgiu assim a rejeição por todos os complementos do culto católico e todas as idéias baseadas na tradição, na elaboração acadêmica ou na autoridade da Igreja, tais como purgatório, orações pelos mortos e dias santos. Os mais letrados decoravam passagens da bíblia.
Em meados do século XII surgiu o Maniqueísmo, objetivando a supressão do que representava o mal dentro de si próprio. A matéria e o corpo eram reino do mal e o espírito do bem, surgindo com isso regras básicas centradas na repulsão da matéria (carne, sexo e dinheiro). Surgiu o Catarismo, ou seja, a veneração da pobreza, da castidade e da simplicidade sendo um compromisso com a busca cotidiana de pureza espiritual. O Catarismo se manteve como a principal ameaça interna para o catolicismo medieval. A igreja desenvolveu como reação a persuasão, repressão e a satanização. Os culpados eram excomungados e entregues as autoridades seculares para punição. Proliferaram manuais sobre a arte de pregar, concordâncias da bíblia para a preparação de sermões e coleções de historias morais. Se pregar ou ensinar não funcionassem, havia ainda a inquisição.
Havia as cruzadas donde as cidades inteiras eram pilhadas e queimadas, sendo sua população toda massacrada. A inquisição agia através de denuncias e em segredo, tendo em 1252 o direito de aplicar tortura posterior a extensos interrogatórios que tentavam persuadir os infratores a retratar-se. Para os que se arrependiam existiam inúmeras penitencias como jejum, flagelação publica e peregrinação, além de serem destacados com cruzes amarelas no vestuário. Muitos iam para a prisão perpetua ou eram queimados. Qualquer pecado tinha de ter punição pelo rigor do ascetismo religioso para atingir um estado de unicidade com Deus. As crianças nascidas de relações extraconjugais eram mortas imediatamente após o nascimento. O beijo em publico era obsceno e considerado como exemplo literal de satanização.
A flagelação conhecida desde os primórdios do cristianismo imitava os sofrimentos do Cristo e induzia Deus a perdoar seus pecados e poupá-los de um castigo maior. Até mesmo o cruzamento demográfico era heresia. A usura e avareza eram associadas como culto ao Diabo tendo a crença nos demônios que também faziam parte das historias populares. No final da idade média os intelectuais e pesquisadores passaram a acreditar que muita historia podia ser ilusões separando entre folclore, bruxaria, magia ritual e adoração ao Diabo. Cada vez mais tentavam definir o aspecto físico aparente do Diabo como alto, magro, escuro, hirsuto, com chifres, asas e casco. Com o aumento das acusações de satanismo, houve um acréscimo concomitante nas referencias de sexo ligado ao Diabo e nas acusações de orgias sexuais. Muitos passaram a crer na copulação feminina com o Diabo para obter poderes mágicos.
Os judeus compunham outro grupo perseguido pela igreja, pois passaram a serem vistos como responsáveis pela morte de Cristo. Penalidades eram impostas aos cristãos que jantassem ou se misturassem demais com os judeus e os casamentos mistos foram banidos. Quase invariavelmente era oferecida aos judeus a escolha entre o batismo e a morte.
Muito preferiam o suicídio. Acreditava-se que sem os judeus não poderia haver salvação para a humanidade, pois baseado na teologia de santo Agostinho eles tinham feito sua parte na difusão da palavra de Deus e assim a conversão deveria ser incentivada e facultada. Eles eram obrigados a assistir sermões dos mendicantes para compreender o erro do caminho que haviam escolhido. Onde os judeus estivessem, os frades intrometiam-se na vida religiosa deles, queimando livros, invadindo sinagogas e utilizando o medo para induzir os judeus a conversão. Passaram a serem comprados, vendidos, penhorados e trocados como qualquer outra propriedade tendo em 1230 o termo ?servidão judaica?.
As queixas contra os judeus se baseavam no seu exclusivismo e proselitismo. Varias peças, historietas e gravuras retratavam os judeus como seguidores do Anticristo e estes eram encarados como especialistas da magia. As atitudes tradicionais e costumeiras dos judeus eram vistas com suspeita e algumas delas tiveram de ser abandonadas. Uma suspeita popular presumia que os judeus obrigavam suas crianças a urinar sobre a carne antes de vendê-la para os cristãos. Passou-se a pensar que tudo em que um judeu tocava estava contaminado. Essas e outras histórias resultavam em violência. Eles também eram obrigados a usar roupas distintivas como questão racial. A usura praticada pelos judeus no empréstimo de dinheiro com cobrança de juros era grande pecado pela citação de Lucas no capitulo seis, versículo trinta e cinco: ?Emprestai sem esperar nenhuma paga?. Assim rejeitavam-se suas almas e recusava-se a lhes conceder enterro cristão. Todos esses desdobramentos levaram ao isolamento dos judeus, a sua segregação, rotulação e perseguição, sendo uma ameaça religiosa, moral, sexual e econômica.
Quanto às prostitutas, estas buscavam fregueses nas tavernas, praças, casas de banhos e até mesmo nas igrejas.
Existiam as zonas conhecidas como ?luz vermelha?.
?...Colher uma rosa era um eufemismo comum para copular com uma prostituta e a Rua da Rosa era geralmente um antro de meretrizes... Apenas 15% das prostitutas haviam abraçado a profissão por livre e espontânea vontade...?
Não importava a opinião da igreja, havia uma tolerância social generalizada da atividade sexual masculina pré-marital e extraconjugal no mundo medieval.
Assim, pela importância dos jovens adiar o casamento pelos estudos, permitia-se o uso de bordeis a partir dos dezesseis anos com a autorização explicita do rei Carlos VII da Franca em 1445. A prostituição passou a ser vista como um fenômeno social que precisava de regulamentação. A lei canônica distinguia a prostituição, como envolvimento sexual com muitos homens, do concubinato, que era a relação sexual frequente fora do casamento com uma determinada parceira. As prostitutas eram diferenciadas com vestes distintivas. A igreja colocava ênfase na perspectiva de regeneração e instava as prostitutas a casarem e abandonarem a profissão.
?...O papa Inocêncio III incentivou todos os verdadeiros cristãos a ajudarem a recuperar as prostitutas e ofereceu remissão dos pecados aos que se cassassem com tais mulheres. Foram criadas casas religiosas para prostitutas regeneradas...? Assim, também surgiu os conventos e cultos para as prostitutas regeneradas.
Mulheres grávidas, casadas ou freiras não podiam ser aceitas como prostitutas e não podia haver bordeis abertos em dias santos ou de festas religiosas. Nenhuma mulher podia aceitar o dinheiro do homem se não houvesse passado toda à noite com ele. Não podiam ser proibidas de desistir da profissão se desejassem bem como não podiam servir bebidas e alimentos aos fregueses. Não podiam residir no local, mas apenas trabalhar. As mulheres eram obrigadas a exames de saúde regulares. Os objetivos das regras era criar antros ordeiros e eficientes para satisfação sexual, que, na medida do possível não ofendesse a decência publica. Houve tentativas de restringir a prostituição reiterando os limites impostos como a área permitida, as horas do dia, a roupa usada e o comportamento esperado, mas as regras eram solenemente ignoradas e a prostituição prosseguia por toda parte em Paris.
?...Uma área, o Chapier, tornou-se tão notória que propiciou um apelido (clap) para uma doença sexualmente transmissível, a gonorreia... A Igreja também arrendava lucrativamente propriedades a mantenedores de bordeis e, próximo ao final da idade média, o papado faturava vinte e oito mil ducados por ano com os imóveis que arrendava com este propósito...?
Como um meio de eliminar um mal maior por outro menor, o governo procurou em 1403 construir ou comprar uma construção adequada para uso como bordel e recrutar prostitutas estrangeiras para trabalhar nele. Esperava-se com isso proteger as esposas e filhas respeitáveis do assedio da grande população masculina não casada. Enquanto as freiras eram tidas como mulheres celibatárias que imitavam a Virgem, as prostitutas eram vistas como mulheres públicas enclausuradas expiando o pecado de Eva ao serem obrigadas a satisfazer os desejos masculinos. As prostitutas que descumprissem as regras ou não atendessem bem aos fregueses eram açoitadas ou marcadas com ferro em brasa. A maior parte das habitantes do bordel municipal eram estrangeiras.
A igreja chegou a apoiar a prostituição justificando na sua preocupação com a pratica pecaminosa da masturbação, embora como os leprosos, a igreja privava as prostitutas de seus direitos civis. Eram consideradas como incapazes de serem vitimas de estupro. Com o passar do tempo a repressão a imoralidade sexual passou a ser mais forte tanto para católicos quanto para protestantes.
?... Por tudo isso, a prostituição era vista automaticamente como um aspecto necessário da sociedade, ainda que repulsivo, o qual tinha de ser tolerado por temor de algo pior...?
*
?...Elas não tinham apenas responsabilidade social, mas também encargo moral, pois sobre elas repousava em parte a defesa da ordem coletiva... A literatura do século XII fazia da prostituta uma auxiliar da família, mas, desejando marginalizá-la, não lhe reconhecia o direito de fundar um lar. Dois séculos mais tarde, as meretrizes solteiras ou casadas, penetravam no espaço cívico, confraternal ou familiar...?
As que se arrependiam podiam usar o dinheiro em beneficio dos pobres com doação para a igreja. Era uma maneira de se livrar dos pecados do sexo.
?...Ao aceitar a doação da prostituta a igreja reconhecia que esta agia por necessidade...?
Uma nota importante é que nesse livro fala sobre Christine de Pisan e sobre um livro chamado Apologie au dieu d?amour e também de outro chamado Dir de la Rose.
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