Fernanda631 05/07/2023
Como Dizer Adeus em Robô
Como Dizer Adeus em Robô foi escrito por Natalie Standiford e publicado em 2009.
Narrado em primeira pessoa, conhecemos Beatrice ou Bea, a Garota Robô. Prestes a cursar o terceiro e último ano do ensino médio, a história conta sobre esse período, numa escola totalmente nova já que a família está mudando para Baltimore. Mas isso não é novidade, por conta do trabalho do pai de Bea, que é professor universitário de prestígio, a família tem o hábito de não criar raízes em um lugar por muito tempo.
Bea mostra que não permanecer num mesmo lugar por muito tempo colaborou para a sua solidão, e ainda mais com a mudança de comportamento da mãe que começa a fazer coisas estranhas, como se maquiar no meio da noite, chorar o tempo todo e inventar uma doença nova a cada dia. Apesar da relação amistosa com o pai, o mesmo era ausente e negligenciava a filha e a esposa, muitas vezes transferindo a responsabilidade da esposa para a filha numa inversão de papeis da função pai e filhos. Mas a protagonista também tem seus momentos de crise, sofrendo de insônia, busca alguma forma de preenchimento durante as madrugadas sozinha no quarto.
Um dos pontos muito interessantes que a protagonista relembra antes de sua mãe ficar de acordo com ela “maluca” era do tempo em que as duas passavam assistindo filmes, e ainda mais, se fantasiando para reproduzir alguma cena. Por isso, há várias citações de filmes que merecem destaque.
Numa escola em que todos se conhecem desde sempre e já tem os seus “lugares fixos” Bea entra mais do que deslocada. A garota passa a ter contato com o colega Jonah, que chamam de fantasma, justamente por não se envolver com ninguém e criar laços de amizade. Ele é considerado o estranho da turma e fazem várias suposições por conta da sua aparência física e do acidente que matou sua mãe e irmão gêmeo quando ainda era criança.
Com isso, a atmosfera do livro se torna por muitas vezes melancólica, com raros momentos de alívio cômico. A impressão é que tem algo de muito errado com a Bea, sua mãe e seu amigo, se é que se pode chamá-lo, Jonah. Fugindo dos clichês, a autora optou por desenvolver o relacionamento dos jovens diferente do típico romance adolescente, não, a relação é ao mesmo tempo que profunda, distante. Na verdade achei o relacionamento dos dois muito bizarro em vários momentos, porque Jonah é complicado e senti que muitas vezes ele usava e manipulava Bea a fazer as suas vontades, e ela se frustrava esperando a mesma consideração que ela tinha por ele. Pensando melhor, acredito que esse seria um livro que seria legal ter os dois pontos de vista dos personagens principais para saber exatamente o que se passava na cabeça do garoto.
Um dos elos de ligação, além do próprio tom angustiante de suas vidas, é o programa de rádio que passam a escutar durante as madrugadas. O programa é uma espécie de talk show com interação do ouvintes que se sentem só durante as noites e acabam criando relações ao compartilhar o que sentem. Pessoas de diferentes idades e questões se comunicavam na rádio numa tentativa de aliviar as suas aflições. Lembra um pouco salas de bate-papo na internet, só que no caso da rádio não tinha uma preocupação em manter a identidade em total sigilo.
A narrativa é muito fluída, e alguns plot-twists na história que revelam questões mais profundas que ajudam na compreensão do comportamento de certos personagens, e são de cortar o coração. A autora desenvolveu outros pontos que nos deixam refletindo sobre o que poderia ser feito, se é que alguma coisa estaria no controle. Por outro lado, um dos pontos principais envolvendo o passado de Jonah me deixaram em conflito, não sei se é porque o fato me pareceu absurdo, mas não impossível, ou se a forma como ele aconteceu devesse ser retratado com mais profundidade e explicação. Por isso reforço que queria muito que o livro deveria ter a perspectiva dele, talvez a situação seria mais “aceitável” para mim.
É claro que a história possui características essenciais do high school norte-americano: as panelinhas, os romances, o bullying, o livro do ano, o baile e a formatura. Com certeza é uma leitura que agradará, por esses elementos, o público que está acostumado e que gosta dos livros do gênero Young Adult.
Com um toque melancólico, o livro conta a singular ligação entre Bea e Jonah. Eles ajudam um ao outro. E magoam um ao outro.
Como Dizer Adeus Em Robô é uma experiência sobre a experiência. Ao ler, você com certeza vai se lembrar de todas aquelas amizades e relacionamentos que foram extremamente marcantes, intensos e bons, mas que por algum motivo não se desenrolaram da maneira que você esperava. Ao abordar temas como depressão, amizade, socialização, personalidade e ainda contar com uma longa e incrível lista de referências culturais, esse livro é definitivamente uma peça importante na jornada de qualquer jovem que esteja descobrindo seu papel no mundo, mas principalmente, seu papel na sua teia de relações.